As cascas de banana no debate educacional

Todas essas parecem ser questões óbvias, mas, muitas vezes, o que é apresentado como “óbvio” torna-se um pouco menos óbvio quando considerado dentro de um contexto. A falácia fundamental do debate sobre a meritocracia – e sobre os critérios de avaliação que constituiriam a base do “mérito” – consiste em eliminar do debate o processo de sucateamento e privatização da Educação, atribuindo a principal parcela de responsabilidade sobre os problemas de ensino nas costas de professores mal pagos e superexplorados. Seria de rir se não fosse trágico e cínico. Exigir boa formação dos professores é uma obviedade. Também o é dizer que a formação de um bom professor começa já nos bancos escolares, com o contato dos estudantes com professores que servem de exemplo profissional e de vida.
Em muitos casos, o exemplo que nossos estudantes têm hoje é de um profissional estressado, angustiado, correndo de um lado para o outro para sobreviver. Virou tarefa de gincana encontrar um adolescente que, perguntado sobre o que quer ser quando crescer, responde: professor. Isso nem sempre foi assim. Escola pública já foi sinônimo de qualidade – e ainda é, no caso do ensino superior – e ser professor, professora uma condição almejada. Essa condição passada também não caiu do céu, tem uma raiz histórica que remonta à Revolução Francesa. Os ideais republicanos da igualdade, liberdade e fraternidade materializaram-se, entre outras coisas, na construção de uma rede de educação pública de qualidade que influenciou todo o mundo. Essa escolha revolucionária só virou realidade com muito suor e sangue.
O discurso que afirma que o problema da educação pública é “de gestão”, que requer métodos gerenciais mais “eficazes”, da iniciativa privada, é ideologia pura. É o mesmo discurso que, ao mesmo tempo em que prega a redução do Estado, critica a ineficiência do Estado sucateado por suas políticas. É o discurso que tem aversão ao público a não ser quando ele pode servir como uma nova fonte de lucro. É o discurso de quem criminaliza diariamente a política, o Estado e os servidores públicos. No Chile, milhares de estudantes e professores estão nas ruas contra esse modelo que, naquele país, foi aplicado em sua quase totalidade. Resultado: mesmo a educação pública é paga no Chile. Muita gente sonha em implementar esse modelo no Brasil. Esse é o centro do debate. Não a meritocracia e outras cascas de banana jogadas no chão.
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