quinta-feira, 25 de novembro de 2010

blimunda

Precisamos ler Saramago

Mauro Marques

Lendo os dois post a seguir (Balaio do Kotscho) e o post do luis nassif, mantenho minha convicção que as pessoas precisam ler Saramago, para não se limitarem aos e-mails citando uma ou outra de suas frases, retiradas do contexto de seus textos.

Não simplifiquemos tudo num espetáculo televisivo de baixa qualidade. Está parecendo que não queremos ler além das resenhas.

Eu não quero ficar sem apetite de humanidade ou muito medroso. Fujo dos livros de auto-ajuda.

Auto-ajuda para o quê? Seguir forte e impávido sobre os cadáveres que vou deixando pelo caminho?

Não vou lhes sugerir por onde começar, mas posso lhes contar por onde comecei, A Caverna.

Quando terminei eu queria ler o seguinte, Ensaio sobre a cegueira, e depois quis ir para o próximo, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, e o outro, Ensaio sobre a lucidez... até que cheguei a leitura do Memorial do convento, a perfeição singela, a força e a determinação da mulher.

Quantas Blimundas estão espalhadas por esse mundo de iniquidades?

Tentem, eu continuo lendo Saramago e procurando descobrir o que está fora do lugar. Dói. A gente se descobre o único responsável pelos próprios enganos.

Papas, presidentes, tiranos, deuses simbióticos da televisão, todos perdem importância para as nossas próprias descobertas de uma humanidade solidária, amorosa... construída com todos incluídos num mundo menos elitista, preconceituoso, autoritário e desigual.


Tenho a impressão, lendo alguns e-mails cínicos, que os miseráveis estão fora do seu lugar histórico de borrões da paisagem, os negros e a sua fuga não autorizada da senzala ainda não foram perdoados, por isso, continuam recebendo o tratamento dos capitães-do-mato, um tratamento sanitarista.

A televisão nos roubou a humanidade amorosa, vulgarizou a violência, classificou os feios e os bonitos.

E calou a nossa voz.

Cegou nossos olhos que desaprenderam do prazer de ler.

Somos escravos das imagens que não conseguimos idear, aprendemos a viver sem imaginação e não toleramos quem possa existir criando possibilidades diferentes para suas vidas.

A intolerância e a má-fé é o que resta para os que desaprenderam de ler a beleza de ser diferente e a alegria de estar contente.

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