Guernica
Mauro Marques
Esse cidadão do bem que reclama e acusa a ousadia dos miseráveis de comprar um carro, por causa do governo espúrio – acredito que deva ser o governo Lula o tal governo espúrio – não ouso crer que se refere ao incorruptível governo Detran do RS ou de Santa Catarina, talvez preferisse ter vivido sob o governo franquista.
Com certeza, na Espanha do ditador Franco, ele estaria bem mais a vontade – bem mais do que já está – para dizer aos miseráveis de Guernica que eles não tinham direito à vida, nem sonhar em melhorar suas vidas, o que lhes restava era o gueto de Guernica.
Seria tudo que teriam.
Os miseráveis ousaram sonhar e as bombas e metralhadoras acabaram com suas vidas.
Eram apenas miseráveis.
Seria engraçado, se não fosse terrivelmente cúmplice do silêncio rbs, esse cidadão de bem perguntar aos estupradores de Florianópolis, quantos livros aqueles selvagens leram antes das ferocidades que praticaram. Segundo sua tese, os monstros juvenis fizeram o que fizeram porque jazem em apartamentos que são gaiolas. Moram?
Só o ódio e a indiferença pode levar ao bombardeio e fuzilamento das pessoas em Guernica.
O mesmo ódio deste senhor de plantão, bem pago pelos seus patrões.
Quanto vale gritar ódio nas televisões e jornais do PIG?
“Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das camas, gritos das árvores e pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, dos carros, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam um após o outro, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o ar.”
Este poema de Picasso descreve os horrores vistos no quadro Guernica, lembram do quadro, lembram do ódio que se vê no quadro?
Guernica continua atual porque mostra o nosso realismo com toques de metáfora jornalística.
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