domingo, 28 de agosto de 2011

"Enquanto isto, nós perdemos o nosso tempo..."

O vaidoso Lars von Trier e o filme Melancolia 

Cristóvão Feil no Diário Gauche

 



Seria relativamente fácil – para um profissional experiente - fazer um filme sobre o tema da melancolia. Vários autores e intelectuais já trataram do assunto, de Shakespeare a Walter Benjamin, de Dürer ao nosso escritor pedestre Moacyr Scliar, e tantos outros, por muitos séculos.

A filosofia, por sua vez, sempre teve a melancolia como objeto de reflexão (Freud pegou a coisa - desânimo/autopunição - já muito analisada/conceituada). Lars von Trier, o cineasta dinamarquês, deixou de lado tudo o que já se escreveu e pensou (mal) sobre a-depressão-como-julgamento-do-mundo, apelando para um tratamento astrológico, digamos assim, no seu filme “Melancolia”. 

Parece que o argumento parte da leitura do horóscopo diário, feito por duas irmãs. Uma delas leva uma vida burguesa ao lado do filho e do marido rico, outra, deprimida, vê no casamento uma fórmula de empanar mais o seu espírito turvo e safar-se do mal que a deprime. Um belo dia - parece - elas lêem no jornal que um planeta chamado Melancolia está prestes a se chocar com a Terra, o que seria o fim do mundo. A burguesa Claire, se decompõe e desaba, a outra (Justine), acha o seu eixo existencial e aceita placidamente o destino astrológico que o caprichoso movimento cósmico lhe reservou. Lars Trier disse em Cannes que o seu filme tem "um final feliz" – o fim do mundo. Disse também entender e simpatizar com Hitler, e que o nazismo era a sua praia, dele, Trier.

Já se vê que o cara é um irresponsável, fanfarrão e mitômano. Não hesita em dizer e fazer disparates para chamar a atenção do público. Assim, “Melancolia” situa-se na mesma linha moral do comportamento político do seu diretor. Um filme assumidamente niilista, sem comprometimento com nada (a não ser com a própria vaidade do autor), enredo pobre e raso, porém pretensioso. O fundo musical wagneriano (prelúdio da abertura de Tristão e Isolda) visa dar ares de complexidade e espessura à farsa e ao embuste da obra final.

O roteiro caótico procura alguma criatividade (sem êxito) ao pontuar pequenos enigmas inúteis ao longo da narrativa quando cria um personagem (pai das duas moças, Justine e Claire) que coleciona colheres de prata no bolso e jovens amigas de nome Betty. Ou quando mostra a mãe das duas atormentadas protagonistas como uma mulher insociável e grosseira. Mas nada disso conta na trama que não leva a lugar algum.
Trier quer contar que nada faz sentido mesmo, nem mesmo o seu próprio filme, que um simples esbarrão de um planeta desorientado pode acabar com tudo neste mundo esvaziado de objeto.

Enquanto isto, nós perdemos o nosso tempo em duas horas de filosofia de botequim de um nazistinha retardatário e boquirroto.

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