Os que torcem para o fim da Revolução Cubana
por Paulo Jonas de Lima Piva
Fala-se muito da Revolução Cubana, mas poucos desses que a enaltecem ou a criticam estudam com dedicação a história de Cuba e, particularmente, o passo a passo do processo revolucionário iniciado em 1959. Muitos desses que falam aos borbotões contra a Revolução Cubana não conhecem a história desse povo, muito menos os detalhes das transformações protagonizadas por Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Raul Castro. Há, evidentemente, aqueles que são contra a Revolução Cubana já por princípios conservadores (por ideologia, em outras palavras). Estudar a história de Cuba e de sua Revolução, nesse caso, em nada mudaria uma posição de antemão já hostil.
De qualquer modo, lamentavelmente, muitas são as pessoas que torcem para o desmoronamento do regime cubano, muitos são os que comemoram cada vitória da lei de mercado sobre a frágil e solidária economia de uma ilha que, há 52 anos, iniciou um processo de transformações sociais que configuraram a geopolítica e as esperanças humanitárias do século XX. O pior é que entre esses torcedores está muita gente pobre, explorada, oprimida, assalariada, que se beneficiaria muito com os programas e as políticas lá implementadas.
O regime socialista cubano, vale lembrar, é fruto de um momento histórico bastante específico, o da Guerra Fria. E foi esse contexto ideológico e político em que a Revolução Cubana surgiu que condicionou toda a sua tática, sua estratégica e, principalmente, o modelo de sociedade que lá se tenta construir. Em outras palavras, a Revolução Cubana acabou, por força de circunstâncias concretas e implacáveis, atrelando o futuro do seu povo ao futuro do socialismo mundial, então capitaneado, até 1991, pela ex-União Soviética. O que Fidel, Guevara e Raul não podiam prever é que um dia os EUA e seus aliados, com os seus modelos liberais de sociedade, fossem vencer a batalha ideológica e, sobretudo, econômica, contra o mundo proposto pela Revolução Russa e pelo marxismo-leninismo. Derrotada historicamente, a revolução de perfil soviético sobrevive ainda hoje em Cuba. Entretanto, desde 1990, e mais precisamente desde 1991, quando a URSS se desfez, os governantes cubanos insistem, a duras penas, em fornecer ao seu povo toda a sua admirável rede de assistência social, que inclui saúde gratuita e de qualidade, educação, em todos os níveis, do maternal ao doutorado, também gratuita e de qualidade, além de água, luz, telefone, transporte público e remédios a preços subsidiados, por conseguinte, a preços irrisórios mesmo para o padrão salarial cubano, até uma cesta básica absolutamente gratuita a todos os cubanos e cubanas.
O Estado cubano, sem contar com a enorme ajuda da ex-URSS, não esta mais conseguindo manter essa enorme rede de proteção social existente desde 1959, a qual inclui também a criação de empregos para todos. Ela se manteve todo esse tempo graças, em especial, ao espírito espartano de Fidel. Seu afastamento do poder, aliás, coincidiu com as medidas liberalizantes tomadas pelo novo governo liderado por Raul Castro. Uma dessas medidas assustou não só os cubanos, mas também os simpatizantes da Revolução no mundo: a demissão paulatina de 500 mil funcionários públicos para que sejam, em tese, absorvidos pela iniciativa privada, a qual, diga-se de passagem, está muito presente na ilha. A propósito, o espaço que a iniciativa privada conquistou em Cuba nos últimos anos é, no mínimo, preocupante.
Outra medida tomada pelo novo governo mais recentemente e que mostra que o Estado cubano não tem mais recursos para manter o mesmo bem-estar que proporcionava para a população desde o triunfo da Revolução, foi a redução de mais alguns itens da cesta básica gratuita. Há dois ou três anos o cigarro e a batata haviam sido retirados da cesta, o que significa que passaram a ser vendidos. Desta vez foi a pasta de dente, que também deverá ser comprada, de agora em diante, no "livre mercado".
Imaginemos agora a situação de um cidadão cubano acostumado há mais de 50 anos a ter de graça todos os produtos básicos para a sua sobrevivência e que doravante se vê obrigado a pagar para ter muitos desses produtos. Imaginemos também um cidadão cubano acostumado ao pleno emprego e a uma legislação trabalhista socialista, que lhe garante inúmeros direitos, ter de conviver nesses novos tempos de liberalização com patrões e empresários utilizando-o como meio para auferir lucros, e que poderá ser demitido quando o "mercado tiver necessidade". Será que o povo cubano aceitará passivamente os efeitos colaterais desse destino liberalizante da ilha que fez uma das mais radicais revoluções igualitaristas da história?
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