As omissões e contradições da imprensa no caso do Daer
Somos andando
Não canso de me impressionar com a habilidade da nossa imprensa. É realmente admirável a capacidade que nossos formadores de opinião mais conhecidos têm de reinventar os fatos até torná-los verdade de novo, mesmo que tenham acontecido de outro jeito.
Nos últimos dias a estratégia foi atribuir uma corrupção de anos, quiçá décadas, ao governo que assumiu há menos de três meses. O esquema de favorecimento em licitações, pagamento de propina, entre outras irregularidades nos contratos do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) foi denunciado pelo repórter da RBS Giovani Grizotti, que passou meses apenas fazendo a apuração, as gravações com suas câmeras escondidas, segundo relato do próprio.
Mas, ao divulgar as denúncias já durante o governo Tarso Genro e camuflar a data em que a apuração foi feita acaba vinculando um crime antigo com um contexto atual. Isso, no meu dicionário, chama-se manipulação.
A estratégia continua com força nos jornais, em qualquer tipo mídia – quase todas, aliás, pertencentes ao mesmo grupo de comunicação gaúcho, que viola a Constituição ao possuir um conglomerado hegemônico e impedir a pluralidade de informação e opinião. O objetivo é atrelar as denúncias ao governo Tarso, vinculando ao PT – porque a crítica é sempre ao partido, não à coalizão governista – uma imagem de corrupção falsa.
A crítica à força-tarefa criada pelo governo é surreal. Entendo e faço coro a reclamações quando um governo não faz nada para estancar um esquema de corrupção. Mas, nesse caso, está sendo investida uma grande energia em uma articulação entre poderes para que se possa investigar, punir culpados e transformar a estrutura do órgão, para que não voltem a acontecer irregularidades. Nunca vi, pois, a imprensa criticar uma atitude de combate a uma corrupção herdada de outro governo.
Erra o governador ao tentar impedir a CPI – não que uma CPI sirva para alguma coisa, vide as pizzas já produzidas, mas pela contradição do discurso – mas erra a imprensa ao exigir a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito fazendo o cidadão crer que ela investigaria irregularidades do governo atual. Ou seja, faz crer que o governo Tarso é corrupto e deve ser investigado.
Em sua coluna de sexta-feira na Zero Hora, Rosane de Oliveira critica o governador por uma suposta “operação abafa” argumentando que não adianta uma força-tarefa com o envolvimento de diversos poderes se as conclusões da investigação não pautarem uma mudança efetiva. A jornalista faz juízo antecipado e, da mesma forma, antecipa a crítica do que ela acha que vai acontecer daqui a alguns meses. Baseia-se em uma observação de governos anteriores, mostrando que a impunidade corre solta sempre, para julgar esse. Esse governo que, em outras ocasiões, ela mesma diz que é diferente. Vai entender…