Inicio citando Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem, Artigo I, “Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira”, mas a qual verdade esse poderoso poeta brasileiro se refere? Eu prefiro acreditar que ele clama para que a verdade dos miseráveis seja ouvida e tenha precedência no cotidiano das pessoas.
Encontrar esses miseráveis requerer esforço de humanidade e comprometimento com a vida de todos. Não é difícil encontrá-los se nos cabe algum vestígio do humanismo lógico, ético e sanidade. São todos aqueles com fome, são todas aquelas com sede, não só de comida ou água, mas de casa que possam chamar “meu lar”, precisam da escola menos preocupada com conteúdos formais de reprovação, bem menos comprometida com a mão-de-obra pedida pelo mercado do emprego, que existe despreocupado com benevolência, clemência ou compaixão. Esses e essas miseráveis precisam de pronto-atendimento a sua saúde, não agüentam mais jogos de empurra-empurra a responsabilidade. Precisam das pessoas que ainda conseguem ter esperança, eles já as perderam.
A desesperança destes miseráveis produz o poder da marginalidade dos bandidos comuns, insubordinados as leis, e dos bandidos políticos, submissos a corrupção, incompetentes, sem visão social de futuro, comprometidos apenas com o seu presente, escondendo seu o passado de decisões burras e mal-intencionadas. Mas não se limite a acusar quem decide ou já decidiu, pense em si mesmo no poder, O que você faria? Qual sua prioridade? Em quem você acreditaria e ofereceria seus momentos de dúvidas? O que seria mais importante fazer sem pensar em votos ou articulações políticas?
Não nos esqueçamos que os miseráveis querem ser vistos e reconhecidos com humanidade de desejos e sonhos. Têm o direito de serem visíveis num cotidiano de vida verdadeira. Ainda, existe tempo para nós, na busca do bem viver de todos, inclusive, e principalmente, desses miseráveis, mas esse tempo se escorrega. Escolham as causas, mas o resultado será o mesmo, as pessoas vivendo na marginalidade social da falta de moradia, saúde, trabalho, água, luz, esgoto e segurança, sob o manto protetor dos marginais bandidos e os fora-da-lei políticos que nos têm como reféns.
Talvez, já estejamos vivendo no inferno e não sabemos reconhecer nas nossas dores, nas mortes incompreensíveis do nosso dia após noite, noite após dia, que o lugar subterrâneo das almas está aqui. Talvez, o céu não exista.
A escola está toda enrugada, a saúde com infecção generalizada, a segurança emparedada, a justiça empilhada de processos e os miseráveis crescendo em número e desespero, mas não basta, criamos os automóveis, e eles nos passam por cima, os caminhões nos empurram para fora da estrada, a pornografia e a chanchada do grotesco fazem parte do cotidiano televisivo, o futebol planeja a copa do mundo, somos mortos por nossos filhos quando não os matamos antes.
Ainda, nos resta o dia das mães, dos pais, da criança, dos mortos, da professora, da vovó, do vovô, dos namorados, tem a páscoa, o natal, o carnaval, o sete de setembro, os vinte e um de abril, o primeiro de maio e o primeiro de abril, O que mais haveríamos de querer?
Deixam-nos para trás, desenterrando os ossos miseráveis da realidade inacabada e para sempre inconclusa. Voltamos ao já existido, para o útero das terras altas, onde as gentes graúdas são concebidas pra deitar o prumo naquilo que se agita de vontade de andar, aqui nas terras de baixo. Alagadas de gentes pequenas de miúdas, que não caminham, é a estrada que se mexe e lhes esgota os pés.
Os jovens, que ainda estão nas escolas e não são miseráveis, apesar da indiferença habitual deste cotidiano de más intenções e inaptidão, gostariam de saber se os jogos municipais escolares irão ser realizados neste ano, na cidade de Canoas, ou se teremos outro ano sem os jogos do CECA?
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