PREDILEÇÃO POR ROMANCES POLICIAIS
Esta foto surpreendeu a muitos contemporâneos de Lampião, pois o mostrava lendo. Ele se empenhava em ser fotografado com um livro ou uma revista na mão ou lendo os artigos publicados sobre ele na imprensa (…) Um artigo publicado em 20 de fevereiro de 1937 no Diário de Pernambuco menciona sua predileção por romances policiais e, em particular, os de Edgard Wallace e Georges Simenon.
”Esta foto, pouco convencional, mostra Lampião com seus óculos, cigarro na boca, o olhar voltado para baixo, numa pose natural, com seu uniforme de cangaceiro. Ao contrário da maioria das fotos em que posa, Lampião aparece com o fuzil ao ombro, a mão pousada sobre sua arma. Segura um exemplar do jornal O Globo, que trazia um artigo sobre ele. Sabe-se que freqüentemente solicitava jornais do Rio de Janeiro e do litoral nordestino que trouxessem notícias suas. Lia-os em público, comentava-os, manifestando satisfação ou ódio, de acordo com a situação. É provável que Benjamin Abrahão tivesse a intenção de tirar proveito de uma imagem como aquela junto ao diretor do jornal. Por outro lado, Lampião segura o jornal de manfeira ostensiva: aponta um artigo na primeira página, chamando a atenção do observador. Como contraponto a esse gesto, pressiona o gatilho de seu fuzil. Os poderes que o cangaceiro atribuiu a si mesmo são resumidos nessa foto: de um lado, o poder sobre os meios de comunicação; de outro, o poder das armas.” (Pág.137) ***** Benjamin Abrahão, 1939 coleção Ruy Souza e Silva, São Paulo, Acervo AbaFilm, Fortaleza ***** do livro “Cangaceiros”, de Élise Jasmin, editora Terceiro Nome.
”Setenta anos depois do primeiro clique que o mascate libanês Benjamin Abrahão fez do bando de Lampião, este livro publica pela primeira vez no Brasil um conjunto significativo de fotografias do cangaço. Benjamin Abrahão conquistou a confiança de Lampião e tornou-se o fotógrafo ‘oficial’ dele e de seu bando. Muitas de suas imagens, agora restaurdas, assim como de outros fotógrafos, nem sempre identificados, já foram amplamente publicadas na imprensa, mas nunca na extensão e com o tratamento gráfico que recebem agora” (trecho do texto de apresentação do livro )
Nenhum comentário:
Postar um comentário