sexta-feira, 15 de abril de 2011

e no Peru(?) é como aqui(?) com a nossa imprensa não tem como saber

Zero Hora avermelha Ollanta Humala


Posted on 15/04/2011 by Iván Marrom

É de pouco conhecimento dos brasileiros as eleições presidenciais no Peru. Não fosse minha ligação com esse  país faceiro, jamais enfiaria meu nariz em uma questão política internacional com ideias tão contundentes, como muitos vêm fazendo. A começar pela própria imprensa independente e jornalistas de esquerda. Evidentemente, é de se comemorar o fato de Humala vencer o primeiro turno das eleições. Porém, saber a própria trajetória do candidato é obrigação antes de dar pitaco. De nada adianta reclamar da Zero Hora mas acreditar no discurso dela.

Mas como assim? O tal jornal do Grupo RBS vende a notícia de que o candidato Ollanta Humala tem fortes relações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Pra começar, deve-se desmistificar essa afirmação errônea, baseada tão somente em coincidências. Muitos optam por adentrar esse pensamento e defender Humala a partir dessa premissa. Mas em momento algum alguém tocou no assunto de que Humala era militar ativo no período ditatorial peruano, tendo lutado contra o grupo Sendero Luminoso – frente contrária ao regime na época.

Outro fator não levado em consideração é a análise do discurso do presidente venezuelano. Este chamou o candidato peruano de “bom soldado”. O mesmo Chávez que tanto elogiou nosso ex-presidente Lula (um pelego de galochas, diga-se de passagem), paparicado também pelo presidente do país mais odiado por ele, Barack Obama. É irrelevante, portanto, fixar-se em palavras soltas. Quando ela quer, bem que a Zero Hora consegue interpretar bem as palavras das pessoas.

Na matéria de domingo, dia 10 e abril, o jornalista Léo Gerchmann escreveu matéria no dia das eleições. O título? “Peru vota temendo o chavismo”. Poucas vezes li um título tão mentiroso. Duplamente mentiroso. Primeiro, por causa de tudo que já escrevi por aqui. Segundo, pelo desatino em afirmar que os eleitores votam temendo um novo Hugo Chávez. E isso pode ser comprovado pelo resultado das eleições, onde Humala venceu o primeiro turno.

Outra matéria, do dia seguinte, agora assinada pelo jornalista Luciano Peres, dá conta de todo o horror que é a vitória de Ollanta Humala. Começa assim: “O cenário tão temido pelo escritor Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, se confirmou no Peru”. Claramente o jornalista usa a imagem de Llosa para deixar sua ideia com bastante credibilidade. Vargas Llosa é outro que precisa ter o seu histórico estudado antes de ser usado para tais exemplificações.

Ambas as reportagens jogam muito verde contra o candidato Humala. Frases como “Semelhanças com Chávez são difíceis de esconder”, ou “Humala tenta se descolar do chavismo”, são bastante corriqueiras. Por outro lado, a outra candidata, a deputada Keiko Fujimori, sequer recebe comentário além da comparação com o seu pai (Alberto Fujimori, preso por violação dos direitos humanos). Eis uma das mentes mais reacionárias que já ouvi falar, inclusive. Keiko Fujimori defende diminuição da idade penal, mais contrução de presídios, e mantém seu discurso na base da segurança para o povo.

A cobertura jornalística da Zero Hora é pobre – por isso o resultado ridículo. Nenhum enviado especial foi até o Peru, e a “entrevista” com Humala foi feita via e-mail. Duvido da credibilidade dessa entrevista. Se houvesse um enviado especial, este, como bom jornalista, pegaria em Lima o mais novo ônibus, chamado Matropolitano. Iria até o final da linha, na zona norte limeña, no bairro Laranjal. Ao avistar os morros, num dos cenários mais pobres do país, veria letras “K” circuladas desenhadas no topo. K de Keiko. K de kompra de votos. Distribuir utensílios de cozinha na periferia é a prática da vez.

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