terça-feira, 4 de janeiro de 2011

e os eua apóiam arábia saudita, emirados árabes, israel... quem reclama(?)

WikiLeaks: Berlusconi e o caso Calipari



Por Waldyr Kopezky

Caro Nassif: queria ter levantado este assunto no post do advogado que defendeu Battisti (aliás, brilhantemente...), mas não deu. É mais uma história que expõe ainda mais os conceitos e bastidores por detrás das tomadas de decisão no âmbito diplomático mundial. Muito se cobra o Brasil por defender países que supostamente desrespeitam liberdades democráticas e Direitos Humanos (como Irã, Cuba e Venezuela) - mas cobrar os EUA por apoiar Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Israel a mídia não cobra, não é mesmo?

O texto é do redecastorphoto.blogspot.com, que reproduziu conteúdo do Vila Vudu:

Do embaixador dos EUA em Roma: “Berlusconi propõe ultrapassarmos rapidamente o assassinato de Calipari” Ou: Quando os italianos querem fazem SEMPRE algum "acerto"... (Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu)
sp;O FATO (Rivelacioni do WikiLeaks sul caso Calipari)Nicola Calipari é o agente do serviço secreto italiano que foi assassinado em março de 2005, quando transportava a jornalista Giuliana Sgrena, do jornal Il Manifesto, que havia sido seqüestrada, seqüestro reivindicado por terroristas jihadistas. As versões italiana e norte-americana dos eventos que resultaram na morte de Calipari apresentam várias diferenças, mas as duas versões elaboravam sobre a tese de morte acidental: num ponto de controle dos EUA em Bagdá, o Toyota dirigido pelo agente italiano foi confundido com um carro-bomba e recebeu mais de 400 tiros, um dos quais atingiu Calipari na cabeça, matando-o. A tese da morte acidental foi confirmada por vários testemunhos, inclusive da própria jornalista Sgrena, mas persistem as diferenças entre a versão oficial e a versão da Procuradoria italiana.
 
O telegrama WikiVazado: Viewing cable 05ROME1506IRAQUE/ITÁLIA: BERLUSCONI PROPÕE ULTRAPASSARMOS RAPIDAMENTE [ORIG. to put behind us] O ASSASSINATO DE CALIPARI   Reference ID Created Released Classification Origin 05ROME1506 2005-05-03 15:03 2010-12-20 21:09 SECRET Embassy RomeEsse registro é extrato parcial do telegrama original. O texto integral do telegrama original não está acessível.Tradução não oficial, para simples leitura.
031518Z May 05 / S E C R E T  ROME 001506 / SIPDIS SUBJECT: IRAQUE/ITÁLIA: BERLUSCONI PROPÕE ULTRAPASSARMOS RAPIDAMENTE O INCIDENTE CALIPARI – INQUÉRITO ITALIANO NÃO ENCONTROU RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

1. (S) RESUMO E RECOMENDAÇÃO: Pouco antes da divulgação, dia 2 de maio, do resultado do inquérito italiano sobre o assassinato dia 4 de março do agente de segurança Nicola Calipari num posto de controle e revista em Bagdá, o Embaixador, o Conselheiro de Defesa e Conselheiros Políticos Militares fomos chamados ao gabinete do primeiro-ministro Berlusconi, para recebermos cópia prévia do inquérito e ouvir a opinião de altos funcionários do governo italiano [orig. GOI] sobre encaminhamentos futuros. Os italianos destacaram que o governo italiano desejava ultrapassar rapidamente o incidente; que isso não abalaria nossa forte amizade nem nossa aliança, e que não afetaria o comprometimento dos italianos no Iraque. Os italianos disseram que, embora a cooperação que os norte-americanos deram aos italianos na investigação conjunta tenha sido total e absolutamente profissional, a Itália tinha de confirmar os resultados que os italianos encontraram na reconstrução do incidente de 4 de março. O inquérito italiano, disseram, concluiu que os tiros não foram intencionais e não era possível atribuir qualquer responsabilidade individual pelo tiroteio; assim sendo, era pouco provável que o inquérito viesse a ser convertido em processo criminal.

2. (S) RECOMENDAÇÃO (ver também parágrafo 9): Apesar de o inquérito dos italianos discrepar de muitas das descobertas e de parte significativa da metodologia do inquérito US AR 15-6 sobre o incidente, teremos mais vantagens se resistirmos à tentação de atacar item por item a versão dos italianos, e devemos pois continuar a deixar que as conclusões do nosso inquérito falem por elas mesmas. Embora o movimento instintivo nessa embaixada seja no sentido de defender os resultados do nosso inquérito e criticar o italiano, entendemos que as consequências de assim procedermos seriam assimétricas: é pouco provável que nossa crítica ao inquérito italiano tenha consequências negativas sérias para o governo dos EUA, se o governo italiano aparecer como desleal aos seus próprios funcionários – ou se aparecer como tendo agido apenas para satisfazer o governo dos EUA nesse assunto. Mas as consequências para o comprometimento do governo Berlusconi no Iraque podem ser severas. Assim sendo, recomendamos fortemente que todo o pessoal da comunicação do governo dos EUA [orig. “all USG spokespeople” confirme o relatório italiano 15-6 e evite qualquer crítica detalhada ao texto proposto pelos italianos. FIM DO RESUMO E RECOMENDAÇÃO.

3. (S) O Embaixador, o Conselheiro de Defesa e Conselheiros Políticos Militares fomos convidados ao gabinete do Primeiro-ministro dia 2 de maio passado, para receber cópia não divulgada do inquérito italiano sobre o incidente Calipari (4 de março), resultado da investigação conduzida conjuntamente com os EUA, e para conhecer a opinião de altos funcionários do governo italiano sobre o assunto. Presentes, do lado italiano, Fini (Ministro das Relações Exteriores), U/S Letta, PM Dip Advisor (equivalente à Agência Nacional de Segurança dos EUA e embaixador designado para os EUA) Castellaneta, Pollari, Chefe do SISMI, alguns de seus altos assessores, os dois investigadores italianos BG Campregher e Ragaglini, do ministério de Relações Exteriores. (Berlusconi não participou da reunião e, cremos, esteve ausente de Roma até a manhã seguinte.)

4. (S) Os italianos apresentaram os seguintes pontos:

-- O objetivo do governo italiano é que esse incidente não tenha qualquer efeito negativo em nossas excelentes relações bilaterais.
-- Especificamente, não deve haver qualquer efeito sobre o comprometimento dos italianos no Iraque.
-- O governo italiano deseja ultrapassar rapidamente o incidente e espera que o relatório do inquérito contribua para esse objetivo (ver adiante, explicação sobre como servirá a esse objetivo).
-- Um versão não sigilosa do relatório deve ser divulgada no website do governo italiano dia 2 de maio, com os trechos sensíveis editados [orig. “with classified sections redacted”]. O relatório do inquérito, completo, só será entregue ao primeiro-ministro Berlusconi, mas o governo dos EUA poderá obter cópia depois de Berlusconi tomar conhecimento dele.
-- Berlusconi discutirá o relatório no Parlamento na 5ª-feira, 5 de maio.
-- Seria útil que o presidente Bush telefone a Berlusconi na 4ª.-feira, de modo que o italiano possa dizer, no Parlamento, dia seguinte, que falou com o presidente sobre o assunto.

5. (S) Quanto ao próprio relatório do inquérito, os italianos dizem que confirma a tese do “trágico acidente” e destacam o seguinte:

-- O relatório diz que é impossível atribuir responsabilidade individual pelo assassinato.
-- Diz também que os investigadores italianos não encontraram qualquer prova de que o assassinato tenha sido intencional.
-- Esse último ponto visa especificamente a desestimular investigações futuras pelos Procuradores, uma vez que, pela lei italiana, eles podem investigar casos de homicídio intencional contra cidadãos italianos fora da Itália, mas não casos de homicídio não intencional. (NOTA: Nossos contatos alertam que os magistrados italianos têm má fama de ‘entortar’ essas leis, de modo a atender aos seus objetivos. Assim sendo, nada assegura que a tática do governo italiano funcionará, quanto a esse ponto.) Além disso, Castellaneta contou-nos mais tarde que o governo italiano conta com que os Procuradores aceitem a tese, porque, sendo o assassinato não intencional, não haverá base para alegar “excesso, em legítima defesa”.
-- O relatório italiano foi escrito com vistas aos advogados da procuradoria. Os italianos destacaram que as regulações 15-6 permitiram que se encobrissem algumas coisas na investigação conjunta, mas não outras, enquanto os magistrados italianos tinham objetivos mais amplos a serem atendidos.
-- O governo bloqueará tentativas de comissões parlamentares para abrir investigações próprias (a oposição sempre encaminha pedidos dessa natureza), sob o argumento de que as respostas desse relatório são suficientes.
-- O relatório está conforme os depoimentos de Sgrena [a jornalista de Il Manifesto], do motorista e do chefe do escritório em Bagdá do SISMI; isso é, está conforme a “reconstrução italiana” [orig. “the “Italian reconstruction” (aspas no original)] do incidente.

6. (...)[Não relevante]

7. (S) O Embaixador Sembler disse aos italianos que o governo dos EUA compartilha o desejo dos italianos, de ultrapassar rapidamente esse incidente e de não permitir que afete nossas relações bilaterais. Quanto a isso, é importante que o governo italiano não ponte dedos acusadores na direção dos EUA, e que não reclame de falta de cooperação. De nossa parte, corresponderemos. Fini disse que a Itália não poderia reclamar de falta de cooperação dos EUA; o relatório do inquérito italiano esclareceu que os investigadores italianos tiveram pleno acesso; que recomendaria a Berlusconi que destacasse esse fato no Parlamento, dia 5 de maio. Ragaglini e BG Campregher foram efusivos sobre a cooperação “total e completa” que receberam dos investigadores dos EUA, incluído o pleno acesso a todas as provas. (...)

8. (S) Os italianos estão visivelmente insatisfeitos quanto às partes secretas do USA 15-6 que foram tão facilmente postadas na internet antes de serem “editadas” e pediram explicações ao embaixador. Não insistiram depois que o embaixador explicou que não passara de erro técnico. Os italianos disseram que removeram de Bagdá o comandante do SISMI local, cujo nome foi revelado na versão “não editada” do 15-6; ele não retornará.

9. (S) Recomendações da embaixada para os próximos passos imediatos:
-- O Conselho de Segurança Nacional deve tentar agendar o telefone de Berlusconi ao POTUS [President Of The United States], na 4ª.-feira.

-- A reação pública do governo dos EUA, por hora, deve limitar-se a “Acabamos de receber o relatório do inquérito italiano e estamos examinando”. (A imprensa italiana vasculhará tudo furiosamente, e de nada nos servirá contestar um a um os itens do inquérito, pelo menos nesse momento, embora possamos vir a querer fazê-lo mais tarde, sem alarde [orig. backgrounders], em Bagdá, Washington ou Roma.)

-- O Departamento [de Estado] deve considerar um telefonema ao secretário de Estado Fini nos próximos dias, para confirmar que partilhamos o desejo da Itália, de superar rapidamente o incidente.

10. (U) Tradução informal, feita pela Embaixada, das Conclusões do Relatório do Inquérito italiano:
“Os representantes italianos – baseados nas evidências que puderam reunir – não encontraram elementos que comprovassem que os fatos indicam assassinato deliberado.

É hipótese realista que a tensão vivida pelos soldados, uma certa inexperiência e o estresse podem tê-los levado a reagir instintivamente e com pouco controle.

A falta de referências formais a regras claras a serem observadas torna problemática a atribuição de responsabilidade pessoal específica.

As afirmações da Sra. Sgrena, do motorista do carro e do chefe do serviço do SISMI em Bagdá podem ser consideradas plausíveis e verdadeiras. Conforme a análise geral, a reconstrução é coerente e plausível.” ---

FIM DA TRADUÇÃO INFORMAL FEITA PELA EMBAIXADA, DAS CONCLUSÕES ---
11. (U) Assim se dá por resolvida a minimização de Bagdá [orig. Baghdad minimize considered]. [assina] SEMBLER

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