Famílias atingidas pelas chuvas reunidas com militantes do MST em Alagoas
Por Rafael Soriano
Da Pàgina do MST
Com o desalojamento de milhares de famílias após as cheias dos rios Mundaú, Camaragibe e Paraíba, em Alagoas, e Una e Sirinhaém, em Pernambuco, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) arregaça as mangas para se solidarizar.
Além de 50 sacas de produtos da Reforma Agrária, como banana, macaxeira, feijão e farinha de mandioca, entregues ao Corpo de Bombeiro como primeira medida de apoio, os agricultores formaram duas frentes de solidariedade na Zona da Mata alagoana para ajudar tanto aqueles já parcialmente assistidos em abrigos públicos como os que permanecem nas áreas atingidas e em casas de familiares, negligenciados pelo poder institucional.
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A ajuda oficial só chega aos que estão em abrigos públicos, locais que acabam amontoando as famílias, seus animais e muito lixo. O resultado é que muitas pessoas se recusam a esperar pelo apoio do poder público em locais com essas condições de insalubridade e deixam de receber a ajuda necessária para a reconstrução de suas vidas.
As frentes de solidariedade do MST em atuação na região de União dos Palmares e Murici mantêm o diálogo com os atingidos para, além de contribuir materialmente com alimentos e roupas (há uma perspectiva de socialização de roças de assentamentos e acampamentos do estado inteiro), lembrar do contexto social e político em que as cheias acontecem.
Para rebater qualquer fatalismo que atribua à vontade divina os estragos na Zona da Mata, Débora Nunes, socióloga e integrante da direção nacional do MST, esclarece que “as enchentes são resultado da exploração canavieira. A Mata Atlântica foi sendo substituída pela monocultura da cana-de-açúcar ao longo dos anos. Tudo isso aliado ao êxodo rural, quando milhares de famílias foram expulsas das usinas e fazendas e foram sendo amontoadas nestas cidades, e ainda são taxadas como culpadas nestes momentos”.
Além disso, muitas famílias que viviam nas cidades e perderam tudo procuram acampamentos do MST. O Movimento continua cumprindo o papel social de abraçar aqueles que vêem, na terra, perspectivas de construção de uma nova vida.
Áreas de Reforma Agrária atingidas
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), junho e julho são tanto os meses mais chuvosos na região como, para os rios, os mais caudalosos. A vazão do leito do Mundaú, por exemplo, normalmente chega a triplicar no mês de julho. É sempre uma época de estragos para os mais pobres, desassistidos de qualquer política pública de habitação ou Reforma Agrária. Desta vez, os rios que passaram na enxurrada atingiram algumas áreas de assentamento e acampamento, complicando ainda mais o acesso por estrada - já difícil desde os tempos sem chuva.
Em Joaquim Gomes, o assentamento Santa Maria Madalena, acompanhado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), teve as roças atingidas pelas águas e a estrada danificada. Em Murici, o acampamento Santa Cruz foi o mais afetado. Entre as áreas organizadas pelo MST, as mais afetadas foram o assentamento Flor do Mundaú, que perdeu parte da produção e teve os serviços de energia elétrica interrompidos com a queda da rede, e o assentamento Santo Antônio, em que uma casa foi levada na enxurrada. Os prejuízos ainda estão sendo contabilizados nessas e outras áreas da região.
Além das áreas de Reforma Agrária, muitas comunidades que vivem da terra estão sofrendo com o isolamento, a exemplo da Comunidade Chapéu de Pena, em Santana do Mundaú, que teve as estradas interrompidas por muita lama, árvores caídas e partes levadas pela enxurrada. Ainda, a comunidade Filus, também em Santana, e a comunidade Taquari (em União dos Palmares) lançaram alertas para a sociedade, avisando dos problemas causados pelas chuvas e da escassez de mantimentos.
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