O revanchismo da Folha contra Dilma
Jornalismo B
Em 2008, quando o governo federal trouxe à tona o debate sobre a abertura dos arquivos da Ditadura Militar, boa parte da imprensa dominante brasileira alinhou-se aos militares de pijama e aos mais diversos setores da direita brasileira para dizer que se tratava de revanchismo. A gritaria foi tanta, fortalecida pelo discurso conservador da grande mídia, que os setores mais combativos do governo arrefeceram.
A revisão da Lei da Anistia não saiu, os arquivos da Ditadura continuaram fechados, todos nós continuamos cegos, surdos e mudos, continuamos ignorantes, o conhecimento sobre o passado brasileiro está logo ali, mas ninguém pode tocá-lo. Index Librorum Prohibitorum.
Pois alguns arquivos esses mesmos personagens querem abrir. Os personagens das trevas, da ignorância, da Idade Média, da obscuridade. O jornal Folha de S. Paulo comemorou, nesta terça-feira, uma vitória na Justiça. Depois de uma verdadeira batalha judicial, poderá ter acesso ao processo da Ditadura Militar contra a presidente eleita Dilma Rousseff (PT).
A ânsia da Folha em ter acesso a esses arquivos estranhamente não se reflete em qualquer vontade de ver abertos todos os outros, os arquivos que tratam de torturas, assassinatos e outras agressões dos militares de 64 aos cidadãos, à sociedade, e à democracia brasileira. Abrir esses arquivos seria revanchismo, dividiria o país, traria confrontos desnecessários, blábláblá.
É claro que a Folha queria mesmo é ter tido acesso a esses documentos antes das eleições que elegeram Dilma contra o candidato do jornal e do PSDB, José Serra. Como não deu, agora deverá usar as informações para tentar criar crises em um governo que ainda nem começou, mas já incomoda. A derrota eleitoral não foi bem assimilada, e o revanchismo está, agora sim, presente.
Vale esclarecer que são documentos diferentes, presos em instâncias diferentes. O processo de Dilma esteve aberto para consulta durante muitos anos, e só nas vésperas da eleição, com a então ministra já cotada para ser a sucessora de Lula, a Folha interessou-se. A Justiça impediu o acesso para que não fosse feito uso eleitoral. Os tais “arquivos da Ditadura”, pelo contrário, estão lacrados desde sempre.
Na próxima semana, quando a ata da sessão que aprovou a liberação dos arquivos for publicada, a Folha poderá usar os dados. O que sairá daí é esperar para ver. Mas não custa redobrar a atenção. O revanchismo está à solta.
Postado por Alexandre Haubrich
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