Yeda, uma pobre de espírito
A governadora Yeda se despediu das suas funções públicas com a marca de suas irrealizações: falou pouco e disse quase nada, a não ser as doideiras e as imprecisões de sempre. Quis citar Maquiavel (duvido que ela saiba quem seja o cara) mas lhe saiu uma frase que lembra vagamente o primeiro cientista político, e que se refere ao preço que o príncipe paga por introduzir modificações no seu modo de dominação. Assim, Yeda, depois de inspirar-se no seu almanaque Capivarol, sugere que tenha sido um príncipe, ela própria, e que colheu adversidades ao longo do seu quadriênio pelo fato de ter introduzido um novo jeito de enganar. Pobre Yeda! Sua curta acuidade política não lhe permite enxergar o quanto foi rejeitada. Mencionou a iraniana Sakineh, prisioneira por crimes comuns, querendo levantar bandeiras com as quais não tem a menor intimidade como a dos direitos humanos, ela, governadora e comandante de uma polícia militar que assassinou pelas costas um agricultor pobre e sem terra, num caso encoberto por chicanas e manobras burocrático-militares para esconder o verdadeiro assassino.
O ponto alto do seu discurso de despedida do Piratini, entretanto, foi a afirmação segundo a qual o general Bento Gonçalves da Silva teria sido o primeiro governante guasca a ser inquilino do Palácio Piratini, tendo o cuidado até de precisar a data. Para a governadora tucana o fictício acontecimento ocorreu no ano de 1921, quando todos sabem que o dirigente farrapo morreu em julho de 1847. Não é de estranhar mesmo esses exercícios súbitos de ficção em Yeda, mas sim, do silêncio solidário da mídia amiga do Rio Grande.
Sempre com seus enigmas, Yeda proferiu duas vezes uma sentença em tom epigramático: "A realidade é uma virtude". "A realidade é uma virtude". Confesso que não estou preparado para entender o significato de tão virtuosa e inteligente oração. Pressinto as suas qualidades, mas desconheço seu alcance filosofal. Contudo, enquanto não a entendê-la por inteiro, prefiro classificá-la junto àquelas frases que se lê em carros pelas nossas ruas, como "A inveja é uma merda" e "Deus é fiel".
Mesmo depois de ser atingido por essas setas de nonsense, garanto que fiquei feliz, afinal, dona Yeda estava de partida. Ela desceu as escadarias do Palácio Piratini e - por prudência, ainda que no último minuto - preferiu sair pela porta lateral, onde se introduziu em um veículo de vidros tão escuros quanto o anonimato que a aguarda. Yeda não quis evitar as vaias candentes, mas sim a mais absoluta indiferença e frieza dos poucos que teimavam em permanecer defronte à sede do governo estadual àquela hora matinal do primeiro de janeiro de 2011.
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