Cinquentões
baitasar
Publicado ontem, 01/06/2011, atualizado hoje, 02/06/2011.
A vida é pra valer/E não se engane não/Tem uma só
Ontem, estava no facebook vasculhando as fotos do amigo Ivan Martins, buscava imagens da greve dos municipários de Porto Alegre, pronto, lá estava o amigo, um guri dos anos setenta(?). Encontrei as fotos daqueles anos de chumbo dourados (ou seriam anos de chumbo da porrada, passeatas, sumiços, torturas...), lembrei-me que também fui um guri com uma juba imensa (cabelos encaracolados encrespados). Fui vasculhar meus álbuns do baú, reminiscências fotográficas (não é um baú virtual). Por instinto, coloquei na vitrola (hehehe) o LP do Vinícius e o poetinha saiu cantando Samba da Benção, É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza. Fiquei animado. Uma inveja e saudade de mim mesmo, folheando pesquisando olhando "uma alegria que não tinha onde encostar". Estava vadiando, ao som de Itapoã. Aí, o Toquinho começou a dedilhar seu violão, descobri que Sei que sempre vou amar a vida por toda minha vida, de tal jeito que o meu pensamento quis rir meu riso junto com vóis, pois sei que é infinito enquanto dure (brincadeirinha com as formalidades das escrituras).
Dei um salto no tempo, escutava Secos e Molhados (lembram o LP com as cabeças e as bandejas?), Sangue Latino do grito em desabafo e o que importa é não estar vencido. As corujas e os pirilampos começaram a bailar na roda festa. Sem fumaça, pessoal. Apenas o cogumelo da Rosa de Hiroshima. Não sei se os rapazes continuam tocando, suaves determinados requebrando pulando, por aqui, na vitrola, eles são os mesmos, estão congelados em minhas memórias e na agulha de diamante.
Volto ao mundo virtual, entre os e-mails uma mensagem aos Cinquentões. Logo pensei em um complô. Toda saudade no mesmo espaço/tempo? Bobagens. Resolvo pagar e ouvir, até onde isto tudo vai?... agora é Édith Piaf na vitrola, ela que me encanta apaixonada La vie en rose, volto a ser todo ouvidos. Impossível ficar desapaixonado, ela delira com sua Hymne a l'amour. Gosto desta conversa de Cinquentão, mas em parte... com parcimonia.
Finalmente, achei as imagens da greve, Porto Alegre, 2011, lá estava eu, outro tempo de recém contratado como professor estadual, em 1979, ano da primeira e histórica greve do CPERS, foram 13 dias parados. Em 1980 outra vez, mais mobilizações, mais dias parados, em plena ditadura militar, 21 dias de greve. As principais conquistas foram percentuais de reajuste, 2,5 salários mínimos de base, 25% do orçamento para a Educação e participação no Conselho Estadual de Educação. Em 1985 foram 60 dias. Em 1987 foram os históricos 96 dias de greve, lembram?, garantimos o Plano de Carreira do Magistério e garantimos o emprego aos contratados. Depois em 1989 foram 42 dias de greve para conquistar reajuste, publicação e pagamento das alterações de níveis, nomeação de três mil professores e agilização do pagamento do difícil acesso, cronograma para regularizar promoções. Em 1990, mais outra greve para exigir compromissos que não foram cumpridos. Dessa vez foram 58 dias. Em 1991, a segunda maior greve da categoria durou 74 dias. A proposta do governo de abono foi derrotada e surgiu a mobilização da comunidade em defesa do ensino. As greves continuaram e continuam. O capital e o trabalho são antagônicos nos seus interesses, ou não?
Volto às fotos do amigo Ivan e vejo muitos jovens, sorrindo, enfrentando, puxando, empurrando o meu cansaço histriônico. Não têm o meu medo, que dure mais sete dias ou oito. Como recuperar esse tempo? O meu outro amigo Vitor Ribeiro tem razão, "Não existe mais a velhice." Não vamos dourar a pílula, né. A velhice mudou, mas... Meu amigo, acho que a minha juventude não dura mais que sete ou oito dias. Tentei contrapor a mim mesmo que aqueles eram outros tempos. E tive que concordar. Eram os tempos da ditadura militar. Do cacete, da demisão, do pesadelo, do chumbo. Olhei nos olhos daqueles jovens e tive que confessar, Eu já paguei a passagem. Eles me olharam, sacudiram os ombros, São os teus sonhos que duram sete ou oito dias.
Então, vou vivendo entre os e-mails de Cinquentão. Ah, não guardo estes dados todos na cabeça, sabe como é o disco rígido, mas basta seguir por aqui.
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