terça-feira, 21 de dezembro de 2010

trajetórias, momento e futuro

A(s) blogosfera(s) brasileira(s) – trajetória recente, momento atual e próximos passos


Jornalismo B

O último final de semana foi tempo de uma nova polêmica – desculpem o eufemismo, o correto é “briga” – entre “blogueiros progressistas”. Blogueiros progressistas é como acabaram denominados os participantes de um encontro entre os blogueiros de esquerda, no meio do ano, além de outros que não puderam ou não quiseram estar presentes, mas fazem parte da mesma “rede” de comunicadores da web. A partir dessa mais recente briga o Jornalismo B traz, neste post, algumas considerações sobre a trajetória recente e o atual momento da blogosfera brasileira.

Se antes da campanha eleitoral algumas divergências entre os blogueiros “progressistas” já apareciam, com o processo de disputa presidencial essas diferenças se acirraram. Enquanto alguns faziam críticas à esquerda ao governo Lula e à candidatura Dilma, outros faziam defesas amplas da candidatura petista. Entre uns e outros, muitos na zona cinza.

Nesse ínterim, muitos blogueiros deixaram definitivamente de lado o jornalismo, trabalhando na web apenas como militantes – jornalismo e militância política não precisam estar separados, mas o abandono total do jornalismo e da militância programática em favor da pura militância partidária pode ser repensado. A divisão entre blogueiros mais críticos e propagandistas partidários – especialmente do PT – foi uma constante nos três meses de campanha. Essa diferença precisa ficar mais clara, porque a dificuldade de agregar blogs de propaganda com blogs de jornalismo é muito grande, e a consciência dessa importante diferença é um primeiro passo para que a conciliação e o trabalho coletivo possam acontecer.


O bloguismo não pode estar limitado à campanha eleitoral. As mais diversas formas de ativismo – político, cultural, etc. – precisam (e costumam) estar presentes, assim como a prática do jornalismo propriamente dito. A diversidade é o grande trunfo da internet contra o pensamento único da velha mídia, mas precisa estar aliada à noção clara e constante da importância do trabalho coletivo.

As divergências entre os diversos grupos começaram há tempos, se acirraram na campanha eleitoral e, a partir daí, tudo virou motivo para confrontos abertos, desde diferenças ideológicas até críticas construtivas. O episódio da entrevista do presidente Lula a blogueiros colocou mais lenha na fogueira. Alguns blogueiros fizeram críticas erradas aos organizadores e convidados, então alguns destes passaram a entender todas as críticas como levianas, como disputa de egos, até que essa disputa de egos finalmente passou a existir de verdade. Chegou-se a um ponto em que fiscalizamos uns aos outros com o mesmo empenho que fiscalizamos a velha mídia. Muitos blogueiros passaram a ver uns aos outros como inimigos, como o alvo preferencial.

Quanto mais rasa nossa capacidade de comunicação, menos nos diferenciamos dos demais. À medida que vamos conhecendo melhor o terreno onde pisamos e conseguindo comunicar, na web, cada vez com mais precisão o que pensamos e quem somos, também vamos descobrindo a diversidade, e precisamos nos acostumar com ela, pois a ideia de que somos iguais não voltará mais.

Se temos demandas em comum, é preciso que entendamos que é por elas que devemos lutar juntos. Nas diferenças, precisamos aprender a respeitar os diversos. Quando falamos em questões sociais, todos nós blogueiros “progressistas” – como ficou quase institucionalizado – ou blogueiros “de esquerda” – como prefiro me classificar – defendemos o respeito à diversidade de sentimento, de pensamento e de ação. Devemos praticar isso também em relação ao próprio meio no qual estamos aprendendo a conviver.

Outro discurso que temos em comum e que precisa ser aplicado “internamente” é em relação ao direito à crítica argumentativa e à horizontalidade da comunicação. Não podemos, em nossos blogs, reproduzir nem de longe qualquer lógica da velha mídia, a quem criticamos constantemente e que segue um modelo exatamente oposto a tudo o que defendemos todos os dias. Além disso, uns mais à esquerda, outros menos, temos conseguido ocupar a nova mídia brasileira, através dos blogs e das redes sociais. São as esquerdas que estão presentes de forma mais forte nesse meio, temos muita responsabilidade em nossas mãos.

Não podemos pretender uma unidade que não existe, e a crítica não pode ser entendida como um serviço a nossos adversários, caso contrário nos tornaremos nós mesmos adversários uns dos outros, invariavelmente. Muitas blogosferas brasileiras estão nascendo e ganhando corpo ao mesmo tempo. Não há apenas uma blogosfera, não há uma unidade ampla, e a grande dificuldade de cada uma dessas blogosferas é enxergar-se a si mesma e às outras com discernimento crítico, construtivo, agregador e solidário.

Postado por Alexandre Haubrich

Siga www.twitter.com/jornalismob e www.twitter.com/alexhaubrich

Nenhum comentário: