Zero Hora e a criminalização do MST
Somos andando
Pensei em escrever sobre o artigo de FHC que rendeu manchete da Folha e sua defesa de que a oposição deve atrair a classe média e desistir do povão. Ia falar sobre o conservadorismo que acompanha essa fatia da população e a necessidade de se garantir educação para contextualizar as informações historicamente e fomentar nas pessoas seu espírito crítico, quebrando com o falso moralismo que acompanha a ignorância. E aí não quero, de forma alguma, generalizar: não digo que a classe média é, como um todo, ignorante, que é falso-moralista ou trato ignorância como uma ofensa. Ignorância, no caso, é apresentada como falta de conhecimento, que leva a interpretações superficiais.
Mas eu dizia que ia tratar desse assunto. Aí liguei o computador, abri meus e-mails e encontrei umas quantas reflexões a respeito. Compreendi que Fernando Henrique havia conseguido um espaço ao sol – a mídia – de novo. Não que isso seja ruim – sempre que ele fala o PSDB encolhe -, mas não tem por que levantar a bola do rapaz de graça.
Prefiro, em vez disso, comentar duas coisas que vi na Zero Hora de hoje. Uma, na coluna da Rosane de Oliveira me surpreende pela capacidade de ao mesmo tempo exibir preconceito contra o MST e subestimar o governo e o secretário Ivar Pavan. Tudo isso em apenas uma frase de 32 palavras.
A crítica ao MST está em uma palavra, e é infundada. Quando Rosane diz que o movimento está sendo “belicoso”, ela inventa. O MST promoveu seu protesto pacífico, como o faz em todo mês de abril há 15 anos, desde que foram assassinados 19 trabalhadores no Pará, no episódio conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás. Neste ano, inclusive, foi enfatizado o fato de o crime continuar impune uma década e meia depois.
Integrantes do movimento ocuparam uma fazenda em Coqueiros do Sul e a entrada da sede do Incra em Porto Alegre. Nesta eu estive. Vi comida, música, crianças brincando e gente conversando. Em nenhum momento, agressividade. Com relação à ocupação das terras da família Guerra, é uma questão ideológica. Para mim, essa é uma forma legítima de pressionar o governo por ações que deveriam ter sido feitas há muito, se houvesse justiça social. Rosane discorda, o que não lhe dá o direito de adjetivar negativamente desta forma um protesto pacífico ou criminalizar os movimentos sociais.
Ainda na mesma frase, subestima a capacidade do governo de lidar com a situação. Ela está acostumada a governantes contrários à reforma agrária, que tinham como alternativa deixar que a ocupação continuasse ou jogar as forças policiais para cima dos trabalhadores, já que uma postura positiva, de negociar e acatar alguns pontos de reivindicação não era sequer cogitada.
A jornalista foi surpreendida pela rápida solução garantida pela postura ativa do governo, baseada no
diálogo. Tarso Genro mostra-se disposto a conversar e chegar à melhor solução, o que rompe com
possíveis barreiras que causas sem animosidade e impedissem a negociação. Ao apresentar uma proposta de esquerda, que atende as reivindicações, não há por que usar força ou manter a ocupação. Ou seja, nada daquilo que a colunista supôs.
A parte fala pelo todo
O cúmulo do absurdo foi o jornal publicar na manchete de capa, como conteúdo exclusivo, uma pesquisa realizada com os participantes do Fórum da Liberdade como representativa da opinião de todo o empresariado gaúcho. O problema nem é o tamanho da amostra – 154 participantes -, mas o recorte. O evento tem um perfil ideológico bem definido. Um perfil, aliás, que foi derrotado nas urnas por ampla maioria dos gaúchos nas últimas eleições. Como, então, fazer uma pesquisa em um nicho tão específico e fazer uma matéria que começa com a generalização “Os empresários e executivos gaúchos estão otimistas…”?
Mas eu dizia que ia tratar desse assunto. Aí liguei o computador, abri meus e-mails e encontrei umas quantas reflexões a respeito. Compreendi que Fernando Henrique havia conseguido um espaço ao sol – a mídia – de novo. Não que isso seja ruim – sempre que ele fala o PSDB encolhe -, mas não tem por que levantar a bola do rapaz de graça.Prefiro, em vez disso, comentar duas coisas que vi na Zero Hora de hoje. Uma, na coluna da Rosane de Oliveira me surpreende pela capacidade de ao mesmo tempo exibir preconceito contra o MST e subestimar o governo e o secretário Ivar Pavan. Tudo isso em apenas uma frase de 32 palavras.
A crítica ao MST está em uma palavra, e é infundada. Quando Rosane diz que o movimento está sendo “belicoso”, ela inventa. O MST promoveu seu protesto pacífico, como o faz em todo mês de abril há 15 anos, desde que foram assassinados 19 trabalhadores no Pará, no episódio conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás. Neste ano, inclusive, foi enfatizado o fato de o crime continuar impune uma década e meia depois.
Integrantes do movimento ocuparam uma fazenda em Coqueiros do Sul e a entrada da sede do Incra em Porto Alegre. Nesta eu estive. Vi comida, música, crianças brincando e gente conversando. Em nenhum momento, agressividade. Com relação à ocupação das terras da família Guerra, é uma questão ideológica. Para mim, essa é uma forma legítima de pressionar o governo por ações que deveriam ter sido feitas há muito, se houvesse justiça social. Rosane discorda, o que não lhe dá o direito de adjetivar negativamente desta forma um protesto pacífico ou criminalizar os movimentos sociais.Ainda na mesma frase, subestima a capacidade do governo de lidar com a situação. Ela está acostumada a governantes contrários à reforma agrária, que tinham como alternativa deixar que a ocupação continuasse ou jogar as forças policiais para cima dos trabalhadores, já que uma postura positiva, de negociar e acatar alguns pontos de reivindicação não era sequer cogitada.
A jornalista foi surpreendida pela rápida solução garantida pela postura ativa do governo, baseada no
diálogo. Tarso Genro mostra-se disposto a conversar e chegar à melhor solução, o que rompe com
possíveis barreiras que causas sem animosidade e impedissem a negociação. Ao apresentar uma proposta de esquerda, que atende as reivindicações, não há por que usar força ou manter a ocupação. Ou seja, nada daquilo que a colunista supôs.A parte fala pelo todo
O cúmulo do absurdo foi o jornal publicar na manchete de capa, como conteúdo exclusivo, uma pesquisa realizada com os participantes do Fórum da Liberdade como representativa da opinião de todo o empresariado gaúcho. O problema nem é o tamanho da amostra – 154 participantes -, mas o recorte. O evento tem um perfil ideológico bem definido. Um perfil, aliás, que foi derrotado nas urnas por ampla maioria dos gaúchos nas últimas eleições. Como, então, fazer uma pesquisa em um nicho tão específico e fazer uma matéria que começa com a generalização “Os empresários e executivos gaúchos estão otimistas…”?