terça-feira, 27 de julho de 2010

Parabéns, Presidente! A esperança não é uma traição da realidade.

O Presidente Lula é possuidor de um carisma muito grande, entre todos, que de alguma maneira, ou por alguma razão, privam da sua palavra e suas reflexões sobre o Brasil. Começa por ser um senhor de cabelos brancos, a barba já não impõe nenhum medo, um andar calmo e curtinho como se não tivesse pressa em chegar, o que parece lhe interessar é o percurso e o caminho percorrido. Sua voz é tranqüila e clara, não deixa dúvidas sobre a sua intenção ao falar, seus olhinhos parecem sempre em busca de tudo que possa ser visto e aprendido na intenção de unir a ação com o pensamento.

Parabéns, Presidente!

Observo a mim mesmo, sou um homem com esperanças para o futuro dos meus filhos. Vivemos longe ainda de uma sociedade verdadeiramente democrática, sempre acreditei na possibilidade de construção de uma vida diferente, voltada para as práticas da conscientização, da inclusão, da autonomia, da participação, da auto-organização, da libertação, da alegria, da cidadania. Enfim, a construção possível de um mundo melhor.
Eis que estamos vivendo as manobras das forças reacionárias e progressistas durante o combate ou na iminência dele, se posicionam, medem as forças, granjeiam aliados, agrupam-se. Não existe lirismo neste combater nem sangramentos aparentes, as conseqüências estão depositadas no fazer ou deixar de fazer, os seus efeitos se concretizam nas maneiras arrogante para alguém ou nos desejos humildes de governar junto.
A mim parece importante chamar a atenção para quantas e quantas vezes sucumbimos frente a falas destrutivas e desesperançadas, que nos fragmentam e nos implodem em pequeninos pedaços voadores, transformando em poeira nossas tentativas íntimas. Nas muitas e mais tantas oportunidades em que isto acontece, não o sabemos se ocorre por intenção deliberada ou por não sabermos pensar e sentir diferente. Guardamos silêncio para o enfrentamento final quando o bem vencerá definitivamente o mal. Eis o imobilismo na crença que haverá somente um embate e que todos os desgastes dos afrontamentos anteriores se dão sem razão. Ao assumir uma posição critica e não lírica deixamos de assumir os defeitos e dificuldades dos outros para estabelecer parcerias razoáveis de comprometimento com a esperança, dentro de uma práxis libertadora do outro em mim que retorna ao outro que está fora de mim.
Não há fadas ou benfeitores, todos e todas nós precisamos caminhar com as próprias pernas, errando ou acertando que diferença faz, nos basta por ora o movimento. Parando vez que outra para estabelecer diálogos íntimos, produzindo alguns enfrentamentos pessoais, fixando regras de ação e deixando o coração livre para voar os maiores e melhores sentimentos da esperança, não se deixar vencer pela insônia do medo e ficar escondido. Levantar da cômoda cadeira e retirar o disco do toca-disco, virar o vinil e tocar o lado B, movimento e reflexão, quanta sonoridade no vinil, nem tudo que é novo supera em qualidade o antigo.
Não se opta pelo novo apenas como conseqüência da novidade, decide-se pelo novo através reflexão que temos do velho e do desejo de fazer nascer diferente do antigo.
Concordo, Presidente, aquilo que é novo, a notícia ou a colheita, não nos embaraça tanto, quanto o novo que chega pelas idéias de fazer diferente. Não se diz querer o novo das idéias por astúcia ou ingenuidade, pois tanto uma como a outra farão da novidade mentiras diárias. Cresceremos com as idéias do novo fazer e pensar, na discussão permanente entre mim e o eu, entre o eu e o nós, entre o nós e o todo, entre o todo e o que repito que é meu, pois sempre retorno ao início que sou eu. Minha dor não é nova, mas meu sorriso está diferente. Estou refletido em mim mesmo, clareando e esclarecendo minhas próprias perguntas. Sou astuto, ingênuo ou progressista, por ora, já me basta responder por está investigação, permanentemente atento, mesmo que sofrendo muito com o esforço, mas em movimento.
Somos energizados ao ouvi-lo, Senhor Presidente, acrescentaria eu, que superando estes papéis mágicos e autoritários, precisamos de novos olhares sobre o nosso quê fazer do nosso Brasil, sacudindo a poeira do tempo e descobrindo aos poucos um novo eu que já existia, permanecia escondido pela poeira da imperturbabilidade ingênua ou solércia medrosa.
Os astutos querem sentar o Presidente Lula na fórmica verde e menos dura e menos fria da sua cadeira pedagógica, se eu pudesse acabaria com a pedagogia. Pior que a possibilidade de matar as pessoas, é a maneira como transforma todos em bonecos de pau. É apenas parte da contenda. Eis o começo da traição aos miseráveis.
Sei, que através dos tempos, de acordo com os diferentes momentos históricos, tivemos construções importantes no sentido de transformar as práticas coercitivas, disciplinadoras, autoritárias. Podemos citar Gramsci com sua pedagogia crítica, Frenet com a escola nova, Makarenko com a pedagogia socialista, Paulo Freire com a pedagogia libertadora. Teria outros a recitar, mas me interessa perguntar, Eles foram traídos? Todos eles pensaram a partir da utopia da construção de uma sociedade baseada em princípios solidários, onde o ser humano estaria a serviço da construção desse ideário. Olhamos para o mundo, mas basta olhar para a África, América Latina, veremos a fome, as favelas, as desigualdades extremas e, talvez, tenhamos alguma resposta. Estamos treinando recursos humanos para as grandes corporações, a nossa sociedade assumiu seu papel de amestradora de mentes e adestradoras de corações.
Como pensar em solidariedade e, principalmente, como construir os conceitos de justiça e ética numa sociedade dominada pelo consumismo e individualismo? Não basta fazermos a leitura da realidade e dos saberes existentes em determinada comunidade. Até onde precisamos ir? Precisamos compreender como quem interpreta a sua própria realidade, não há outra saída, creio, a qual não seja estar junto das pessoas mais humildes, falar, dialogar, aceitar, meter a colher, mudar nosso modo de vê-los, deixar que nos ensinem e nos toquem, os criadores de monstros. Fazer, não para teorizar em cima de relatos em seminários, mas para mudar a nossa vida, muito mais que as da classe social dominante e que se diz, também, vítima.
Pensando assim, a esperança não é uma traição da realidade. Ela pode ser uma ferramenta de mudança desde que assim o façamos, ou melhor, desde que assim a entendemos, mas tudo isso exige disciplina e método. Dialético, com toda certeza.

Maromar

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