Censura e tortura, nunca mais, mesmo? Licença, vou dar minha compreensão
.por Mario Pirata, sábado, 13 de novembro de 2010 às 12:29.
Telma Scherer detida na feira adulta, Telma Scherer adulta na feira detida – talvez por isso eu não trabalhe há anos na parte adulta dessa feira. A parte é retrógada e conservadora. Ao contrário da feira do livro infantil que tem uma coordenação eficiente e ágil, e uma noção extremamente acertada – a de que um evento comercial somente se transforma em cultural quando tiver uma equipe de produção profissional e esperta. A presença de artistas na programação da feira infantil, o respeito com que são tratados e contatados, e remunerados, vem fazendo a diferença nesta edição e em outras dessa promoção.
Cabe lembrar que a Feira do Livro de Porto Alegre é promoção de uma entidade de classe que reúne editoras e livrarias, e estabelecimentos bancários e jornalísticos, e outros (até estante com automóvel já existe por lá). E que a mesma recebe verba pública estadual, através da lei de incentivo cultural (LIC), e apoio do município, pois ocupa um logradouro não apenas público, mas também histórico, que é a Praça da Alfândega.
E o que tem a ver a cana com a rapadura?
Ora, como cidadão, exijo o melhor ao que possam me oferecer, tenho direito a receber um evento de qualidade e limpo, com lugar para sentar, segurança para andar, e coisas boas para olhar. A praça não pertence ao comerciante, ao policial, ao governante. É do povo, como o céu é do sol. E a literatura, graças ao Mestre Tempo e ao movimento dos corpos celestes, não pertence e nem se qualifica a nenhum desses senhores acima relacionados. E já fui abordado na feira em outros tempos da forma como Telma o foi agora. Já quase fui expulso, junto com outros jovens (naquele tempo), e quando o Presidente da Câmara do Livro - na época era o Roque Jacobi, que veio a ser mais tarde editor de três livros infantis meus - com um policial ao lado, me abordou, pedindo a minha identificação, cumprimentei-o e pedi a dele, e pelo respaldo dos leitores e pessoas presentes ao redor, conquistamos o direito de permanecer na feira, com a primeira e original banca de autores independentes que já houve na feira, e que se resumia a um caixote cedido pela livraria Combate Socialista.
Eram outros tempos, ao menos eu achava, o país ainda se curava das marcas da ditadura e da intransigência, coisaetal. Mas não é que o ruim sempre deixa herdeiros, e que seguem mandando e ditando o jeito como o porto-alegrense deve ter o seu espaço urbano usado para manifestações culturais, dentro de realizações comerciais públicas. Sinceramente, estou indignado com a detenção e proibição da livre-expressão da Telma Scherer na feira do livro de Porto Alegre. Quero saber o que vocês pensam? Pode, pode mesmo, eu esteja enganado, que o imaginário deva permanecer separado do conhecimento, que a palavra criadora deva ser vigiada e detida, e que a política cultural do município e do estado deva se manter ajoelhada aos interesses financeiros de entidades comerciais.
Ainda não sei o que pensam o futuro secretário de cultura do Estado e o Governador eleito. Alguém sabe?
Não sou otário, a alegria é o meu salário. Um abraço, do amigo Mario.
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