domingo, 26 de junho de 2011

quando uma coisa (hackers) não é outra coisa (crackers)... e você pagando? não é por falta de aviso

Jornalismo irresponsável mistura alhos (hackers) com bugalhos (crackers)

Cristina Rodrigues no Somos andando

Segundo o dicionário Michaelis, a palavra inglesa hacker quer dizer, em português:
1sl pessoa capaz de desempenhar uma tarefa de forma competente. 2Comp alguém que gasta muitas horas com o computador, operando-o por tentativa e erro sem auxílio de manual. 3Comp pessoa que usa seu conhecimento técnico para ganhar acesso a sistemas privados.
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Eu aprendi no curso de Jornalismo que toda informação deve ser checada. Isso vale para a menor notinha de canto de página. Quando a notícia dá manchete de capa, então… Faz-se isso porque o principal objetivo do jornalista é transmitir informação de qualidade, em que se possa confiar. É uma questão de respeito ao leitor, além de competência profissional.

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A capa de Zero Hora desta semana diz: “Hackers atacam site da Brigada” (disponível para assinantes), sob a cartola “Guerrilha virtual”, a respeito das ações recentes que tiraram do ar diversos sites no Brasil, incluindo o da Presidência da República, e que agora acessou informações da página da Brigada Militar gaúcha. No meio do texto, na página 27, são chamados de “piratas” os autores do “ataque tecnológico”.


Basta uma busca rápida no Google. Rápida mesmo, porque todos os sites dizem a mesma coisa: hacker age para o bem, elaborando ou modificando softwares e hardwares de computadores de forma legal; quem atua na rede para o mal, quebrando sistemas de segurança de forma ilegal e antiética, são os crackers. A diferença no nome pode ser pequena, mas o impacto real é enorme. Imagina a quantidade de hackers existentes no Brasil.
 

Gente que trabalha para proteger sistemas de empresas, que atua para desenvolver softwares, muitos militantes do compartilhamento do conhecimento, do software livre. E entram sempre – porque parece que a imprensa nunca aprende e vive repetindo os mesmos erros – no balaio dos invasores, dos ladrões virtuais, dos “bandidos”.

Tem até vídeo explicando a diferença entre hackers e crackers, mas não adianta. Na própria ZH (online) tem gente responsável atuando na área, como a Vanessa Nunes, que deu importante contribuição ao debate, mas essas pessoas ficam restritar a tratar do tema quando ele é bem específico. Não são consultadas quando vira matéria grande para o jornal. Não há diálogo.

Cito o exemplo da Zero Hora, mas ele pode ser auferido em praticamente qualquer grande veículo de comunicação brasileiro, daqueles que dizem que fazem jornalismo. É muito feio um jornal cometer um erro tão crasso e tão prejudicial na capa, na manchete. Na notícia principal.

Não sei se o fazem por preconceito, o que seria bastante pior, ou se por desconhecimento. Seja como for, o episódio reflete o mau momento do jornalismo praticado no Brasil – um momento um tanto comprido, diga-se. Não bastassem as distorções, propositais ou não, em temas políticos, revelando uma visão de direita proferida em uníssono, a nossa imprensa peca pela falta de qualidade no seu mais básico.


Falta conhecer minimamente do que se trata ao escrever sobre algum assunto. Falta compreender a realidade atual em sua complexidade. Falta tentar entendê-la.

É um jornalismo irresponsável, não consciente das consequências da informação equivocada que dissemina. Além do prejuízo direto causado aos profissionais hackers, esse tipo de notícia fomenta o medo dos programadores e desenvolvedores, que são confundidos (mais uma vez) com qualquer ativista digital, gerando um receio a qualquer atividade na rede para quem não conhece muito bem o seu funcionamento.

Acaba, no fim das contas, incentivando teorias que defendem restrições de acesso, aumento do controle, diminuição da liberdade e da privacidade. Fomenta iniciativas como o AI5 Digital e projetos de cerceamento da liberdade da rede.

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