quarta-feira, 16 de julho de 2014

“confesso que esperava mais problemas na organização, errei”


Copa do Mundo derrotou a velha mídia; Brasil precisa de uma CPI do futebol


publicada terça-feira, 15/07/2014 às 18:47 e atualizada terça-feira, 15/07/2014 às 18:27



Escrevinhador



Dentro de campo, a derrota por 7 x 1 cria a chance de passar o futebol brasileiro em revista. Uma CPI do futebol é necessária. Uma CPI que mostre por que os clubes são reféns da Globo e da CBF. A Copa derrotou a mídia. Esse é um legado que não deixaremos que o povo brasileiro esqueça. 



por Rodrigo Vianna

O maior legado da Copa do Mundo é intangível. É a imagem favorável que o Brasil deixa para o Mundo. Não há como calcular isso em dólares, euros, reais.“Ah, gastamos 25 bilhões com a Copa; mas o que os turistas deixaram por aqui não paga os estádios”.

Isso é conta de armazém. Não é conta que se faça num país que hoje ajuda a articular o bloco dos Brics, país que é uma das maiores economias do Mundo e que detem reservas de petróleo e água gigantescas, estratégicas para o Planeta (ainda que São Paulo esteja às portas da mais grave crise de abastecimento da história, por falhas absurdas de gestão e planejamento).

Sim, queremos Educação de mais qualidade, Saúde pública de mais qualidade. E isso só se alcança com um país mais forte, com mais Estado e mais intervenção do poder público. A Copa não atrapalha. Ao contrário, ajuda a construir um país mais forte, mais respeitado, capaz de colaborar na construção de um mundo melhor.

A turma que berrou #NãovaiterCopa finge que luta por Educação/Saúde, mas na verdade quer um país fraco, um Estado menor e mais submisso às regras do chamado “mercado”.

Ora, bolas: “mercado” é a Globo mandar no futebol, estabelecer jogos às 22 horas, tratar os clubes como o cafetão trata as moças da vida. É um desrespeito absoluto. Alemanha, Estados Unidos, Argentina: nesses países o “mercado” não manda sozinho no esporte. Há regras, estabelecidas pela sociedade e pelo poder público. E não por uma família (os irmãos Marinho) que ficou bilionária às custas de sugar o futebol - patrimônio do Brasil.

Comentaristas tresloucados, como o ex-cineasta que se expõe ao ridículo nas telas e nas ondas de rádio globais, berravam que a Copa mostraria ao mundo o fracasso do Brasil como país. Quebraram a cara, de forma avassaladora. Foram surrados pelos fatos.

Pesquisa DataFolha acaba de apontar que 83% dos turistas que vieram ao Brasil aprovaram a organização da Copa. Aprovaram os transportes, os aeroportos, e em menor medida as Comunicações.

Hum, é curioso. As Comunicações (internet/telefonia), dos setores avaliados na pesquisa, é o único gerido pela iniciativa privada, pelo chamado “mercado”. E a pior avaliação é justamente nas Comunicações.

Ou seja: cai por terra também a teoria de que o Brasil avança quando a iniciativa privada é deixada livre para agir.

Temos problemas de gestão. Sim. O Brasil precisa melhorar a gestão no setor público. E também nas corporações privadas. Ou somos bem tratados pela NET, OI, TIM, VIVO, BRADESCO, ITAÚ e pelos planos de saúde?

Ineficiência precisa ser combatida. Sim! Mau uso do dinheiro público deve ser denunciado. Sempre. Assim como os abusos das grandes corporações privadas.

Essa Copa foi um sucesso por dois motivos: 1) o povo brasileiro é muito melhor do que sua elite, é gentil, sabe receber, abre sua casa para os convidados de forma acolhedora (e quem viaja pelo interior do país sabe que isso é ainda mais forte quando se viaja para longe dos grandes centros); 2) temos Estado, temos poder público – sim – capaz de gerir um evento tão complexo como uma Copa do Mundo.

A velha mídia brasileira vai demorar pra se recuperar da vergonha a que foi submetida pelos fatos. Ontem, eu ouvia no canal ESPN um desses comentaristas que parecem ter a fómula genial para tudo: um tal Mauro Cesar (não lembro o sobrenome)… Na véspera da Copa, ele vociferava contra o evento e falava na “vergonha” que o Brasil ia passar. Ontem, o tal Mauro fez um “meaculpa” bastante discreto: “confesso que esperava mais problemas na organização, errei”.

Muito bem, o Mauro pediu desculpas. Os outros por aí não pediram. Mas o que essa turma fez ao longo dos meses que antecederam a Copa jamais será esquecido.

A campanha eleitoral talvez seja um bom momento para mostrar isso de forma didática ao Brasil: há um pedaço do país, comandado pelos grupos de mídia tradicional, que torce contra o Brasil. Eles não diziam que a Copa seria um fracasso, não tocaram o terror em comentários e manchetes? Foram desmentidos pelos fatos. Portanto, não acredite mais no que eles dizem…

Esse, sim, talvez seja o maior legado da Copa: a derrota vergonhosa (muito mais vergonhosa do que a goleada de 7 x1 para a Alemanha) sofrida pela velha mídia brasileira.

O consórcio midiático – formado por Globo-Veja-Folha e outros sócios menores -sai mais fraco do que entrou.

Dentro de campo, a derrota por 7 x 1 cria também a chance de passar o futebol brasileiro em revista. Uma CPI do futebol é necessária. Uma CPI que mostre por que os clubes são reféns da Globo e da CBF.

A turma midiática agora vai tentar assobiar e mudar de assunto. Passarão a fazer terrorismo com a economia brasileira. Não acreditem!

O Brasil tem, sim, dificuldades reais na economia, que precisam ser enfrentadas. Mas não podemos ser pautados, nesse campo, pelo mesmo bando de mentirosos que tentou enganar você, eu, nossos filhos – criando um clima de “caos na Copa”.

A Copa derrotou a mídia. Esse é um legado que não deixaremos que o povo brasileiro esqueça.

Por último, duas observações:

1 - É uma vergonha que a presidenta Dilma não tenha feito esse debate antes. Deixou para falar sobre a Copa na véspera; errou feio.

2- Aqueles que tomaram para si a defesa da Copa talvez tenham errado também ao não apontar problemas no evento.

Humildemente, cito aqui dois problemas: número de cidades-sedes excessivo (com falta de projetos claros para algumas arenas no pós-Copa), e a elitização nos estádios, com uma torcida patética. Esse governo, acusado de criar tantas bolsas, poderia ter exigido da FIFA que ao menos 20% dos ingressos fossem vendidos ao Estado brasileiro – que depois repassaria os bilhetes, a preços muito mais baixos, a partir de critérios sócio-econômicos pré-estabelecidos.



Leia outros textos de Palavra Minha

Nenhum comentário: