domingo, 27 de fevereiro de 2011

outra da polícia, agora vem do Rio

Siron Nascimento: Os bastidores da polícia do Rio

Viomundo

Azenha,

Sei que o tema mais quente do momento é a Líbia. O que está acontecendo lá merece toda a nossa atenção, até mesmo para fugirmos da cobertura de nossa grande mídia que quer reduzir tudo a um simples movimento de internet, Facebook e twitter.

Porém, a reviravolta que está acontecendo nas forças policiais do Rio merece nossa atenção, ainda mais se lembrarmos como foi a reação entusiasmada – na minha opinião, exagerada – da grande maioria das pessoas, independente de sua sintonia política. À época, escrevi para você e o texto até foi publicado no blog [na época da ocupação do Alemão]; os comentários massacraram nossa posição de esperar para ver o que vai dar. Mas parece que a casa caiu, e a grande mídia, principalmente do Rio de Janeiro, está querendo minimizar sua importância.

Depois da Operação Guilhotina e da reação do ex-chefe da Polícia Civil em fazer uma devassa na Draco, ficamos à espreita de maiores informações e são bastante desencontradas e sem profundidade. Uma coisa, entretanto, ficou mais do que provada – mais uma vez, diga-se de passagem; que o crime organizado está intrinsicamente ligado com as forças policiais, seja PM ou Polícia Civil; que diversos políticos tem envolvimento com as milícias e vivem em uma verdadeira simbiose de interesses econômicos e políticos; que os agentes policiais extorquiam, roubavam e, quando contrariados, executavam traficantes. A Operação Guilhotina parece que vai dar em alguma coisa, mas e a devassa na Draco? As acusações foram sérias e nada mais é dito sobre isso…

O ex-delegado e ex-chefe da Polícia Civil RJ, Hélio Luz, sempre afirmava que não existia crime organizado no tráfico de varejo no Rio de Janeiro, pois quem organizava o crime era a própria polícia, que prendia, executava conforme seus interesses economicos. Ele falava isso há mais de 15 anos. Desde lá, por diversas vezes, sua tese foi comprovada e nada mudou. Será que agora vai mudar alguma coisa?

Eu tenho minhas dúvidas. No Rio de Janeiro, temos uma imprensa extremamente oficialista, que se vendeu por interesses economicos – sempre eles – que envolvem Copa do Mundo e Olimpíadas. É muito dinheiro envolvido; logo, os interesses do povo ficam em terceiro plano, pois, ainda em segundo, estão os interesses das classes mais abastadas em garantir sua falsa sensação de segurança (é só olhar atentamente o mapa de instalação das UPPs e o deslocamento dos criminosos para as periferias, Baixada fluminense, Baixada Gonçalina, Região dos Lagos).

Enfim, gostaria de fazer uma sugestão: uma série de reportagens sobre Segurança Pública. Peça a Conceição Lemes passar um mês aqui e entrevistar a galera séria que discute o tema: Orlando Zaccone (delegado), o pessoal da Justiça Global, Marcelo Freixo (deputado), Luiz Eduardo Soares (sociólogo), Vera Malaguti (jurista) entre outras pessoas e organizações sérias defensoras dos Direitos Humanos.
Isto não tem nada a ver em fazer uma matéria contra ou a favor sobre as UPPs, mas sim dissecar as instituições de segurança, suas atitudes, preceitos. Esta discussão já é mais que necessária, e se não for feita por blogs progressistas, nada podemos esperar da grande mídia. Infelizmente.

Abraços,
Siron Nascimento

PS do Viomundo: Faremos o que estiver ao nosso alcance.

Para ler o que o Siron escreveu naquela época, clique aqui.

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