Pela pluralidade da informação
Somos andando
A mídia brasileira costuma mudar de opinião com frequência, adequando-a a seus interesses. Daí surgem casos esdrúxulos em que situações semelhantes têm tratamentos diferenciados, seguindo a regra do “dois pesos, duas medidas”. Na comparação entre as posturas de Lula e Dilma, não haveria de ser diferente.
Lula sempre foi falante demais, e suas gafes eram constantemente criticadas. Foram as gafes de Lula, sua capacidade de adequar os discursos a cada situação e à relação que estabelecia na hora com cada público o que, fora do âmbito estritamente político, mais contribuiu para levar sua popularidade aos níveis recordes que chegou.
Dilma não é Lula. Reservada, não tem a mesma empatia com cada público. Não tem a mesma capacidade de improviso de Lula. São pessoas diferentes, estilos diferentes. Mas agora é a falta de gafes de que reclamam. A falta de improviso, a falta de discursos populares, as poucas aparições.
Nada disso significa que Dilma governará melhor ou pior que Lula, evidentemente. Mas ela está começando a fazer falta.
Nunca estive entre os críticos à postura de Lula, a sua identificação com o povo, então me sinto no direito de querer um pouco mais de Dilma. Isso de informar por notas, de aparecer pouco, de se manter excessivamente discreta não influencia na qualidade de sua gestão, mas seria interessante que uma presidente estabelecesse uma comunicação mais direta com seu povo.
Sinto falta da presença de Dilma. Sei o que ela anda fazendo, mas pouco do que ela anda pensando. Uma presidente de esquerda, com espírito democrático como o de Dilma, deveria se fazer presente para dialogar com os brasileiros.
Compreendo a diferença de estilo, e não espero que Dilma apareça e encante da mesma forma que Lula, mas, dentro do seu jeito, com sua postura mais formal e sua linguagem menos simples, ela poderia mostrar a cara.
O tempo ainda é curto. De empossada, apenas uma semana. Mas já desde o fim das eleições Dilma mostra-se discreta demais. Um pouco mais de debate cairia bem.
Já comentei que a internet possibilita a relação mais direta entre o brasileiro e a informação, diminuindo a necessidade – e a influência sobre a notícia – do intermediário. É óbvio que Dilma não vai tuitar as decisões de governo, mas ela está supervalorizando o intermediário da informação, que interpreta a notícia e a repassa ao público adaptada. Se Dilma aparecesse mais, as fontes de acesso às notícias aumentariam e conheceríamos os fatos mais genuínos, menos modificados. Ou pelo menos através de mais canais, com diversas interpretações. Mais plural.