terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

balanços que sobem e descem, ufa(!)

Breve balanço desse início de governo


Nestes primeiros quase dois meses de governo Dilma, há alguns destaques positivos e alguns negativos a serem feitos.

Lado A



De nítida melhoria em relação ao seu antecessor, desponta na liderança o compromisso enfático com a defesa dos direitos humanos. Compromisso que a fez questionar inclusive algumas atitudes da política externa de Lula, como a relação com o Irã. Embora eu defenda a tentativa de intermediar o conflito no Oriente Médio, é preciso deixar claro um posicionamento inamomível de certas visões políticas. Isso inclui também a crítica aos jornalistas presos em Cuba, ainda que a situação não seja exatamente a que a grande imprensa tenta nos fazer engolir. De qualquer forma, qualquer restrição ideológica nesse sentido é preocupante. O que é preciso buscar é a difícil capacidade de estabelecer os mesmos critérios de avaliação para qualquer situação que se enquadre dentro de determinadas características. Louvo, então, o governo Dilma, por buscar esse ideal e, principalmente, a própria presidenta, que orienta pessoalmente essa política.

Ainda dentro do positivo, e cito só mais um fator para não me alongar muito, vejo a relação do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, com as mídias digitais. Já promoveu ou participou de mais de uma situação em que falou direta e exclusivamente para a rede, em detrimento dos jornais tradicionais. Não nega, contudo, o diálogo com nenhuma parte, o que também é positivo. Apenas ressalto a importância que dedica às formas alternativas de se fazer comunicação, como uma forma de mostrar que existem outros meios, que os jornais dos grandes grupos não são os únicos transmissores de informação. É uma forma de valorizar a pluralidade da disseminação da informação. Um incentivo a sua democratização. Ficamos no aguardo de políticas concretas nesse sentido, que já foram sinalizadas, mas ainda não efetivadas – e temos que dar um desconto pelo ainda curto período de governo.

Lado B



Mas não só de louros foram feitos esses primeiros dois meses. No aspecto negativo competem colados dois pontos de difícil aceitação. Um deles ainda é um tanto polêmico, mas outro é absolutamente repreensível e, em parte, contradiz o primeiro ponto positivo. Dilma compareceu ao aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, homenageando o jornal que lhe publicou uma ficha falsa como terrorista durante a ditadura e tentou a todo custo fazer com ela perdesse as eleições para o opositor, José Serra. O mesmo jornal que chamou a ditadura da qual a presidenta foi vítima de “ditabranda”. E Dilma nem precisava ter sofrido o que sofreu nas mãos de seus torturadores para fazer dessa pauta uma defesa incansável. Qualquer defensor dos direitos humanos que se preze, mesmo sem sofrer diretamente o aviltamento, não admite o tratamento que o jornal deu aos militares golpistas.

Na disputa pelo primeiro lugar (ou o último?), está o corte de 50 bilhões de reais no orçamento da União. Talvez até possa ser considerado necessário, de acordo com interpretações econômicas que não me sinto apta a fazer, mas estremece os que defenderam a política econômica de Lula com base na comparação com FHC. Era o presidente do investimento contra o do arrocho e da privatização. O corte faz acender a lanterna quando lembra da tão temida e assustadora palavra para os cidadãos brasileiros, que os fez ficarem desempregados e perderem poder de compra e, mais tarde, provocou terrível crise nos sistemas financeiros dos países mais desenvolvidos: o neoliberalismo.

Conjunto da obra

Dois meses ainda são poucos para se fazer uma avaliação do governo. Sabemos que é impossível seu desempenho ser totalmente positivo, mas, se a balança ficar equilibrada ou apenas levemente pendente para um dos lados, tampouco estará bom. É preciso que o governo Dilma Rousseff se destaque com folga pela execução de políticas públicas que beneficiem a maioria de seus cidadãos. Duas ações teriam peso decisivo no prato que responde pelos aspectos positivos: uma regulamentação concreta da comunicação e uma eficiente reforma política. A ver.

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Fotos: Roberto Stuckert Filho / PR – Dilma com as mães e avós da Praça de Maio;

Caio Guatelli / Folhapress – “A presidente Dilma Rousseff e o editor-executivo da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, se cumprimentam durante evento em comemoração aos 90 anos da Folha, na Sala São Paulo” (legenda da Folha)

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