segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

proprietários rurais e grileiros é a mesma coisa no Pará

Famílias são despejadas ilegalmente na noite de Natal

Sakamoto
Abaixo, denúncia encaminhada na virada do ano pelo frei Henri des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra em Xinguara, no Sudeste do Pará. A CPT afirma que irá acionar a Ouvidoria Agrária Nacional, a presidência do Tribunal de Justiça e o Ministério Público para que o caso seja apurado:

“No dia 25 de dezembro, por volta do meio-dia, sete homens encapuzados e fortemente armados despejaram 45 famílias do Acampamento São José, localizado na fazenda Cruzeiro Novo, distante 20 quilômetros da Vila Alacilândia, no município de Conceição do Araguaia (PA). A fazenda tem como suposto proprietário Milton Gomes de Oliveira, deputado estadual do Estado da Bahia.

De acordo com informações dos acampados, quem comandava ação ilegal eram: um capitão da Polícia Militar de nome “Seade” e um policial civil de nome “César”, ambos lotados em Conceição do Araguaia. As famílias foram expulsas para fora da fazenda e homens armados passaram a fazer vigilância na propriedade para impedir a volta dos trabalhadores.

Embora o juiz da Vara Agrária de Redenção, tenha concedido uma liminar, em 25 de novembro, em favor do fazendeiro, o grupo armado sequer esperou que o juiz determinasse a ida de um oficial de justiça ao acampamento, acompanhado de policiais militares para o devido cumprimento da ordem judicial, conforme determina a lei.

A liminar deferida pelo juiz em favor do fazendeiro, contraria uma recomendação do Tribunal de Justiça do Pará que orienta todos os juízes das Varas Agrárias a realizarem audiências de justificação prévia, com a presença do Incra, antes de analisar o pedido de liminar. O juiz não observou a recomendação do Tribunal ao qual é subordinado.

Informado do interesse do Incra em desapropriar o imóvel, no dia 16 de dezembro passado, em uma reunião em Redenção, o Ouvidor Agrário Nacional, Gercino Silva, determinou que a Ouvidoria oficiaria ao magistrado da Vara Agrária de Redenção, solicitando a designação de uma audiência de conciliação no bojo da ação de reintegração de posse da fazenda Cruzeiro Novo, dessa vez com a presença do Incra, e que, solicitaria ainda, a suspensão do cumprimento da liminar até a realização da referida audiência.

Há nove meses, que as famílias encontravam-se acampadas nas proximidades do limite da propriedade aguardando que o Incra avaliasse as condições do imóvel e se seria viável para a reforma agrária. O fato de o despejo ter sido realizado em dia de feriado de Natal e sem a presença de um oficial de justiça com o devido mandado do juiz, são indícios de que policiais civis e militares de Conceição do Araguaia poderão ter agido fora da lei para favorecer o fazendeiro e deputado no Estado da Bahia.”

Proprietários rurais ou grileiros que acreditam deterem o monopólio de violência em regiões em que o poder público é cooptado, subjulgado ou parceiro do poder econômico, têm licença para fazer o que querem no Pará. Pois possuem a certeza de que, na esmagadora maioria das vezes, só peixe pequeno é pego. O que, convenhamos, não é exclusividade de crimes agrários no Brasil. A condenação dos pecuaristas Bida e Taradão, mandantes da execução da irmã Dorothy Stang, levou a uma mudança de paradigma? Nem de perto. Está distante o dia em que o Estado fará com que essas pessoas saibam que também estão sujeitas aos rigores da lei. Por enquanto, ele está mais preocupado em garantir o direito da produção se expandir a qualquer custo, passando por cima de qualquer um. O Brasil será o celeiro do mundo e a Amazônia seu pasto. Quem for pedra no meio do caminho do crescimento rápido, vai ser retirado de lá com a anuência pública – oficial ou extra-oficial.

Não gosto da justificativa de um “Estado ausente”, que causaria toda essa violência. O Estado está muito bem presente na região – basta olhar as placas de financiamento público que enfeitam a paisagem das mesmas fazendas acusadas de crimes contra a dignidade humana. Mas é atua como um restaurante “self-service”, em que os mais poderosos escolhem o que lhes agrada – dinheiro, por exemplo. A parte de respeito aos direitos? Ah, vá! Esquece…

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