quarta-feira, 9 de julho de 2014

"Confesso, porém, que estou abalado."


Do mitológico Maracanaço ao triste Mineiraço



Postado por Juremir Machado

9 de julho de 2014


Agora podemos entender o que os nossos pais e avós sentiram em 1950 quando fomos derrotados pelo Uruguai no famoso Maracanaço. Não, é muito pior. Fomos humilhados. Perdemos sem dignidade. Adoro futebol. Mas raramente fico muito triste por causa de um resultado. Levo na boa. É só um jogo. Confesso, porém, que estou abalado. Uma tristeza enorme foi tomando conta de mim durante o jogo. Cheguei a pensar em tomar um calmante. Uma sensação de prostração, de paralisia, de desencanto. Nunca achei essa nossa seleção grande coisa, mas acreditei, quis acreditar, apostei na tradição, na fantasia, em tudo. Sem Neymar, ficou difícil. Felipão errou na convocação, na escalação, no substituto de Neymar, nas escolhas.

O Brasil não faz bem ao Brasil. Depois do Maracanaço, o Mineiraço.

Fico com vontade de me consolar com o pior dos clichês:

– Não merecíamos tomar 7.

Ontem, antes de jogo, tentei esbanjar otimismo. Era falso. Era verdadeiro. Queria sonhar. O Brasil mergulhou tanto no Mundial que foi conquistando todo mundo. Só os mesquinhos estão contentes. Claro que podemos aproveitar para liberar nossos ressentimentos e dizer bem-feito para a canalha da CBF, esse Marin e seus parceiros, bem-feito para a Rede Globo, que se adonou da Copa, bem-feito para o Felipão, inventor da motivação pelo coice. Mas, bem pensado, não. Que pena! Apesar desses todos, que pena! Ver as crianças chorando dói. Teremos uma geração de traumatizados. Esses alemães não tem a menor noção de etiqueta. Onde se viu humilhar o anfitrião! Brinco. Estou desolado.

Mais do que isso, estou chocado, arrasado, infeliz.

O que houve? Passaremos a vida tentando entender. Escreveremos livros para tentar explicar a nossa maior derrota de todos os tempos. Lembraremos que no segundo tempo da partida, apesar de tudo, chegamos umas seis vezes na cara do gol, mas só fizemos um. Convocaremos psicanalistas, sociólogos e antropólogos para analisar o ocorrido. Permaneceremos no mistério. Superamos, enfim, o Maracanaço. Quantas décadas levaremos para suplantar o Mineiraço? Devíamos ter fugido de Minas Gerais. Foi lá que caiu o viaduto. Era tarde. Muito tarde. Lacerdinhas soltaram rojões. Esperam que essa derrota se reflita na próxima pesquisa eleitoral. Não chorei. Choro pouco. Senti vontade.

Fomos o país do futebol. Era o nosso orgulho. Neste momento somos o país do maior fiasco da história de uma grande seleção de futebol. Tomar sete é coisa de time amador. Resultado de antigamente. Sofremos, de fato, um apagão. Continuamos no escuro. Torcerei pela Argentina e pela Holanda. Sou vingativo. Quero que argentinos ou holandeses massacrem esses alemães. Tão cedo, pelo jeito, nós não faremos isso. Um ciclo termina. O que seremos daqui para frente? Não sei. Finalmente os europeus se vingaram da nossa petulância de ganhar tantos títulos. Jogaram muito melhor. Mesmo assim, nem eles devem ter entendido o que aconteceu.

O Mineiraço ficará em nós como uma tatuagem lembrando-nos para sempre desse grande fracasso. Por quê?

Muitos serão os culpados. Felipão será sempre o primeiro. Cada um tem as suas vaidades. Felipão quis ser outro, ir para dentro dos alemães, não ser retranqueiro, reatar com o mito do futebol brasileiro ofensivo. Apostou no tal menino com alegria nas pernas. Abriu-se pelas pontas. Despovoou o meio. Entregou-se docilmente.

A questão eterna será: se Neymar tivesse jogado seria diferente?

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