quarta-feira, 11 de maio de 2011

como o "livre mercado" do etanol atrapalha o seu orçamento

Nas fórmula da USP, etanol deveria estar a R$ 1,71. Agora, a Petrobras intervirá, Que dirá o “mercado”?

Tijolaço



Como é que os nossos “libertistas de mercado” vão reagir à notícia que o Governo vai fazer a Petrobras, através da BR Distribuidora, forçar o mercado de etanol a voltar para patamares de preço razoáveis? Será que vão ter a coragem, diante das classes médias – agora “turbinadas” pela imensa ascenção social do segundo governo Lula – de ir para a tevê e os jornais dizerem que estamos quebrando os do altar do capitalismo ao usar o Estado e suas empresas para intervir no mercado e…baixar preço?

Ora, a liberdade de mercado é um valor que está longe de ser absoluto, e faz muito tempo. A fixação de limites para isso  tem mais de um século, e nasceu com a primeira lei antitruste dos  EUA, o Sherman Act, que veio justamente para proteger o mercado contra o poder de uma petroleira, a Standart Oil.

O que está acontecendo é absolutamente natural e intríseco à lógica pura de mercado. A demanda por combustível é não é elástica ao ponto de fazer com que, com o alto preço, as pessoas deixem de comprar ou adiem a compra, forçando a baixa. Pode cair, sim, mas os tanques de estocagem estão vazios, pelo início de safra e, como admitem os próprios analistas desse mercado, como admitiu ontem, no Valor Econômico, a pesquisadora do Cepea-USP, Mirian Bacchi, que montora estes preços: “diversos grupos estão acelerando a moagem, especialmente aqueles que precisam de caixa depois da entressafra. Algumas unidades precisam de dinheiro para pagar tributos e salários” .

Mas como é que isso pode garantir preço em baixa num setor com crescente concentração empresarial, inclusive estrangeira, como é  o da cana-de-açúcar. É evidente que os grandes complexos produtores jogam com o trinômio preço – capacidade de estocar -  fluxo de caixa. Idem, idem as grandes distribuidoras o fazem, porque são poucas e dominam o setor. E os postos, claro, depois de experimentarem ganhos maiores por litro vendido, por conta de aplicarem um percentual sobre os preços, resistem em estreitar estas margens. Em vários deles, ela chegou a 30%, quando, no ano passado, pouco passava de 10-12%.

A mesma pesquisadora do Cepea, Mirian Bacchi, publicou em 2006, no site da Unica – União dos Produtores de Cana de Açúcar de São Paulo – um cálculo do preço de comercialização, quando o preço era, na usina, de R$ 0,70 o litro.

Dizia ela:

“Suponha que o preço sem impostos do álcool na usina seja de R$ 0,70/l e que a margem total absoluta seja de R$ 0,50/l – valores reais médios aproximados dos últimos cinco anos para o Estado de São Paulo. Nesse caso, o preço cheio no varejo seria de R$ 1,20/l. Suponha que da margem absoluta total, R$ 0,28/l corresponda ao componente fixo e R$ 0,22/l ao componente variável.  Nesse caso, a seguinte igualdade seria verdadeira:

1,20 = 0,70 + 0,28 + 0,22

Portanto, o preço de comercialização seria de R$ 1,20 o litro de etanol hidratado.

Façamos agora a conta dos preços, de acordo com a fórmula da Dra. Mirian, para o preço de R$ 1,02 (arredondei para cima o R$ 1,0175 de ontem)  fechado ontem para o litro de etanol hidratado, segundo o próprio Cepea-USP no poderosíssimo entreposto de Paulínia, em São Paulo.

Corrigindo o custo fixo pelo IGP-M de janeiro de 2006 para março de 2011, aqueles R$ 0,28  passam a R$ 0,39. Os custos variáveis – impostos – não tiveram suas alíquotas mudadas e, portanto, variam na mesma proporção do produto: de R$ 0,70 para R$ 1,02 são 30% de variação. Passariam, portanto, a R$ 0,30.
Logo, a soma seria:

1,02 + 0,39 +0,30 = 1, 71

Se o distinto amigo ou amiga achar um posto de combustível vendendo etanol a este preço, abasteça e fuja rápido, porque vai ser formar um tumulto assim que a notícia se espalhar e todos os automóveis da cidade correrem para ele.

Mas não se preocupe, isso não vai acontecer.Não porque não haja, dentro da própria lógica do mercado livre, um dono de posto capaz de colocar este preço, com uns dois centavos a mais, e lucrar muito vendendo centenas de milhares de litros. Mas porque as cadeias de produção e suprimento são oligopolizadas e visam, como é natural para elas, lucros máximos. E forma, no rastro disso, uma esteira de pequenas espertezas.

Mas não é isso o que é bom para o país, nem para a sociedade. Nem bom, nem justo.

E o Estado é o único poder que se pode contrapor a isso. Seus instrumentos podem ser punitivos – e aí você se sujeita a entrar numa cadeia de autoridade-abuso-corrupção -favoritismo ou, pior, inação, como estamos vendo acontecer na ANP – ou usa a intervenção via empresas estatais.

E o nome do Estado nos combustíveis é um só, o que faz a direita tremer: Petrobras

É o que vamos ver acontecer  agora.

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