quarta-feira, 17 de novembro de 2010

paciência tem limite (?)

Desdobramentos da aliança PT-PDT

Por Paulo Muzell

A eleição de Tarso Genro pela coligação PT-PSB-PC do B -PR e a consequente busca da formação de uma bancada governista majoritária na Assembléia Legislativa a partir de 2011 implicou movimentos políticos que estão alterando a atual correlação de forças do cenário político gaúcho. Duas grandes novidades são a participação do PTB e do PDT no novo governo estadual que assume em janeiro próximo.
Romper com o isolacionismo, para muitos a causa principal das derrotas eleitorais dos últimos anos, passa a ser palavra de ordem de amplos setores do PT gaúcho, animados pelo sucesso da ampla coalizão montada por Lula no plano nacional. É claro que esta ampliação do leque político significa fazer algumas concessões e abandonar algumas bandeiras históricas. Elas passam a ser meras lembranças do passado, purismo inadequado aos novos tempos.
É verdade que a ausência de maioria legislativa e o verdadeiro “bombardeio” movido pela mídia – especialmente pela RBS – tendo como alvo o governo Olívio Dutra (1999-2002) não impediu que os seus resultados tenham sido muito bons. Houve recuperação das finanças, melhoria da qualidade do gasto público e expressivo aumento do volume dos investimentos. Foi significativamente acrescido o efetivo de pessoal em áreas importantes – educação, segurança e saúde, por exemplo -, as ações de governo eram centralmente monitoradas por uma Secretaria Geral que garantia um boa coordenação das ações do governo.
E a idéia de montar um governo de centro-esquerda, de amplo espectro não é tese vencedora, aqui no Estado. Não foi ainda testada e comprovada. Ela implica em assumir riscos e seus resultados só poderão ser avaliados pelos gaúchos daqui a quatro anos.
A tese da coalizão, do fim do isolacionismo gerou um clima de euforia que contagiou alguns setores do PT municipal. De forma precipitada, sem maiores discussões e avaliações, passaram a defender publicamente a entrada do PT numa nova montagem do atual governo municipal a partir de janeiro do ano que vem.
Eles pretendem – segundo notícias veiculadas pela mídia – dar uma “nova cara ao governo Fo-Fo”. A incorporação do partido ao governo Fortunati seria o fim da oposição que o PT através de sua bancada de vereadores há seis anos vem fazendo ao atual governo municipal.
Como explicar esta mudança, este giro de cento e oitenta graus? Afinal, Fortunati não ocupou ao longo destes seis anos importantes cargos neste governo? Não foi o vice de Fogaça a partir de 2009?
Este é um governo que alterou o Plano Diretor atendendo aos interesses da especulação imobiliária; que se omitiu, permitindo que sua bancada aprovasse o projeto do Pontal do Estaleiro, mais tarde rejeitado em consulta popular. Que protagonizou inúmeros escândalos como o da empresa Reação que acusou assessor do então secretário da Saúde, Eliseu Santos, de cobrar propinas; que contratou a empresa Sollus para gerir o Programa da Saúde da Família (PSF) e que foi acusada do desvio de oito milhões de reais, ainda não recuperados. Que gerou suspeitas – com gravações comprometedoras de conversas de seus secretários com empresários – no mega projeto do Sócio-Ambiental? Um governo acusado, também, de desvios de recursos do Pró-Jovem. Um governo que transformou a Procempa num cabide de empregos de seus quadros políticos desempregados. Que, também, teve inúmeras licitações suspensas por irregularidades. Lembremos apenas duas, a de um grande contrato de prestação de serviços de coleta de lixo do DMLU e a de privatização do cadastro fiscal da Fazenda Municipal. Um governo que, na surdina, prepara a privatização do DMAE e cujo diretor geral afirma que os funcionários do quadro são incompetentes e que prefere contratar serviços de terceiros. Um governo que desmontou o OP, que todos anos anuncia superávits e não realiza metade das obras e projetos que promete para a população e que aprova na lei orçamentária?
Ocupar cargos no governo Fo-Fo seria a mais absurda incoerência, a negação do protagonismo político do PT na área municipal nos últimos anos. Seria, também, cabal imprudência, para não dizer burrice, integrar esse governo nos seus dois últimos anos. Um governo próximo de seu fim e de péssimo desempenho até agora.
Seria tornar evidente uma vocação funerária, algo como “pegar em alça de caixão”.

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