La Latina
Los invisibles, o filme sobre a imigração mexicana que ninguém tinha feito
Acho que o ator mexicano Gael García Bernal tem sensibilidade e talento. E não só atuando e escolhendo bem os seus papéis, mas principalmente farejando os temas que merecem ser retratados na tela, histórias que valem a pena ser contadas. Ele se arriscou na direção algumas vezes, mostrando que suas intenções no cinema vão muito além do papel de galã, ainda que, de seu primeiro filme como diretor, “Déficit” (filme no qual também atuou), não tenha saído muito bem.
Mas ele produz vários filmes através da Canana, a produtora mexicana da qual é sócio ao lado do ator (e agora também diretor) Diego Luna, seu parceiro inseparável desde que fizeram juntos “Y tu mamá también”, e do produtor Pablo Cruz. A Canana está por trás de bons títulos mexicanos como “Rudo y cursi”, de Carlos Cuarón, e “Abel”, do próprio Diego (esse, sim, bastante bem-sucedido na empreitada como diretor, pelo menos neste caso).
Voltando ao Gael, um de seus trabalhos mais recentes como idealizador e diretor impressiona, para começar, pela pertinência. Trata-se de “Los invisibles”, um documentário sobre os migrantes que cruzam o norte do México para passar a fronteira com os Estados Unidos. O filme, feito em colaboração com o diretor Marc Silver e a Anistia Internacional, está disponível online em quatro partes, que abordam as esperanças e motivações de pessoas cuja realidade é das mais duras. São vítimas de seqüestro, violações físicas, ameaças e assassinatos por criminais que controlam a zona, o que faz dessas jornadas algo muito mais assustador do que o risco de não conseguir entrar no país vizinho – isso sim, bastante retratado pelo cinema, das mais diferentes formas.
Gael aparece nas imagens, entrevistando seus personagens, questionando os temas e os perigos que rodeiam suas aventuras. É forte. Me faz pensar no comentário que ele faz quando aparece no (ótimo) documentário “José e Pilar”, por causa de uma peça que fez com Saramago em Guadalajara para recolher fundos para um projeto social. A poucos minutos de participar de uma coletiva de imprensa, ele comenta o quanto é desagradável responder a uma recorrente maneira de perguntar dos jornalistas (de qualquer lugar do mundo), por não saber o que responder: “O que você sente estando aqui? O que você sente ao participar de tal filme?”. Acho que em “Os invisíveis”, sim, a pergunta não seria assim tão impertinente. Dá pra sentir muita coisa.
Postado por Camila
Nenhum comentário:
Postar um comentário