O espírito solidário de uma mulher de fibra
Tijolaço
Recebi hoje por e-mail uma matéria da revista Isto É, que conta a passagem de Dilma no Presídio Tiradentes, em São Paulo, para onde foi levada após as torturas na mão da repressão política, quando combatia a ditadura militar no Brasil, nos anos 70.
Dilma não explora este momento duro para se fazer de vítima, embora seus adversários o façam, com a pretensão de iludir os incautos, como se ser presa por convicções políticas libertárias fosse o mesmo que cumprir pena por um delito comum.Aliás, quem o faz são os mesmos que acham que espancar, torturar e até matar pessoas que estão indefesas, sob sua custódia, é algo que “deve ser entendido no contexto político” do período autorítário.
Naqueles tempos de treva, momentos tão duros e difíceis ganham, porém, uma força gigantesca e suave, no relato de suas companheiras de cela, que destacam seu espírito solidário, sua inteligência, seu humor e até sua falta de talento na cozinha.
Se, por acaso, houve alguma intenção de tentar arranhar sua imagem ao trazer seu passado de combate ao arbítrio, o tiro saiu pela culatra. E como! Dilma sai engrandecida pela matéria por seu companheirismo e dignidade em situação tão adversa. O contrário de quem, na primeira e mais leve dificuldade, não hesita em destruir, abandonar ou renegar os seus companheiros.
A matéria está lincada para quem quiser lê-la, mas destaco já duas passagens.
A primeira contada por uma de sua companheiras de cela, a advogada Rita Sipahi, sobre uma estudante de arquitetura que chegou ao presídio onde estavam, que é muito reveladora do caráter e da força de Dilma. “Quando a menina chegou da tortura, estava muito desestruturada emocionalmente. A Dilma ficou de olho nela o tempo todo para evitar que cometesse algum desatino.” Desatino, para quem não atinou, é estar tão tomado pelo horror da experiência brutal que a própria pessoa põe fim à vida, por incapaz de conviver com o trauma mental, além do físico, a que foi submetida.
A outra passagem remete sobre a beleza da solidariedade entre essas mulheres que tanto sofreram lutando por um Brasil livre da opressão. Essa é narrada pelos próprios autores da matéria. “Quando Dilma deixou o presídio, as companheiras de cadeia repetiram o ritual criado para o momento da libertação: cantaram “Suíte do Pescador”, de Dorival Caymmi, que começa com o verso “Minha jangada vai sair pro mar”.
Uma canção premonitória do quanto Dilma navegaria até chegar à condição, cada vez mais provável, de primeira mulher a ser eleita presidente do Brasil.
E o povo brasileiro também vai voltar, já está voltando, e a Deus do céu vamos agradecer.
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