terça-feira, 12 de janeiro de 2016

o jornalismo de hoje cabe na cabeça do vixinhu ou o vixinhu cabe... eles se merecem!

Jornalismos



11/01/2016






Deu curioso este verão em matéria de autocríticas e banzos jornalísticos.

Um muito pela angústia que sentimos – como cidadãos, mas em especial como profissionais – de ver “triunfar a nulidade” no jornalismo que se pratica hoje na grande mídia, uma espécie de “partido único” capaz de botar inveja à Coreia do Norte. Só que ao contrário, antigoverno e antipaís.

Um pouco por conta de um filme que todos comentam – e eu ainda não vi, só ao trailer – que conta a saga de uma equipe de repórteres do jornal Boston Globe que apura, durante meses, a pratica de pedofilia por padres da cidade, o Spotlight: Segredos Revelados.

De ambos, quase todos que li extraem a constatação de que o jornalismo que nos foi e é a paixão da vida se foi. Existe um novo, diferente, ao qual muitos de nós não teremos nem forças nem tempo de nos acostumar.

É pouco importante, porém, as coisas acontecem à medida do esforço humano, mas desprezando a humana pretensão de conduzi-las.

Semana passada, dia 4, completaram-se 38 anos desde que sentei-me a primeira vez em uma redação de jornal para trabalhar. É natural o cansaço, ainda mais quando a vida é trabalhar de segunda a segunda, sem sábado, domingo, feriado. Férias, que dirá?

Pode importar para mim, mas não importa para o processo social e o avanço social é a paixão inexcedível para um jornalista, como é a cura para um médico e a absolvição de um inocente para um advogado

Paulo Nogueira, hoje, no Diário do Centro do Mundo, comenta o desânimo do gente boa Xico Sá com sua paixão, a dizer que “aqui se despede o idiota que achou que jornal é feito para relatar minimante a realidade.”

Bobagem. Xico e outros fizeram, fazem e farão isso. E quando isso não couber mais num jornal havemos de inventar onde caiba.

Um -para meu orgulho – colaborador deste blog é de outra geração de jornalistas, mais velha que a nossa, tanto que foi meu – e de centenas ou milhares de meus colegas – professor, Nílson Lage.

Fala, também de suas mágoas.

Bobagem, peço respeitosamente para dizer. Pois senão ele não estaria diariamente no Facebook, com sua argúcia, sua sabedoria acumulada, sua coragem e suas palavras claras a lançar luz sobre tantas coisas para nós, seus ex-alunos e eternos aprendizes.

Transcrevo seu relato, com muita coisa do que ainda peguei, naquele janeiro de 1978 em que começou esta paixão que irá até a morte.

“Cada geração tem um depoimento. O da minha se perdeu por velhice e porque, na nossa ética, jornalista não era notícia.

Em suma, tínhamos um jornalismo retórico, dividido entre picaretas e tribunos, entre tomar dinheiro dos bicheiros e discutir os grandes problemas da humanidade – sempre dependente do dinheiro público e dos favores de governos, ou dos que investiam para ser governo. Nesse meio se fizeram grandes jornalistas, do Machado ao Lima, do Callado ao Graciliano.

Tentamos padronizar o estilo, objetivar o relato conforme a técnica universalmente adotada. Não tínhamos ideologia política definida – variava de um de nós para o outro – mas o que nos unia era esse compromisso com a realidade, fato e linguagem. A máfia – ancorada no Estadão, no Globo, nos Associados – resistiu e os militares ajudaram, em parte porque não entenderam nada.

As escolas de comunicação foram criadas por sopro de longe e por gente de fora, com o objetivo de emascular o jornalismo em sua vertente “quixotesca” – a nossa “idiotice da objetividade”. Só ingressamos nelas bem depois, quando, completados os ciclos básicos, constatou-se que alguém precisava falar de jornalismo.

Ainda na década de 1980, a congregação da Escola de Comunicação da UFRJ, dominada por “cientistas sociais”, negou-me redução de carga horária para cursar doutorado, alegando que, sendo mestre, eu já estudara muito para um jornalista (cursei o doutorado assim mesmo).

O que a geração seguinte encontrou foi a luta dos quixotes restantes contra moinhos. Quem movia as pás? A banca, que sempre socorre as empresas do ramo cobrando fidelidade? As agências de publicidade e seus líderes fascistas, os Mainardi e Hasslocker? As indústrias desnacionalizadas por força de uma política que objetivou desnacionalizá-las?


A grande mídia, hoje, é uma máquina de mentiras regional, engajada em uma máquina de mentiras global e que se esforça para superá-la em servilismo. Chegamos a um ponto em que mesmo o mais convicto nacionalista saúda como espaços de libertação o Facebook, o Google, a BBC, o Deutsche Welle…

Fui jornalista a vida toda. Tenho filha jornalista. Minha mágoa – e creio, a de poucos de nós que restam – é muito maior e mais velha do que a de vocês.

E a sua teimosia em ser jornalista, professor, também é maior e mais velha. Mas pode crer que a nossa vai chegar até aí.

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