domingo, 21 de agosto de 2011

sobre direitos de morar e voar

Raquel Rolnick: “moradia digna é um direito humano, andar de avião, não”





Um legado socioambiental está longe de ser consolidado em Porto Alegre com as obras para a Copa do Mundo de 2014, já que na maioria dos casos há apenas projetos anunciados pela prefeitura e pelo governo estadual. A construção de um legado não se apresenta como a questão mais importante e ainda se mostra uma questão secundária. A avaliação é de Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada, que veio a Porto Alegre conhecer de perto a realidade das comunidades atingidas pelas obras da Copa. A capital gaúcha, disse Rolnik, ainda tem a chance de criar modelos de modernização da cidade que sirvam de exemplo para o Brasil.

Para a relatora da ONU, a disponibilidade de recursos para a Copa do Mundo poderia resultar no cumprimento de propostas históricas como a regularização e urbanização das comunidades, mas está ocorrendo uma inversão de prioridades. “As intervenções da Copa do Mundo estão diretamente ligadas à execução do evento em si: chegar do aeroporto ao estádio, chegar do aeroporto aos hotéis e dos hotéis ao estádio. Essa é a agenda e não de construção de um legado socioambiental”, criticou.

Raquel Rolnik citou o exemplo da ampliação da pista do Aeroporto Salgado Filho, que resultou na remoção das famílias da Vila Dique, sem a finalização das novas moradias e sem a conclusão de escolas e postos de saúde. “Eu não vejo nenhum sentido da questão da moradia não ter a mesma importância da construção de um aeroporto. Direito à moradia se trata de um direito humano. Andar de avião não é um direito humano”, disse ainda a relatora que foi recebida pelo prefeito de Porto Alegre, José Fortunati e pelo governador do Estado, Tarso Genro.

Foto: Caroline Bicocchi/Palácio Piratini

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