segunda-feira, 21 de maio de 2012

Educação: ausências e deficiências


Círculo vicioso e perverso do ensino de baixa qualidade

(texto atualizado às 12:41h)

Editorial no SUL 21


Os resultados do concurso público de seleção para o quadro do magistério estadual e os resultados do levantamento anual do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, INEP, sobre o desempenho dos alunos deixou claro que algo de muito errado está acontecendo com a educação no Rio Grande do Sul. Foram 92,45% os docentes reprovados no concurso e são 20,7% os alunos anualmente reprovados no ensino médio no estado, o que constitui recorde nacional.
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Ainda que a alta reprovação de docentes em concurso não tenha ocorrido apenas no Rio Grande do Sul e a reprovação de alunos esteja dentro da média histórica do estado, o problema é grave e precisa ser enfrentado. Instituições universitárias, secretaria de educação e sindicato dos professores deveriam se unir para superá-lo. Além da baixa remuneração dos docentes, que é uma questão que precisa ser tratada com firmeza e honestidade por todas as partes envolvidas, também a melhoria da qualidade do ensino ministrado no Rio Grande do Sul precisa ser assumida como desafio a ser vencido por todos.
Há um circulo vicioso e perverso que precisa ser rompido. Como o ensino fundamental é de baixa qualidade, os alunos têm baixo desempenho também nos níveis médio e superior de ensino, o que os leva a mal ensinar e a reprovar seus alunos quando se tornam professores da educação básica e até superior. Não é apenas a remuneração dos docentes que é insuficiente, também são insuficientes os ensinamentos que os docentes recebem e que ministram em todos os níveis de ensino.
Basta um exemplo para que se demonstre a veracidade desta afirmação. Durante uma palestra realizada por uma professora de matemática de reconhecida instituição superior gaúcha para professores de matemática do ensino médio de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, ocorrida há poucos anos, foi formulada a seguinte pergunta aos presentes: “O que é maior 1/4 ou 1/6?”. A resposta, pronunciada quase em uníssono, foi a de que “1/6 é maior que 1/4”!
Se os professores não detêm conhecimentos básicos das áreas que lecionam é claro que não poderão transmitir ensinamentos adequados aos seus alunos.
A responsabilidade, entretanto, não pode simplesmente ser jogada sobre os professores da educação básica. Além dos baixos salários e das péssimas condições de vida de muitos alunos, que prejudicam o ensino e a aprendizagem, a responsabilidade pelo baixo desempenho dos docentes e pela baixa qualidade do ensino deve ser atribuída também às instituições de ensino superior, que formam os docentes do ensino fundamental e médio. É preciso que os currículos dos cursos de licenciatura deem maior atenção às especificidades de sala de aula e aos conteúdos a serem ministrados.
O estudo das diferentes correntes filosóficas, das fases do desenvolvimento infantil e da didática, por exemplo, ainda que fundamentais, não podem se sobrepor ao estudo dos conteúdos específicos que serão ministrados nas sala de aula. Um professor de matemática precisa aprender matemática antes de ensinar matemática, da mesma forma como um professor de português precisa aprender português antes de ensinar português e um professor de geografia precisa aprender geografia antes de ensinar geografia e assim por diante.
É a ausência destes conhecimentos específicos, além do desconhecimento das diretrizes estabelecidas para orientar a educação no país, que explicam, em última instância, a maciça reprovação dos inscritos no último concurso do magistério gaúcho. A inexistência destes conhecimentos se deve tanto ao fato de eles não serem ensinados a contento nas licenciaturas universitárias, quanto ao fato de o domínio destes conteúdos não ser cobrado dos professores que os ministram ao longo de suas carreiras.
Por estas ausências devem ser responsabilizadas tanto as instituições de ensino superior, que formam os docentes que ministrarão as disciplinas no ensino fundamental e médio, quanto as entidades de classe do magistério, que insistem em não permitir que os professores sejam avaliados em seus conhecimentos e desempenho em sala de aula.
A responsabilidade se estende também aos sucessivos governos estaduais do Rio Grande do Sul que não tiveram no passado e não tem no presente força e/ou vontade política para remunerar condignamente os docentes, para adotar, ao mesmo tempo, critérios de avaliação periódica e efetiva do desempenho dos docentes e dos seus alunos e para manter uma política constante de formação continuada dos professores em exercício, voltada para o trabalho que realizam em suas salas de aula.
Superar as deficiências salariais e educacionais do Rio Grande do Sul exigirá atuação conjunta dos cursos de formação de docentes, dos órgãos de classe dos professores e do governo estadual. Nenhuma destas diferentes instituições precisará abrir mão de suas convicções e especificidades, mas todas elas precisarão se unir para a construção de procedimentos que possam promover a melhoria da qualidade da formação, do desempenho e da remuneração dos professores no estado.

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