Jobim afirma que Venezuela é “uma nova ameaça” à estabilidade regional
ViomundoO Globo
RIO – Documentos obtidos pela ONG WikiLeaks e divulgados neste domingo pelo jornal francês “Le Monde” evidenciam as divergências entre Brasil e Estados Unidos sobre a relação diplomática com a Venezuela de Hugo Chávez. Em uma correspondência secreta, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirma que o presidente venezuelano “late mais do que morde” e que isolá-lo não é uma opção.
“A orientação política de Hugo Chávez não é a do Brasil, mas os brasileiros não se sentem ameaçados por Chávez. (…) O isolamento não é uma solução para Chávez. Ele late mais do que morde”, diz Amorim em uma nota de março de 2007.
“Não queremos isolá-lo, queremos falar com ele, mas ele não negocia conosco”, respondem os americanos.
Em julho do mesmo ano, uma outra correspondência ressalta que o governo Lula defende um distanciamento a administração americana para não afetar as relações com os países da América Latina.
“Apesar das preocupações crescentes suscitadas pelo papel regional de Chávez, o governo (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva) crê que se deve guardar distanciamento da administração americana para não comprometer a capacidade de trabalhar com a Venezuela e seus aliados”.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, por outro lado, parece ser a voz dissonante. Em um telegrama secreto de janeiro de 2008, ele afirma que a Venezuela é “uma nova ameaça” para a estabilidade regional.
Uma outra mensagem do governo americano chega a afirmar que “o Brasil tem uma necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos”.
“O Brasil considera entrar em uma competição com os Estados Unidos na América do Sul e desconfia das intenções americanas (…) O Brasil tem uma necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos e de ser percebido como ele”, diz uma correspondência de novembro de 2009.
Os documentos ainda discutem sobre a gestão do futuro ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota . Segundo a mensagem, Patriota, que foi embaixador em Washington, não deve mudar o rumo da política externa brasileira.
“Mesmo que Patriota conheça bem os Estados Unidos e esteja pronto para trabalhar conosco, ele não o fará numa perspectiva pró-americana, mas sobre uma base do nacionalismo tradicional da diplomacia brasileira”, afirma um telegrama datado de novembro de 2009.
Uma outra série de documentos obtidos pela WikiLeaks e divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” revela que Patriota disse no início do ano não saber exatamente o grau de confiabilidade do governo iraniano.
“A desconfiança é grande (sobre o Irã). (…) Nós nunca sabemos o quão sinceros (os iranianos são)”, ele em um telegrama confidencial da embaixada norte-americana em Brasília, em 9 de fevereiro.
Presidente da Embraer diz em documento que apóia Boeing na compra de caças da FAB
As correspondências divulgadas pelo “Le Monde” ainda tratam da compra de 36 caças pela Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo os diplomatas americanos, o veto para a venda dos aviões brasileiros Super Tucanos para a Venezuela ainda em 2005 foram uma “gafe” cometida pelo governo Bush e prejudicaram o modelo de caça americano Super Hornet, da Boeing, na disputa.
“Os líderes políticos brasileiros acreditam que o seu país não deve depender da tecnologia militar americana (e) que os americanos recusaram a transferência de tecnologia “, observa um documento secreto de junho de2008.
O presidente da Embraer, Federico Curado, teria “sugerido aos Estados Unidos comprar os Super Tucanos em troca do contrato do caça”.
“A Embraer quer se associar à Boeing”, acrescenta Curado.
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