segunda-feira, 1 de novembro de 2010

tijolaço

O povo escolheu um lado e um rumo


Pedro Ayres

Neste 31 de outubro encerrou-se um processo político. Um processo que, ao invés de servir como um formidável e poderoso instrumento para a educação política do povo, foi transformado na mais imoral e indecente campanha de calúnias, infâmias e deslavadas mentiras contra a candidatura Dilma Rousseff, apoiada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo quando se sabe que essa é a natureza do sistema, onde o vale-tudo ganha foros de virtude, fica o gosto amargo que só a falta de ética é capaz de produzir. A questão não pode ser creditada só aos dirigentes partidários da aliança direitista, pois, infelizmente, teve o referendo e o apoio de parcela da população.

Uma parcela que, em nome de direitos e princípios morais normalmente violados em sua prática cotidiana, ousou ser o Catão da vida pública brasileira. Aquele cínico axioma de que “os amigos não têm defeitos, mas, se existem, merecem ser esquecidos, quanto aos adversários, se não os tiverem, então é bom inventá-los”, foi aplicado em toda linha. E assim foi, tal o desespero e o ódio que devotam aos que podem botar freios na secular espoliação que o nosso país agüenta há séculos.

Num certo sentido, até que a direita foi útil com essa campanha, pois, contrariamente ao que desejavam, que era a completa despolitização da atividade política e o conseqüente esquecimento sobre a essência de nossos problemas nacionais, forçou um debate mais sério e profundo sobre vários temas que eram bordões de sua “pregação” política – democracia, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade religiosa, alternância no poder.

Ou seja, provocaram um repensar com mais profundidade, bem longe da monotonia que configura o pensamento político liberal. Isso quando esse liberalismo não descamba com toda pompa e circunstância para as ditaduras ou governos bem assemelhados a essa proposição de poder. Experiências que o Brasil e a América Latina tiveram de sobra.

Uma das mais comuns táticas para a propagação liberal é manter todas as suas proposições no campo das generalidades, tanto que consegue fazer confusão entre o que um direito de todos e o que é atividade comercial e concessão pública, como sói acontecer com a liberdade de expressão e a mídia nacional. Assim, sem querer somos forçados a defender propostas oligopolistas dos grupos que dominam a mídia, como se fosse a defesa de direito da cidadania, quando, na verdade, são propostas que violam e conspurcam o nosso legítimo direito de expressão e de opinião.

Assim, do mesmo modo que tentavam transformar interesses pessoais em direitos, no campo religioso tudo foi repetido, enquanto falsamente acusavam a candidata Dilma Rousseff de ser contra certos “dogmas e princípios” que fazem parte das ações políticas justificadoras de organizações como Ordens e Prelazias sempre vinculadas a um poder temporal autocrático, totalitário e de direita, faziam alianças com que havia de mais atrasado, nocivo e corrupto, fosse no campo confessional ou não. Isso tanto do lado católico, quanto do lado dos modernos pentecostais.

Ousavam até dizer que seria contra a liberdade de crença, quando fosse do lado católico, fosse do lado pentecostal, havia e há o projeto de ser a única crença. Ou seja, de hipocrisia em hipocrisia, gradual e decididamente houve o contínuo ato de demolição do que havia de ecumênico e universalista na generosa proposta de João XXIII, que através de suas encíclicas “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris” tentava refazer o caminho do cristianismo primitivo, em que o Estado e a Religião tinham campos específicos de atuação.

Na realidade, de uma forma ou de outra, o objetivo era um só – evitar que o Brasil continuasse a trilhar as sendas da integração latino-americana e na ampliação de sua soberania como país. Como coroamento dessa falsidade política, com a senil ajuda de um antigo promotor público paulista, tentaram ressuscitar a ilusão liberal da alternância no poder como prova de plena e cabal democracia. Ora, é o típico sofisma político, pois, ao esconder a realidade do poder de um país capitalista, em que muito além dos famosos poderes constituídos, sobressaem as forças sociais e econômicas que conformam o país, falseia-se a essência real do poder. Um poder que transcende o formalismo constitucional das democracias liberais e que, via de regra, tem continuidade independentemente do partido ou pessoa que o exerça, como se pode ver nos EUA, Reino Unido, França, Espanha, Portugal, por exemplo.

O combate sofrido por Dilma, mais do que a simples oposição a uma candidatura do PT, teve muito da reação que o império e seus asseclas brasileiros têm quando se deparam com alguém cuja história é de coerente luta contra os seus objetivos e interesses. Assim, a eleição de Dilma Rousseff representa a clara opção popular por um Brasil nacionalista, forte, justo, solidário, mais democrático e integrado à América Latina. Aliás, o caminho que nos permitirá construir o Brasil de nossos mais radiosos sonhos.

Espero que a Presidenta eleita Dilma Rousseff jamais se deixe envolver pelos cantos de sereia das teses sobre governabilidade e consenso, pois, o povo brasileiro fez a escolha de um lado e de um rumo. Confiar no povo e em sua sabedoria são as chaves para o sucesso de sua administração e para a concreção do bem-estar, da felicidade e um belo futuro para nosso povo. É o que diria à nova Presidenta do Brasil.

Nenhum comentário: