quinta-feira, 14 de março de 2013

o cidadão comum como um fantoche nas mãos da imprensa e da máquina de propaganda dos partidos


Chávez e Schumpeter


Escrevinhador

publicada quinta-feira, 14/03/2013 às 11:09 e atualizada quinta-feira, 14/03/2013 às 11:51



Por Igor Fuser, do Brasil de Fato

Se alguém ainda tinha dúvida de que os oligopólios da mídia operam em bloco na defesa dos interesses do grande capital, sugiro que busque alguma diferença entre as capas de Veja e Época com a imagem de Hugo Chávez. As duas revistas estampam fotos idênticas, com o mesmo recurso de luz-e-sombra para dar às feições do herói bolivariano uma aparência sinistra (logo ele, famoso pela sua simpatia!). Quanto ao conteúdo, as mesmas mentiras sobre a Venezuela. Em todo o papo-furado da mídia direitista, o que mais chama atenção é a insistência em chamar de “tirano” um líder vitorioso em todas as eleições de que participou, num país onde não existem presos políticos nem censura à imprensa. Lá os eleitores podem revogar o mandato dos governantes e o povo se organiza em conselhos comunitários para decidir sobre assuntos do interesse coletivo.

Por trás do discurso obtuso dos inimigos da revolução bolivariana,nota-se algo mais do que a evidente intenção de manipular a opinião pública. Simplesmente, os burgueses adotam uma visão de democracia que contradiz o sentido literal da palavra (“o poder do povo”, em grego). Quem melhor definiu a democracia existente no capitalismo foi Joseph Schumpeter (1883-1950), um dos mais influentes pensadores liberais. Para ele, a democracia da teoria clássica não passava de uma utopia. Na prática, deve ser apenas um método de escolha entre candidatos pertencentes às elites. Ao povo caberia apenas o papel de votar, de tempos em tempos, deixando aos figurões mais ilustrados das classes dominantes a participação política efetiva.

Nas palavras do próprio Schumpeter: “A democracia não significa e não pode significar que o povo realmente governa (…). A democracia significa apenas que o povo tem a oportunidade de aceitar ou recusar os homens que os governam”. Schumpeter via o cidadão comum com um fantoche nas mãos da imprensa e da máquina de propaganda dos partidos “razoáveis”, isto é, comprometidos com o capitalismo. A competição política, segundo ele, deve ocorrer dentro de um leque restrito de questões, de maneira a jamais colocar em jogo as estruturas da sociedade e os pontos de consenso entre as elites.

Relendo Schumpeter, fica fácil entender o ponto de vista de quem afirma que Chávez “abusou da democracia” (como disse um professor da FAAP, reduto universitário da elite paulistana, em debate na Globo News). Ao trazer para o primeiro plano da cena política a voz do povo venezuelano, silenciada em séculos de apartheid social, Chávez arrebentou os limites estreitos da “democracia” schumpeteriana e aproximou da realidade o ideal libertário do governo “do povo, para o povo e pelo povo”.

Igor Fuser é professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC).

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