quarta-feira, 1 de setembro de 2010

corre até a banca, mas essa ação não está na ZH

Ação dos Rigotto provoca bloqueio das contas pessoais de Elmar Bones e Kenny Braga

Luiz Claudio Cunha escreve, no Observatório da Imprensa, sobre a ação judicial movida pela família Rigotto contra o jornalista Elmar Bones (foto), editor do jornal JÁ e autor de uma premiada reportagem de quatro páginas sobre aquela que ela considera ser “a maior fraude da história gaúcha”, ocorrida durante o governo de Pedro Simon (PMDB): a licitação manipulada de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que trouxe um prejuízo de aproximadamente R$ 840 milhões aos cofres do Estado, segundo investigações realizadas na época (21 vezes maiores do que o escândalo do Detran).

O caso deu origem a uma CPI na Assembléia gaúcha. No final de 1996, a Assembléia enviou 260 caixas de papelão com documentos da CPI paraa o Ministério Público, dando origem ao processo n° 011960058232 da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública em Porto Alegre. “Os autos somam 30 volumes e 80 anexos e mofam ainda na primeira instância do Judiciário, protegidos por um inacreditável “segredo de justiça”. Em fevereiro próximo, o Rio Grande do Sul poderá comemorar os 15 anos de completo sigilo sobre a maior fraude de sua história, “escreve Cunha, que critica o total silêncio da imprensa gaúcha sobre o caso. Mas, se a tramitação do processo da CEEE é lenta, o mesmo não se pode dizer do processo contra Elmar Bones. Neste mês de agosto, o juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre, autorizou o bloqueio online das contas bancárias pessoais de Elmar Bones e seu sócio minoritário, o também jornalista Kenny Braga.

Luiz Claudio Cunha denuncia, com indignação e muitos dados, a tentativa de asfixiar Elmar Bones (segue a abertura do artigo e o link para sua versão integral no Observatório da Imprensa):

Agosto, mês de cachorro louco, marcou o décimo ano da mais longa e infame ação na Justiça brasileira contra a liberdade de expressão.

É movida pela família do ex-governador Germano Rigotto, 60 anos, agora candidato ao Senado pelo PMDB do Rio Grande do Sul e supostamente alheio ao processo aberto em 2001 por sua mãe, dona Julieta, hoje com 89 anos. A família atacou em duas frentes, indignada com uma reportagem de quatro páginas, publicada em maio daquele ano em um pequeno mensário (tiragem de 5 mil exemplares) de Porto Alegre, o JÁ, que jogava luzes sobre a maior fraude da história gaúcha e repercutia o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão de Germano.

Uma ação, cível, cobrava indenização da editora por dano moral. A outra, por injúria, calúnia e difamação, punia o editor do JÁ e autor da reportagem, Elmar Bones da Costa, hoje com 66 anos. O jornalista foi absolvido em todas as instâncias, apesar dos recursos da família Rigotto, e o processo pelo Código Penal foi arquivado. Mas, em 2003, Bones acabou sendo condenado na área cível ao pagamento de uma indenização de R$ 17 mil. Em agosto de 2005 a Justiça determinou a penhora dos bens da empresa. O JÁ ofereceu o seu acervo de livros, cerca de 15 mil exemplares, mas o juiz não aceitou. Em agosto de 2009, sempre agosto, quando a pena ascendera a quase R$ 55 mil, a Justiça nomeou um perito para bloquear 20% da receita bruta de um jornal comunitário quase moribundo, sem anúncios e reduzido a uma redação virtual que um dia teve 22 jornalistas e hoje se resume a dois – Bones e Patrícia Marini, sua companheira. Cinco meses depois, o perito foi embora com os bolsos vazios, penalizado diante da flagrante indigência financeira da editora.

Até que, na semana passada, no maldito agosto de 2010, a família de Germano Rigotto saboreou mais um giro no inacreditável garrote judicial que asfixia o jornal e seu editor desde o início do Século 21: o juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre, autorizou o bloqueio online das contas bancárias pessoais de Elmar Bones e seu sócio minoritário, o também jornalista Kenny Braga. Assim, depois do cerco judicial que está matando a editora, a família Rigotto assume o risco deliberado de submeter dois dos jornalistas mais conhecidos do Rio Grande ao vexame da inanição, privados dos recursos essenciais à subsistência de qualquer ser humano.

Afinal, qual o odioso crime praticado pelo JÁ e por Elmar Bones que possa justificar tanta ira, tanta vindita, ao longo de tanto tempo, pelo bilioso clã Rigotto? O pecado do jornal e seu editor só pode ter sido o jornalismo de primeira qualidade, ousado e corajoso, que lhe conferiu em 2001 os prêmios Esso Regional e ARI (Associação Riograndense de Imprensa), os principais da categoria no sul do país, pela reportagem “Caso Rigotto – Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas”. (A íntegra do artigo)

Nenhum comentário: