segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Déficit Zero

A Biblioteca Fechada

Onde encontrar pedaços partidos e perdidos no colo da paixão de aprender e ensinar?
O tempo e os seus ventos nos levam aonde nos querem ver chegar, mas não conseguimos ancorar.
Reconhecemo-nos impotentes para tornar iguais àqueles que a realidade social e econômica humanas tornou diferentes.
Qual a escola que a sociedade dos homens e mulheres, deste tempo, oferece às suas crianças? A nossa escola pública se apresenta como os colégios para crianças com privilégios sociais e econômicos?
Continuo me torturando com perguntas e respostas previsíveis. A estrutura social determina que as pessoas cumpram ou não seu destino!
Destino?
Nós somos o destino quando nos calamos e omitimos...
Os valores que a escola propõe às crianças são os apegos aos valores burgueses do individualismo, a promoção pessoal, a ascensão social mediante esforço próprio, a poupança, a segurança.
Pára, pára, grito no meu silêncio, estremeço o corpo e sacudo a cabeça tentando afastar tantas perguntas, é mais fácil responder um questionário de cem perguntas sobre matemática, decorando e exercitando muito, enchendo e enchendo folhas brancas de riscos, ou serão sinais, esses alunos e alunas nunca saberão da serventia humana de saber ler e escrever.
Mas sabem que precisam ler e escrever alguma coisinha para um emprego. Isto basta?
As questões fundamentais da humanidade não lhes pertencem e não são cultivadas, pois não existe prática coletiva entre nós.
Como praticar e teorizar uma práxis que não vivencio, nem sinto seu cheiro?
Pelo contrário, sinto um cheiro acre, áspero, fedentina insuportável do déficit zero porque a glória é conquistada em cima de corpos e sonhos. A pobreza não tem voz, nem tem vez, segue na coluna contábil dos gastos sem retorno. Paro minhas reflexões num curto-circuito, não estou atento a reunião e não entendo a correria, os risos, e as piadas, nem mesmo o mau cheiro, mas a biblioteca continua fechada.
Saudemos a escola pública com déficit zero.

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