sábado, 21 de julho de 2012

o futebol nem é tão importante, mas os seus personagens...


Desconstruindo JÚNIOR, Dorival

Milton Ribeiro



Dorival Junior durante um treino do Inter | Foto: Marcos Nagelstein / Vipcomm

Por Alexandre Perin

Avassalado por críticas, o técnico Dorival Júnior foi confirmado nesta quinta-feira pela diretoria do Internacional como treinador do time. Por enquanto. Quando um treinador entra em rota de colisão com torcida e jogadores, é apenas questão de tempo a sua demissão. Até lá, o Inter já estará distanciado da liderança do Brasileirão e qualquer sonho do tetracampeonato estará condenado.

Em sua defesa, o treinador disse que “não é mágico” e indiretamente reclama dos desfalques e do grupo de jogadores que tem disponível. Isto tem fundamento, mas não justifica pois as críticas são de longo prazo. Uma análise detalhada deixa claro que seu ciclo se encerrou em Porto Alegre.

Um treinador sobrevive sobre um tripé: resultados, bom futebol e comando de vestiário. Dorival fracassa nas três. Dorival tem a seu favor, dois títulos: um 3×1 em seu terceiro jogo no comando que garantiu o título da Recopa Sul-Americana. Neste jogo, fez um trabalho impecável e mereceu os louros. O outro é o Gauchão, um campeonato que Grêmio e Inter tem sempre a obrigação. Mas no Brasileirão e Libertadores, as competições mais difíceis, seu desempenho é discutível.

Em agosto de 2011, o técnico assumiu o time na 7º colocação, 14 pontos atrás do líder e 7 atrás do G5. Se manteve exatamente ali por mais de um turno, exceto nas 3 últimas rodadas quando foi 4º, 6º e finalmente 5º. Um ano depois, na mesma competição, o Inter está na 8º colocação, 9 pontos atrás do líder em 10 rodadas. Ou seja, um desempenho medíocre para quem almeja o título, 32 anos atrasado.

Dorival reclama dos desfalques, algo que todos os times possuem. Mas muitos dos jogos de pior desempenho ocorreram com time quase completo, como no 1×1 contra o Bahia ou no 1×2 para o Botafogo. Ele não cita que a maioria absoluta das lesões são causadas por problemas musculares, com a preparação física de responsabilidade de seu auxiliar Celso de Rezende, bastante criticado nos bastidores.

Na Libertadores, seu rendimento foi catastrófico. Em 10 jogos, 3 vitórias (todas em casa), 4 empates e 3 derrotas. Se classificou com a pior campanha da 1º fase em um grupo tenebroso com Juan Aurich e The Strongest, além do Santos (que, aliás, passeou e fez a 3º melhor campanha da 1º fase). O Inter só teve duas partidas convincentes, contra o Once Caldas na estréia e contra o The Strongest também no Beira-Rio.

O Estadual não foi muito diferente. Depois de uma primeira fase boa, acabou eliminado pelo Grêmio em casa com uma atuação medíocre na Taça Piratini. No returno foi melhor, eliminou o Grêmio na final, levantando a Taça Farroupilha e garantido na decisão contra o Caxias. Em dois jogos de rendimento bem ruim, perdia o título em casa até 20 do 2º tempo quando o Inter empatou e virou o placar. Mesmo assim correu riscos de perder o título nos minutos finais, salvo por Muriel.

Vamos ao outro baluarte de um treinador: bom futebol. Eventualmente um time pode não obter os resultados plenos mas agradar seus torcedores. Vimos a união “títulos+show” em times como o Inter dos anos 70 ou o Grêmio de 2001. Mas já apreciamos, mesmo em nível clubístico, times que jogaram muito bem e ainda assim não se sagraram campeões, casos do Inter de 2009 e do Grêmio de 2002.

Pior que os resultados colorados sob o comando de Dorival são as atuações nada convincentes: nenhuma sequência de 3 vitórias em competições nacionais e/ou Libertadores. Se comparado com temporadas anteriores é um desempenho medíocre. Por exemplo, o Inter de 2009 teve ALGUMAS sequências com 4 ou mais vitórias consecutivas. Um futebol envolvente, 156 gols em um ano. Alguma vez, o torcedor colorado teve, sob a batuta de Dorival Júnior, uma sequência de jogos que pudesse dizer: “nossa, como o time tá jogando legal, empolgante”? Negativo.

Não existe um padrão técnico e tático, jogadas que se possa dizer: “isto é a cara do treinador, um trabalho bem feito”. Os treinamentos são desperdiçados em inúteis treinos contra adversários invisíveis e rachões sem fim. O time não consegue jogar pressionando o adversário, nem mesmo na saída de bola do visitante, algo absolutamente incomum em se tratando de Internacional.

Porém o pior de tudo para um técnico é perder o vestiário. Isto é, perder a confiança dos atletas com seu trabalho. Desde agosto, são diversos casos de indisciplina dentro e fora dos gramados. Jogadores reclamando abertamenta, inclusive na imprensa. Algo raro no Beira-Rio nos últimos anos, que se tornou rotina nos últimos meses. Muitas punições com afastamento do time, punindo o clube e também a torcida.

Mas o que mais incomoda aos atletas é a incoerência. Por mais que tenha seus defeitos, Bolatti não pode ficar fora do banco de reservas em jogos sem limite de estrangeiros esgotados, algo praticamente inexistente em 2012 por lesões ou convocações. O tratamento injusto de Dorival desagrada os atletas, que vivem uma “roleta russa”: ora são titulares nos treinos, depois ficam fora do banco, aí titulares em um jogo nem concentram para a partida seguinte.

Esta semana vimos isto: Marcos Aurélio era titular, nem concentrou, depois voltou a ser relacionado. Já Maurides e João Paulo, primeiras opções e de razoável rendimento o 0×0 contra o Santos, sequer viajaram para Belo Horizonte. Fred, que se destacou em todos os jogos que entrou e treina com os profissionais desde maio, foi preterido por Lucas Lima, que chegou no clube há 1 mês e estava no Inter-B (e que até teve rendimento satisfatório) para o jogo contra o Santos.

Também vejo nas redes sociais e mesmo na imprensa algo que não condiz com a verdade. Muito se fala de que “D’Alessandro derrubou técnicos”. As demissões de Falcão e Fossatti foram pela diretoria, Mário Sérgio encerrou seu contrato, enquanto Roth caiu pela torcida. Apenas Tite se ‘enquadraria’ nesta análise.

Porém o competente técnico gaúcho sempre teve problemas a longo prazo, sem administrar direito o vestiário. Com seu discurso extremamente emocional, Tite acaba apegado a jogadores, prejudicando o time mantendo titulares em má e péssima fase, enquanto jogadores que estão “voando nos treinos” acabam invariavelmente fora da equipe, não importa o desempenho. Se na ocasião, o presidente Vitorio Piffero e o Vice-Presidente Fernando Carvalho tivessem interferido de maneira mais forte no vestiário, dando respaldo para Tite mas exigindo mudanças no time em nítido decréscimo técnico após um primeiro semestre esplendoroso, o resultado talvez tivesse sido diferente.

D’Alessandro errou muito naquele semestre, mas poucos se lembram que mesmo com Mário Sérgio dando total apoio ao atleta, seu rendimento não melhorou. Andrezinho terminou 2009 jogando muito mais que D’Alessandro, inclusive sendo titular na reta final do Brasileirão.

Ou seja, Dorival já tem seu destino traçado: a demissão em um futuro próximo.
Os resultados não dão embasamento para sua permanência.
O grupo de jogadores não confia no seu trabalho. E não consegue ser motivado por seu treinador.
A torcida quer sua cabeça.

A diretoria do Inter saberá tomar a decisão correta?
Fica a questão, com a palavra: Giovanni Luigi, Luciano Davi e Fernandão.

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Aqui tem mais Fernandão e as expectativas do Milton Ribeiro... é só conferir!

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