Saiu no dezoito com dezoito
ABC, ABC...
Tenho uma  proposta à Zero Hora. Proponho que, de agora em diante, os jornalistas e  demais profissionais por essa empresa contratados trabalhem em  contêineres. Sim. Afinal, quem realmente quer trabalhar, o faz em  qualquer lugar - e bem feito. Ora, o jornalista já passou horas na rua,  sob um sol escaldante - ou um frio de matar, como é o caso atualmente -,  correndo atrás daquela superpauta, então pode tranquilamente  acomodar-se num contêiner fresquinho para escrever sua matéria.  Fantástico. ABC, ABC...
É. É absurdo. A utilização de salas de  "lata" é uma medida extrema, provisória. Compreensível, raramente, mas  nunca permanente. Trabalhar dessa maneira em um contêiner beira o  absurdo - desumano. Yeda Crusius, nossa admirável governadora, há anos,  adota essa prática com escolas estaduais. Crianças são obrigadas a  suportar condições climáticas totalmente inapropriadas e que muito  inibem o aprendizado. As temperaturas são cálidas ou gélidas em demasia,  e poderiam servir como justificativa integral de qualquer desempenho  escolar. 
Pois bem. O jornal Zero Hora, que  escancaradamente mostra-se muito favorável à reeleição de Yeda,  conseguiu o inexplicável: interceder por essas escolas. Evidentemente,  de maneira escamoteada - porém bastante visível. A rebostagem,  que não foi assinada, foi publicada na página 26 da edição da última  terça-feira (dia 13 de julho) com o título de "Desafio vencido na  Serra". A matéria objetiva fixar a ideia de que pouco interessa se a  escola for de cimento, madeira, plástico, isopor. O que realmente  importa é a gana dos corpos discente e docente. A abordagem foi em cima  de uma conquista de um colégio caxiense, como informa o subtítulo:  "Alunos que estudam em salas improvisadas em Caxias têm a 4ª melhor nota  do Ideb na rede estadual". Em suma, Zero Hora enfatiza que a presente  mixórdia que é o ensino brasileiro assim é devido aos maus alunos e  professores. 
O jornalismo precisa ser  analisador e crítico. O que Zero Hora praticou chama-se propaganda  subliminar. Quem será que foi o "jornalista" que se submeteu a isso?  Acorrentou sua ética e submeteu-se ao interesse de uma empresa privada.  Poucas foram as referências às evidentes inconveniências. Quando feitas,  são logo justificadas, seja com texto corrido, seja com entrevistas  provavelmente escolhidas a dedo. Um contêiner instalado no fim da  Restinga Velha, bairro de Porto Alegre que recentemente ficou abaixo  d'água, poderia ser o novo escritório da Yeda. 
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