quarta-feira, 25 de julho de 2012

Como nos libertamos do proselitismo eleitoral e do cretinismo parlamentar?


O exemplo de Tarso Genro que o PT abandonou


Pode-se gostar ou não das ideias do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Mas há que se reconhecer que ele é uma das raras lideranças do PT que não desistiu de escrever, propor debates e disputar ideias. E isso ocupando um cargo extremamente trabalhoso e difícil, como é o de governar o Estado do Rio Grande do Sul. A postura do governador gaúcho guarda outra particularidade: ele vem fazendo isso sem priorizar os holofotes da mídia comercial, publicando em espaços da chamada “mídia alternativa”. Até por seu tamanho e pelos temas que aborda, dificilmente esses textos seriam publicados integralmente na mídia comercial, mas a novidade aqui é a valorização de espaços de opinião que costumam ser desprezados e/ou ignorados pela maioria das lideranças petistas, com mandato ou não.
O abandono dessa prática, que nunca foi muito forte no PT, tem consequências graves no curto e longo prazo. No curto, porque despreza a importância de se ter ideias sobre o que acontece no cotidiano local e no mundo. Despreza a importância de ter voz, uma voz que não se limite às declarações oficiais e oficiosas, que se arrisque a sair em público no calor dos acontecimentos. No longo, porque abre mão da construção de uma narrativa própria sobre os acontecimentos. E isso não é um detalhe. O mundo atravessa hoje uma grave crise política, econômica e social decorrente das escolhas feitas pelo hegemônico modelo neoliberal que vendeu as ideias da desregulamentação e do Estado mínimo como caminho milagroso para o progresso e o bem-estar. As cenas dramáticas que vemos hoje na Europa são o testemunho mais eloquente do fracasso desse modelo.
Essa crise, que pode estar apenas em seus estágios iniciais, como advertem inclusive analistas do mercado como Nouriel Roubini, repercute em todo o mundo. E essas repercussões não são apenas de natureza econômica. A confluência da crise econômico-financeira com a crise ambiental, apenas para citar um exemplo, sinaliza tempos turbulentos pela frente. Tempos em que usar a palavra será essencial. Seguir usando a palavra – quando se usa – para falar do próprio umbigo, para fazer de interesses particulares de curto prazo o centro do universo, é o caminho mais curto para alguém (pessoa física ou instituição) ser varrido do mapa. O PT, enquanto partido hoje no governo do país, deveria pensar seriamente nisso. O partido está sem voz ativa, sem opinião audível sobre o que acontece no mundo.
Esse problema, obviamente, não é uma exclusividade do PT. Seria muito bom, inclusive para o próprio PT, que surgissem forças políticas consistentes à sua esquerda. Infelizmente, as alternativas existentes ainda não conseguiram superar o doutrinarismo e a obsessão em eleger o PT como principal adversário. Uma novidade pode estar surgindo no Rio de Janeiro com a candidatura de Marcelo Freixo, que apresenta uma inflexão diferente: “Eu não fui para o PSOL para criar uma alternativa ao PT, tanto é que eu não virei um antipetista. Eu fui para o PSOL para criar uma alternativa de esquerda, não ao PT”, diz Freixo ementrevista à Carta Maior. A gravidade da crise que se avizinha no horizonte mundial exige que mais vozes despertem. Hoje, a maioria delas está prisioneira do proselitismo eleitoral e do cretinismo parlamentar.

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