sábado, 15 de março de 2014

"malandragem" e o fundo do ralo


Guaraná Antártica e Neymar: o arroto do retrocesso


Fabio Chiorino em 14/03/2014


Neymar surge na tela e ensina os amigos estrangeiros a pedir um Guaraná Antártica em português. Só que aproveita a oportunidade e faz piada com os gringos nos bilhetes. Você já deve ter visto a propaganda. Se não viu, vá ao Youtube ou clique no vídeo abaixo, pois dificilmente voltará a ser exibida.





A Ambev diz que o comercial não irá mais ao ar, pois uma nova campanha estreia no próximo final de semana. Mas, obviamente, administra a pressão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), que pleiteiam a suspensão da peça.

Normalmente, sou contra esses pedidos. Afinal, falta, sim, bom humor para lidarmos com a propaganda brasileira. Nos Estados Unidos e na Europa, são comuns filmes que provocam o consumidor e atiçam a rivalidade entre as marcas. Algo saudável até para estimular a concorrência entre o público. Entretanto, nesse caso, não se trata de puritanismo.

Qual é o objetivo de reforçar um estereótipo que nos faz tão mal? A propaganda do Guaraná Antártica expõe uma característica deplorável do brasileiro: de zombar ou tentar levar vantagem em relação a um gringo que chega até o país. Explorar essa “malandragem”, muitas vezes enxergada como um traço cultural, será sempre um retrocesso. Ainda mais quando a mensagem é transmitida por uma marca extremamente popular e que é a patrocinadora oficial da seleção brasileira. Para piorar, fazemos isso às vésperas de receber milhares de estrangeiros para a Copa do Mundo.

A reciprocidade pode nos mostrar a diferença entre o bom humor brasileiro e a postura simplesmente babaca. Rirmos para a propaganda protagonizada por Neymar é, de certa forma, aceitar que façam o mesmo conosco assim que pisamos em um país desconhecido. Não me parece uma lógica inteligente. Se existe uma grande oportunidade em sediar a Copa do Mundo, além dos ganhos econômicos, é tentar mostrar ao mundo que não somos selvagens, malandros e preguiçosos. Mas se quisermos mais uma vez assumir esses rótulos, vamos abrir mais uma latinha e deixar que a discussão escorra para o fundo do ralo.

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