Minha entrevista sobre classe média para o SINPRO-SP
Rudá Ricci
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Professor, quem é mais especificamente essa nova classe média que está surgindo no Brasil?
Principalmente na primeira década do século 21, praticamente 24 milhões de pessoas são alçadas à condição de classe média no Brasil. Esta é uma situação inédita na história do país e só encontramos algo similar nos Estados Unidos, na década de 1950, depois da Segunda Guerra Mundial. Essa é uma nova classe C, que ganha entre 4 e 10 salários mínimos – pensando na renda familiar e não individual. Ela rompe com o histórico de pobreza. São pessoas jovens, com até 25 anos, magras e negras. Eles romperam portanto com a história dos pais, dos avós, dos bisavós e, por isso mesmo, consomem muito, porque querem se afastar a qualquer custo, como faria qualquer pessoa no lugar deles, do histórico de marginalidade que sempre existiu. Já temos várias pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, do Ibope, do Boston Group, muitos dados, sobre essa nova classe C. Ela sabe que não é miserável, mas tem medo da queda. Por isso mantém uma rede de relações que, em caso de qualquer liquidação, por exemplo, uma família avisa a outra e rapidamente vão ao consumo. Eles não consomem produtos populares, ao contrário do que se possa imaginar. A classe C compra produtos de marcas top e Premium, TV de plasma, celular, carro, imóveis na periferia. É muito consumista, espantosamente consumista. Essas famílias são conservadoras em termos religiosos e de hábitos sociais, desconfiam de tudo que é público, são conservadores politicamente e não por ideologia.
É o medo de perder as conquistas?
Exatamente. A nova classe média tem muito receio de cair de novo, por isso não vota em candidatos que signifiquem ruptura, que demonstrem alguma tendência de mudar a ordem pública. É importante ressaltar que esse grupo não se prende a curral eleitoral e essa talvez seja uma característica nova no jogo político nacional. Nunca antes tivemos um grupo com características assim. Só votam em quem garante a ascensão social, ou seja, querem garantias de que vão continuar comprando e que vão pagar as dívidas, porque 60% já estão endividados e 40% desse total não sabem o que fazer para pagar esses débitos. E a segunda característica é que eles não votam em quem propõe ruptura. E nesse sentido, o Lula cai como uma luva para esses anseios. Mas não como idolatria, é fundamental dizer isso. Lula combina com esse pensamento pragmático da ascensão social e da manutenção da ordem vigente.
E, portanto, também a candidata apoiada por ele, Dilma Roussef.
O candidato dele – mostram várias pesquisas qualitativas – foi o próprio Lula. Esses estudos revelam que uma parcela significativa da classe C e das classes ainda mais baixas votaram no lulismo. E não por ignorância, não é um grupo inconsciente, mas eles identificaram em Dilma a continuação do lulismo. Eles sabiam que estavam votando num projeto que assegurava a ascensão da família, como eu já expliquei. Essa população tem letramento, tem acesso à informação. Não lê, é verdade, mas sabe o que está acontecendo e escolhe seus candidatos de forma bem egocêntrica. São famílias egocêntricas. Por exemplo, vão à igreja para conseguir o sucesso, por isso fazem muitas novenas e promessas. A religião é usada como uma estratégia de garantia e de estratégia da família.
Parece que isso muda então o lugar social da religião, não?
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