E por quê?
Uma humanidade solidária, amorosa... construída com todos incluídos num mundo menos elitista, preconceituoso, autoritário e desigual, por la vida... siempre!
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ponto de vista (IV)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ponto de vista (IV): Ponto de vista Machado de Assis Conto PONTO DE VISTA Capítulo IV À MESMA Corte, 30 de outubro Muito velhaca é você. Então porque lhe... Anda agora aqui em casa um sujeito que nos foi apresentado há pouco tempo; qualquer outra moça ficava presa pelas maneiras dele; a mim não me faz a menor impressão.
terça-feira, 24 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez O DOUTOR JUVENAL URBINO tinha sido aos vinte e oito anos o mais cobiçado dos solte... Lutou em vão para que o lixo não fosse atirado aos manguezais, convertidos há séculos em tanques de putrefação, e para que fosse recolhido pelo menos duas vezes por dia e incinerado em algum lugar despovoado.
Tinha consciência da ameaça mortal que era a água de beber.
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Florentino Ariza tinha conhecido a rota dos galeões nas cartas de ... — Entrego a você as chaves da sua própria vida — disse.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (III)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (III): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Não foi preciso dizer-lho duas vezes. Dois dias depois, levou o ex-poeta ao seu p...
— Ia este ano à corte e esperava surpreendê-lo... Que duas criancinhas as minhas... lindas como dois anjos. Saem à mãe, que é a flor da província. Oxalá se pareçam também com ela nas qualidades de dona de casa; que atividade! que economia!...
Feita a apresentação, beijadas as crianças, examinado tudo, Luís Tinoco declarou ao Dr. Lemos que definitivamente deixara a política.
domingo, 15 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Conto: Uma Esperança
butekudus baitasar : Conto: Uma Esperança: Clarice Lispector têm dias que só queremos sentar e ouvir as palavras da Clarice enquanto pensamos na vida com esperança... acariciando a a...
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: E...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: E...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Essa era sua vida, quatro meses antes da data prevista para formaliz...
Sua prima Hildebranda Sánchez, dois anos mais velha do que ela e com sua mesma altivez imperial, foi a única que compreendeu seu estado logo que a viu pela primeira vez, por que também ela se consumia nas brasas de um amor temerário. Ao cair a noite conduziu-a ao quarto que havia preparado para ambas, e não entendeu como estava ainda viva com as úlceras de fogo que tinha no traseiro.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (II)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (II): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Os cinco fregueses jantantes voltaram a cabeça, quando Luís Tinoco começou a reci...
A política chama-me ao seu campo; não posso, não devo, não quero cerrar-lhe os ouvidos. Não! as opressões do poder, as baionetas dos governos imorais e corrompidos, não podem desviar uma grande convicção do caminho que ela mesma escolheu. Sinto que sou chamado pela voz da verdade. Quem foge à voz da verdade? Os covardes e os ineptos. Não sou inepto nem covarde.
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Os Bruzundangas - Capítulo I : Um grande financeiro
butekudus baitasar : Os Bruzundangas - Capítulo I : Um grande financeiro: Os Bruzundangas Lima Barreto Hais tous maux où qu’ils soient, très doux Fils. Joinville. São Luís. Capítulo I Um grande financeiro ...
Houve uma crise no ministério e logo ele foi nomeado ministro da Fazenda, com o orçamento que fizera votar. Foram tais os processos de contrabando que teve de estudar, tanto meditou sobre eles, que, um dia, telegrafou a um seu subalterno que apreendera um grande, um imenso contrabando e prendera os infratores, desta forma: “Fuzile todos”.
terça-feira, 10 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (I)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Aurora Sem Dia (I): Aurora Sem Dia Machado de Assis Conto AURORA SEM DIA Naquele tempo contava Luís Tinoco vinte e um anos. Era um rapaz de estatura meã, ...
Ah! meu amigo, dizia ele em caminho, não imagina quantos invejosos andam a denegrir o meu nome. O meu talento tem sido o alvo de mil ataques; mas eu já estava disposto a isto.
segunda-feira, 9 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Cruz e Sousa - Poesias Completas: Dispersas LXXXI ...
butekudus baitasar : Cruz e Sousa - Poesias Completas: Dispersas LXXXI ...: Cruz e Sousa Obra Completa Volume 1 POESIA O Livro Derradeiro Primeiros Escritos Cambiantes Outros Sonetos Campesinas Dispersas Julieta dos ...
Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.
Faz estrofes assim! E após na chama
Faz estrofes assim! E após na chama
Do amor, de fecundá-las e acendê-las,
Derrama em cima lágrimas, derrama,
Como as eflorescências das Estrelas...
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: F...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando...
"As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas." ... Dormiu sem saber, mas sabendo que continuava viva no sono, que lhe sobrava metade da cama, que jazia de costas na margem esquerda, como sempre, mas que lhe fazia falta o contrapeso do outro corpo na outra margem. Pensando adormecida pensou que nunca mais poderia dormir assim, e começou a soluçar adormecida, e dormiu soluçando sem mudar de posição na sua margem... e a despertou o sol indesejável da manhã sem ele. Só então descobriu que havia dormido muito sem morrer, soluçando no sono, e que enquanto dormia soluçando pensava mais em Florentino Ariza do que no marido morto.
butekudus baitasar : Victor Hugo - Os Miseráveis: Fantine, Livro Oitavo...
butekudus baitasar : Victor Hugo - Os Miseráveis: Fantine, Livro Oitavo...: Victor Hugo - Os Miseráveis Primeira Parte - Fantine Livro Oitavo — Desforra I — Em que espelho Madelaine contempla os cabelos O dia co...
O arbusto, quando a mão se lhe aproxima para lhe tirar a flor, estremece, e parece ao mesmo tempo esquivar-se e oferecer-se. O corpo humano participa um tanto desse estremecimento quando chega o instante em que os dedos misteriosos da morte lhe vão colher a alma.
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Las poetisas del amor... Adela Zamudio (Bolivia)
butekudus baitasar : Las poetisas del amor... Adela Zamudio (Bolivia): Las Poetisas del Amor (36) Poetisa feminista e educadora Quanto trabalho ela passa Para corrigir a falta de jeito Do marido e em casa, (deix...
Quando você está com uma mulher.
Faça amor com ela, não apenas faça sexo.
Diga a ela que você a ama, que é louco por ela.
Não basta beijá-la e entrar imediatamente.
Beije seu corpo inteiro,
explorando seus cantos.
Reconheça com seus lábios o que as roupas
não deixam você ver.
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (III)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (III): Ernesto de Tal Machado de Assis Conto ERNESTO DE TAL (Capítulo III) — Um palerma — é o que Rosina queria dizer quando defendeu a fidelidade...
Quem não tem cão, caça com gato, diz o provérbio. Ernesto era pois, moral e conjugalmente falando, o gato possível de Rosina, uma espécie de pis-aller, — como dizem os franceses, — que convinha ter à mão.
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: O...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... O grupo da Escola de Belas-Artes iniciou o concerto, em meio a um si...
Por pura experiência, sem fundamento científico, o doutor Juvenal Urbino sabia que a maioria das doenças mortais tinha um cheiro próprio, e nenhum tão específico quanto o da velhice. Ele o sentia nos cadáveres abertos em canal na mesa de dissecção, reconhecia-o mesmo nos pacientes que melhor disfarçavam a idade, e no suor da sua própria roupa e na respiração inerme de sua mulher adormecida.
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
butekudus baitasar : Love me tender
butekudus baitasar : Love me tender: Houston Person Album - The Party Houston Person - tenor saxophone Randy Johnston - guitar Joey DeFrancesco - organ Bertell Knox - drums ...
O triângulo amoroso, complicado pelos atos agressivos de alguns ex-confederados inescrupulosos, finalmente coloca irmão contra irmão.
butekudus baitasar : Conto: A Legião Estrangeira
butekudus baitasar : Conto: A Legião Estrangeira: Clarice Lispector "autora da terceira geração modernista (ou pós-modernismo), cujas obras apresentam uma estrutura não convencional, a...
"autora da terceira geração modernista (ou pós-modernismo), cujas obras apresentam uma estrutura não convencional, a qual inclui reflexões existências, monólogo interior; metalinguagem e outros elementos que tornam a leitura bastante desafiadora para leitores menos experientes. neste vídeo, a narração artística inclui a interpretação das personagens e efeitos sonoros que facilitam a compreensão, ampliando o alcance da obra - a coragem de ser o outro que se é"
butekudus baitasar : Los Poetas del Amor... Mario Benedetti (Uruguay)
butekudus baitasar : Los Poetas del Amor... Mario Benedetti (Uruguay): Los Poetas del Amor (105) Porque eu tenho você e não porque eu penso em você porque a noite está de olhos abertos porque a noite passa e e...
você é linda dos pés até a alma
É uma lástima que você não esteja comigo
quando olho para o relógio e são quatro
Porque eu tenho você e não
porque eu penso em você
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e eu digo amor
porque você é minha
porque você não é minha
porque olho para você e morro
e pior do que morrer
se não olhar para você amor
se não olhar para você
você é linda dos pés até a alma
É uma lástima que você não esteja comigo
quando olho para o relógio e são quatro
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (II)
butekudus baitasar : Histórias da Meia-Noite: Ernesto de Tal (II): As bodas de Luís Duarte Machado de Assis Conto ERNESTO DE TAL (Capítulo II) Veja o leitor aquela moça que ali está, sentada num sofá, e...
Uma moça que professasse ideias filosóficas a respeito do amor e do casamento diria que os impulsos do coração estavam antes de tudo. Rosina não era inteiramente avessa aos impulsos do coração e à filosofia do amor; mas tinha ambição de figurar alguma coisa, morria por vestidos novos e espetáculos frequentes, gostava enfim de viver à luz pública.
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: N...
butekudus baitasar : Gabriel G Márquez - O Amor nos Tempos de Cólera: N...: O Amor nos Tempos de Cólera Gabriel García Márquez continuando... No domingo de Pentecostes, quando levantou a manta para ver o cadáv...
Contudo, Fermina Daza não se deixou contagiar por seu humor sombrio. Ele bem que tentou, enquanto ela o ajudava a enfiar as pernas nas calças e lhe abotoava a camisa. Mas não conseguiu, porque Fermina Daza não era fácil de impressionar, menos ainda com a morte de um homem de quem não gostava.
quinta-feira, 25 de abril de 2024
governo de leis ou governo de vontades?
Os planos explícitos de tomar o poder à força
Por WILSON GOMES*
Bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis.
Os bolsonaristas lapidaram a convicção de que estão vivendo sob uma ditadura do Judiciário. Já estavam convencidos disso quando Sara Winter guiou seus exércitos num cerco de intimidação à sede do STF, para mostrar com foguetes e o rugir da multidão que maiores são os poderes do povo.
Ou quando Sérgio Reis, Zé Trovão, Roberto Jefferson e tantos outros propagavam uma peculiar teoria democrática segundo a qual o povo bolsonarista havia adquirido o direito moral de coagir, intimidar e punir os membros do Poder Judiciário pelo crime de impedir que o governo usasse o Estado como bem lhe aprouvesse. Uma crença alimentada pelo ex-presidente quando a cada contrariedade desferia impropérios contra juízes, explicava aos seus seguidores que era decente desrespeitar a Corte e prometia que cedo ou tarde iria medir forças com o tribunal e mostrar quem é que realmente mandava neste país.
Toda vez que o Judiciário impediu Bolsonaro de violar direitos, abusar do poder ou desrespeitar a lei, isso foi interpretado como prova de uma atitude ditatorial. Segundo o bolsonarismo, quem vence uma eleição presidencial ganha o direito de moldar o Estado, a Constituição e a sociedade conforme seus projetos e caprichos. Como uns juízes que não foram eleitos se atrevem a contrariar um presidente eleito democraticamente sem violar a democracia?
Inúmeras vozes radicais de direita na esfera pública digital aprontaram o diabo durante a hegemonia do bolsonarismo. Colocaram em risco a população com mentiras e meias verdades durante a pandemia, espalharam o pânico moral para destruir a oposição às suas pretensões eleitorais, ameaçaram juízes do STF e suas famílias, atuaram deliberadamente para destruir a credibilidade do processo eleitoral brasileiro, mobilizaram pessoas para uma tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Mas cada vez que algum juiz do STF tomava providências para impedir aquele estado de coisas, compartilhava-se mais uma rodada de comprovação empírica de que uma ditadura togada varria a esfera pública para violar a liberdade de expressão dos bolsonaristas.
Nada há que possa ser feito contra golpistas ou sediciosos antidemocráticos que na leitura bolsonarista não sirva como comprovação do que já se sabe: estamos sob uma ditadura. Prender e processar os extremistas que foram incendiar os Três Poderes no 8 de Janeiro, naturalmente, não poderia ser compreendido de outra forma.
Não é à toa que foi exatamente nesses termos que Elon Musk se referiu a Alexandre de Moraes na semana passada: um ditador que tem Lula na coleira, aos seus pés. Moraes sintetiza para os extremistas de direita o Poder Judiciário que diz “não” aos seus apetites e vontades.
Muita gente andou dizendo que o ataque de Musk teria sido uma reposta a eventuais abusos do ministro. Não tenho recursos para julgar o mérito da alegação de que Moraes tenha cometido abusos e estou pronto a concordar que essa discussão mereça ser feita. Faço notar, entretanto, que a fórmula ideológica segundo a qual “qualquer ação que freie, controle ou puna Bolsonaro e o bolsonarismo é um ato indevido e antidemocrático” precede de muito os inquéritos do 8 de Janeiro ou a prisão de pessoas que usaram o espaço público para atacar o STF.
O bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis, é do seu DNA; embora só o segundo seja compatível com um regime democrático. Essa briga, desculpem, não é com Moraes, é com o que ele representa.
Bolsonaristas sempre alternaram, como em um game, entre o modo vitalista e o modo vitimista, conforme suas conveniências. Como todo extremismo de direita, gosta de exibir um “ethos” viril, afirmativo, arrogante, que despreza fracos e perdedores e passa por cima de qualquer força. Por outro lado, como um identitarismo de direita, adora mostrar-se perseguido, cercado de malignos e poderosos inimigos por todos os lados, uma minoria moral contra a qual se levantam as forças do mal em uma conspiração em que estão todos envolvidos.
A ideia da “ditadura do Judiciário” faz parte do modo vitimista que passou a ser predominante a partir de 2022. A figura do Malvado Alexandre, devorador de direitos e liberdades, implacável e sem coração, coaduna perfeitamente com o imaginário paranoico de uma facção que sente agora que está por baixo, mas que não faz muito tempo rugia e mostrava os dentes, ameaçava soltar as Forças Armadas contra os inimigos e fez planos explícitos de tomar o poder à força e colocar em correntes o próprio Alexandre de Moraes.
* Professor Titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma tragédia Anunciada"
Por WILSON GOMES*
Bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis.
Os bolsonaristas lapidaram a convicção de que estão vivendo sob uma ditadura do Judiciário. Já estavam convencidos disso quando Sara Winter guiou seus exércitos num cerco de intimidação à sede do STF, para mostrar com foguetes e o rugir da multidão que maiores são os poderes do povo.
Ou quando Sérgio Reis, Zé Trovão, Roberto Jefferson e tantos outros propagavam uma peculiar teoria democrática segundo a qual o povo bolsonarista havia adquirido o direito moral de coagir, intimidar e punir os membros do Poder Judiciário pelo crime de impedir que o governo usasse o Estado como bem lhe aprouvesse. Uma crença alimentada pelo ex-presidente quando a cada contrariedade desferia impropérios contra juízes, explicava aos seus seguidores que era decente desrespeitar a Corte e prometia que cedo ou tarde iria medir forças com o tribunal e mostrar quem é que realmente mandava neste país.
Toda vez que o Judiciário impediu Bolsonaro de violar direitos, abusar do poder ou desrespeitar a lei, isso foi interpretado como prova de uma atitude ditatorial. Segundo o bolsonarismo, quem vence uma eleição presidencial ganha o direito de moldar o Estado, a Constituição e a sociedade conforme seus projetos e caprichos. Como uns juízes que não foram eleitos se atrevem a contrariar um presidente eleito democraticamente sem violar a democracia?
Inúmeras vozes radicais de direita na esfera pública digital aprontaram o diabo durante a hegemonia do bolsonarismo. Colocaram em risco a população com mentiras e meias verdades durante a pandemia, espalharam o pânico moral para destruir a oposição às suas pretensões eleitorais, ameaçaram juízes do STF e suas famílias, atuaram deliberadamente para destruir a credibilidade do processo eleitoral brasileiro, mobilizaram pessoas para uma tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Mas cada vez que algum juiz do STF tomava providências para impedir aquele estado de coisas, compartilhava-se mais uma rodada de comprovação empírica de que uma ditadura togada varria a esfera pública para violar a liberdade de expressão dos bolsonaristas.
Nada há que possa ser feito contra golpistas ou sediciosos antidemocráticos que na leitura bolsonarista não sirva como comprovação do que já se sabe: estamos sob uma ditadura. Prender e processar os extremistas que foram incendiar os Três Poderes no 8 de Janeiro, naturalmente, não poderia ser compreendido de outra forma.
Não é à toa que foi exatamente nesses termos que Elon Musk se referiu a Alexandre de Moraes na semana passada: um ditador que tem Lula na coleira, aos seus pés. Moraes sintetiza para os extremistas de direita o Poder Judiciário que diz “não” aos seus apetites e vontades.
Muita gente andou dizendo que o ataque de Musk teria sido uma reposta a eventuais abusos do ministro. Não tenho recursos para julgar o mérito da alegação de que Moraes tenha cometido abusos e estou pronto a concordar que essa discussão mereça ser feita. Faço notar, entretanto, que a fórmula ideológica segundo a qual “qualquer ação que freie, controle ou puna Bolsonaro e o bolsonarismo é um ato indevido e antidemocrático” precede de muito os inquéritos do 8 de Janeiro ou a prisão de pessoas que usaram o espaço público para atacar o STF.
O bolsonarismo acredita num governo de vontades, não num governo de leis, é do seu DNA; embora só o segundo seja compatível com um regime democrático. Essa briga, desculpem, não é com Moraes, é com o que ele representa.
Bolsonaristas sempre alternaram, como em um game, entre o modo vitalista e o modo vitimista, conforme suas conveniências. Como todo extremismo de direita, gosta de exibir um “ethos” viril, afirmativo, arrogante, que despreza fracos e perdedores e passa por cima de qualquer força. Por outro lado, como um identitarismo de direita, adora mostrar-se perseguido, cercado de malignos e poderosos inimigos por todos os lados, uma minoria moral contra a qual se levantam as forças do mal em uma conspiração em que estão todos envolvidos.
A ideia da “ditadura do Judiciário” faz parte do modo vitimista que passou a ser predominante a partir de 2022. A figura do Malvado Alexandre, devorador de direitos e liberdades, implacável e sem coração, coaduna perfeitamente com o imaginário paranoico de uma facção que sente agora que está por baixo, mas que não faz muito tempo rugia e mostrava os dentes, ameaçava soltar as Forças Armadas contra os inimigos e fez planos explícitos de tomar o poder à força e colocar em correntes o próprio Alexandre de Moraes.
* Professor Titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma tragédia Anunciada"
segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
butekudus baitasar : Sarau... O perseguidor (b) - (Julio Cortázar)
butekudus baitasar : Sarau... O perseguidor (b) - (Julio Cortázar): El perseguidor Julio Cortázar (1914-1984) In memorian Ch. Seja fiel até a morte Apocalipse , 2,10 Ó, faça-me uma máscara Dylan Thomas co...
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