sábado, 27 de agosto de 2011

Campanha da Legalidade e o rádio

Rádio da Legalidade: exemplo de resistência midiática


Jornalismo B


Nesta quinta-feira, 25 de agosto, completam-se exatos 50 anos da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, evento que desencadeou a Campanha da Legalidade comandada por Leonel Brizola no Rio Grande do Sul. As barricadas montadas por Brizola e pela Brigada Militar em toda Porto Alegre e a grande mobilização popular garantiram a posse do então vice-presidente João Goulart e impediram que acontecesse já em 1961 o que acabou acontecendo em 1964: o Golpe Militar que afundou o Brasil em uma ditadura civil-militar que durou duas décadas.

Para enfrentar os militares golpistas, Brizola fez uso do revólver e da palavra. Além do apoio da Brigada Militar e, a seguir, do III Exército, o então governador do Rio Grande do Sul usou uma cadeia de rádio para informar aos inimigos e à sociedade as intenções da resistência gaúcha e para incendiar a população. Uma das mais importantes medidas de Brizola foi proteger a Rádio Guaíba, a maior do Estado na época, e encampá-la para uso dos resistentes, no dia 27 de agosto.



Mobilização de apoio à Campanha da Legalidade, em Porto Alegre

Escreveu Dione Kuhn, no livro “Brizola – da legalidade ao exílio”: “Arma admirada por estrategistas como Winston Churchill e Charles de Gaulle, o rádio deu a Brizola a superioridade sobre os adversários num terreno decisivo: o coração dos gaúchos”. Brizola discursava pelas ondas do rádio e suas palavras inflamadas chegavam a todo o país. A comunicação, em 1961, já era entendida por Brizola como parte impreterível de qualquer processo político, a começar pela resistência aos militares. Dione citou Churchill e de Gaulle, mas Che Guevara também montou, durante a guerrilha cubana, uma rádio para transmitir discursos e informações que ajudariam a superar o cerco midiático montado pela ditadura de Batista.

Com Dione e o bom repórter Nilson Mariano, o jornal gaúcho Zero Hora tem feito uma forte cobertura histórica, na última semana, dos 50 anos da Campanha da Legalidade. A serie de reportagens tem muita qualidade, sem dúvida. Mas como não estranhar que o Grupo RBS, beneficiado diretamente pelo Golpe Militar consumado em 1964, queira agora apagar essa parte da história? E ainda tecer odes à luta de Brizola, personagem tão atacado pelo Grupo, ainda que, em 1961, tenha sido o Estado do RS quem pagou, indiretamente, a aquisição da TV Gaúcha (hoje RBS TV)?



Brizola discursa na Rádio da Legalidade

O jornal Correio do Povo, da mesma Caldas Junior que teve que ceder a Rádio Guaíba a Brizola em 1961, dedicou um caderno especial na edição desta quinta ao assunto, com uma grande reconstituição histórica da semana que adiou por três anos a Ditadura Militar brasileira. Há grande espaço para a importância da Rádio da Legalidade naquele processo, ao contrário do que aconteceu em Zero Hora. Há um excelente material sobre a Legalidade em um hotsite criado pelo governo do Rio Grande do Sul.


Lembrar a Campanha da Legalidade é, para os comunicadores independentes, não se deixar esquecer a importância da mídia para a construção política. As rádios possuem papel fundamental, nesse sentido. No momento, o que temos de concreto é a possibilidade de construção, ampliação e integração das rádios comunitárias e das rádios web. Ao mesmo tempo, o avanço da internet, dos blogs e das redes sociais vem abrindo novas possibilidades de “guerrilha midiática”, de “mídia popular ostensiva”, aos moldes do que fez Brizola há 50 anos.

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