quinta-feira, 28 de outubro de 2010

a morte do general calçacurta - IV

... Wlaquíria Afonso Costa – 1974/Araguaia, Walter Ribeiro Novais – 1971, Walter de Souza Ribeiro – 1974, Wilson Silva - 1974)


─ Meu Deus deixem os mortos como estão... mortos!

─ Isso é bobagem Chupa-racha, muitos destes aí já apareceram...

─ Mortos, General!

─ Mas apareceram...

Não sei o que me acontece, talvez o cansaço da noite sem dormir esteja cobrando seu preço, sei lá, não estou sentido minhas pernas e braços, e uma loucura qualquer me faz ver uma procissão. Caminham todos vestidos de preto. As mulheres levam um véu sobre a cabeça e os homens estão cobertos por um capuz. Marcham e cantam de cabeça baixa. Não entendo o que dizem, mas minha atenção está toda voltada pra seus cânticos fúnebres. De repente a manhã escurece e fica fria, sinto o desconforto atravessando meu corpo. Procuro com os olhos pelo Jacaré, mas ele está perdido na aglomeração do bando. A ladainha aumenta. Quero apressar meus passos, mas não consigo. Estamos marchando pelo descompasso daquele ritual de orações curtas e respostas repetidas. Direita, direita, esquerda. Quando as mulheres retiram seus véus e os homens arrancam os capuzes, vejo que são apenas caveiras que têm no lugar das cabeças. São apenas ossadas em vestimenta de luto.

Tenho vontade de largar o caixão do General e gritar para que se vão e aceitem que enterremos o nosso morto em paz

─ Chupa-racha, faça alguma coisa!

─ Calma, General.

─ Chupa-racha, nada de vexame e fraqueza!

─ Mas General...

─ Rapaz, todos foram perdoados, por que esse ódio todo?

─ Essa gente não sabe lamber as feridas em silêncio.

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