Após avanço da BM sobre servidores, Assembleia vota projetos com público nas galerias
SUL 21
Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Luis Eduardo Gomes e Jaqueline Silveira
Avanço da Brigada Militar sobre servidores, cassetetes e spray de pimenta, além da detenção de três manifestantes, marcaram a manhã tumultuada na Assembleia Legislativa, que vota nesta tarde o aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a ampliação limite dos saques dos depósitos judiciais de 85% para 95%. Os projetos de extinção das fundações de Pesquisa e Produção em Saúde (Fepps) e de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul (Fundergs) não deverão ser votadas nesta terça-feira (22), já que o governo pediu a retirada do regime de urgência das duas propostas que trancavam a pauta. Chegou a ser permitido que o público acompanhasse a votação das galerias e do Teatro Dante Barone, mas pouco depois das 14h, os servidores decidiram que não ingressariam no Teatro, assistindo à sessão apenas no Plenário.
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No início da manhã, os servidores começaram a se concentrar em frente à Assembleia com apitos, cartazes e nariz de palhaço. A coordenação do movimento unificado aguardava na chuva para uma reunião com deputados da oposição para tratar do acesso ao plenário. Gradis separavam manifestantes do prédio Legislativo, protegido no início da manhã por 10 policiais – que horas depois já eram mais de 50. Os sindicalistas reclamavam que a liminar concedida na noite de segunda-feira (21) pelo TJ, garantindo a entrada da população no prédio, não estava sendo cumprida. Por volta das 10h, as lideranças sindicais foram liberadas para entrar e participar da reunião com deputados petistas.
Enquanto estavam reunidos no interior do Legislativo, ocorreu a primeira confusão. Manifestantes que estavam na Praça da Matriz derrubaram os gradis e avançaram em direção ao prédio. Rapidamente aumentou o cordão de policiais, que isolou a entrada no Legislativo. Alguns chegaram até o vidro e batiam exigindo o cumprimento da liminar do TJ e lembrando que a Casa é do povo. “Entra, entra”, gritavam os manifestantes, além de frases como: “Tu aí fardado também é parcelado”, “I,i,i, o Sartori vai caí”.
Depois de se reunir com os deputados petistas, a coordenação se juntou a outros parlamentares e ao presidente da Assembleia, Edson Brum (PMDB), para tratar do acesso das pessoas à sessão desta terça-feira. Os sindicalistas pediam a liberação do Dante Barone, que o presidente prometeu responder mais tarde. As lideranças reclamaram mais uma vez da restrição dos servidores ao Legislativo. Enquanto os servidores deixavam o encontro e a imprensa aguardava a reunião de líderes, a polícia, sob o olhar do comandante-geral da BM, Alfeu Freitas Moreira, avançou sobre os manifestantes com cassetetes e spray retirando-os da frente da Assembleia e os empurrando para a Praça da Matriz. Com isso, a polícia remontou a barreira. Foi um momento de muita confusão e tensão. Algumas pessoas passaram mal devido ao spray de pimenta, enquanto outras ficaram com os olhos irritados. Três manifestantes foram detidos, algemados e pelo menos um deles foi agredido no chão por vários policiais.
Servidores entregam liminar para acesso a votação | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Quando souberam da confusão, as lideranças sindicais desceram rápido e ficaram do lado interno da Casa, já que ninguém podia sair. “Estão batendo no colega, alguém do Sindicato vai”, pediu um deles, referindo-se a policiais que retiraram um manifestante para um lado. Um advogado do PSOL acompanhou os manifestantes que foram levados por duas viaturas. Lideranças sindicais reprovaram a conduta da BM.
Após o incidente, o tenente-coronel Mário Ikeda, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), afirmou que três manifestantes foram detidos. Ikeda também justificou a ação argumentando que um pequeno grupo tentou furar o bloqueio mantido por policiais no portão principal da AL. Durante a confusão, ao menos 100 policiais estavam no local, mas o efetivo foi reforçado em seguida, incluindo o apoio da tropa de choque.
Com o clima um pouco menos tenso, a coordenação voltou a se reunir com o presidente da Assembleia e ficou definido que 100 servidores poderiam acompanhar as votações das galerias, além de 40 pessoas que representam entidades empresariais também contra o aumento de impostos. Outras 140 ocupariam as galerias representando os favoráveis ao projeto.
Brum propôs a liberação também de 400 senhas para o acesso ao Dante Barone, a serem divididas na metade entre favoráveis e contrários ao aumento do ICMS, conforme determinação de liminar emitida pela Justiça após ação ajuizada por ex-dirigentes do Cpers. No entanto, o acordo exigia que as lideranças sindicais assinassem um termo assumindo a responsabilidade por tudo que ocorresse dentro do Teatro. Segundo Sérgio Arnoud, presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado do RS (Fessergs), essa condição era inaceitável e rejeitou a proposta. Com isso, a participação dos servidores na votação se resumiu a apenas as 100 pessoas que conseguiram fichas de acesso ao plenário.
Enquanto os donos de fichas entravam, o restante dos manifestantes – ainda vigiados de perto por centenas de policiais militares – permaneceram do lado de fora protestando com cartazes com os rostos dos deputados que votam “contra os trabalhadores”. Eles prometem aumentar a pressão na base eleitoral dos parlamentares da base aliada do governo Sartori.
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