quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

pobre faz puxadinho, burguês faz reforma

O preconceito está na TV


A Globo até é mais profissional que a ainda e sempre provinciana RBS e não usar o mesmo palavreado, mas o conteúdo ideológico de mãe e filha é rigorosamente o mesmo.

Quando Luiz Carlos Prates dividiu no ar as pessoas em classes e decidiu que uma pode e a outra não pode – naquele infeliz comentário sobre os pobres e os carros -, não fez diferente do Jornal da Globo de ontem (disponível na íntegra para assinantes). Ambos representam o pensamento da elite preconceituosa e conservadora.

Christiane Pelajo chegou a mudar o tom de voz ao fazer a escalada do jornal – aquele início em que o apresentador lê os destaques do dia. Quando falou no aumento da venda de material de construção, o nojo transparecia no comentário de cunho pejorativo: “Brasil, o país do puxadinho”. Isso porque as classes que mais compraram material de construção foram as que antes não tinham acesso a ele, as classes C, D… É o pequeno consumidor, o que faz “puxadinho”.

Os do nível de Pelajo constroem, mas pobre faz “puxadinho”. As classes A e B fazem reforma, nunca aumentam a laje. A diferença na expressão utilizada demonstra o preconceito. Por que usar palavras diferentes para dizer a mesma coisa?

Qualquer melhoria na vida das classes “inferiores” é tratada com desprezo, como se elas estivessem tomando conta de algo que não lhes pertence.

A imprensa brasileira, neste caso representada pelo Jornal da Globo, tenta a todo custo manter as diferenças de classe, o status. Por isso o ódio do governo Lula, que subtraiu essa diferença, além de ele próprio ser um “pobre” de origem. Afinal, para a mídia, pobre não é condição financeira, é característica intrínseca, que por si só desmerece o cidadão, taxando-o.

Como pode depois querer condenar o preconceito da sociedade, tão exacerbado na última campanha eleitoral, se é ela a principal incentivadora?

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BAITASAR

Carreguei o computador para perto do rosáceo Professor.

O homem melhora a olhos vistos, mas continua com esse tom róseo.

As bolhas nos pés estão desaparecendo

"Baitasar procura notícias sobre a posse da vereadora Sofia na Câmara de Porto Alegre."

Informo ao Professor que foi tudo bem, a professora discursou bonito e deixou o seu recado para 2011

"E o que mais?"

Hoje, ela assumiu o cargo de Prefeita, o Prefeito entrou em férias

"Nâo acredito, guri, a professora de educação física da Escola Municipal Ildo Meneghetti é a Prefeita de Porto Alegre?"

Assim que eu confirmo, o Professor ergue a caneca e propõe um brinde

"Os professores e professoras deixaram de ser déficit zero!"

Mas o preconceito continua, digo ao Professor, ele me lembra que esse nome que damos - preconceito - é a nossa luta de classes. Quem estar por cima abafa, submete e ridiculariza quem está embaixo, reduzido à obediência do seu poder. Por isso Paulo Freire nos fala em educação libertadora, quem educa libertando liberta a si mesmo

"Guri, é só ler sobre os puxadinhos aqui em cima."

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