sexta-feira, 13 de maio de 2011

concordamos: vocês não podiam ficar de fora

Cuba, qué fea es Cuba!

Chapéu do Sol

Mas que grata surpresa! O grandioso Jornal do Comércio agora aparece de graça no saguão da faculdade, recém saído do forno. Podemos deliciar-nos com os textos picantes e cheios de sabedoria do Seu Brenol, bem como as nada preconceituosas tirinhas do Fernando Albrecht logo de manhã cedo, dividindo-nos entre isso e uma aprazível aula de sétimo semestre. Antes, vejam só, já contávamos com um Correio do Povo recheadíssimo de cultura e informação, apresentando-nos notícias em primeira mão com um grande grau de percepção jornalística e aprofundamento teórico. Ficaremos sentados esperando a Zero Hora, o jornal mais limpinho e ético do Rio Grande do Sul, que, descobri, possui uma política interna que impede sua distribuição dessa maneira.

Por conseguinte, com tanto bom jornalismo à nossa disposição, não podíamos ficar de fora. O retorno desse blogue já estava previsto para segunda-feira. Juntamente com o meu amigo e colega Daniel Legal, numa matinal e corriqueira boemia, decidiu-se tentar outra vez. Cada vez menos esteriotipados – principalmente sem tachações relacionadas ao comunismo, a Cuba, à nossa barba volumosa, ou qualquer outra coisa desse tipo -, queremos apenas apresentar textos com o mínimo da decência que sirvam à reflexão ou distração. Sem mais planos mirabolantes e deadlines obrigatórios, o Chapéu do Sol caminha em direção ao bom senso, na função de um (anti) jornalismo diferente. O Jornal do Comércio, então, acabou por adiantar um pouco o nosso retorno fantástico.

Anteontem, ou seja, na terça-feira, dia dez de maio, escamoteei uma Zero. Interessou-me uma reportagem na editoria de Mundo, localizada na página 26: “A ilha muda – Cubanos vão poder viajar”. Ao ler “Cuba” numa Zero Hora, imediatamente mexem-se as antenas. “Só quero ver que porra escreveram sobre Cuba!”, pensa-se. E, antes de continuar essa habitual postagem, convém ressaltar a minha própria controvérsia sobre a dificuldade dos cubanos de saírem do país. Vê-se, ninguém aqui cerra os olhos de tal maneira, porém tampouco manipula. O fato é que, desde as constantes atualizações políticas na ilha, a grande mídia, por vezes, chega a tratar de Cuba mais brandamente. Ao invés de “ditadura comunista”, como é de costume, a linha de apoio da ZH trouxe “regime socialista”. Vejam só!

Tal matéria não renderia uma postagem nossa. Zero Hora já fez coisas bem piores. Seu erro mais crasso foi abrir um subtítulo intitulado “Objetivo é tirar país da crise econômica” e manipular essa informação de tal forma que, pra não dizer que não o fizeram, reservaram uma mísera linha que trata do “embargo americano de 1962″ e que, mesmo assim, não diz nada. É a típica matéria não assinada fadada à lixeira, embrulho de peixe ou forro para a casinha do meu cachorro. Não podemos esperar mais nada de um periódico que, nesta mesma edição, publica um artigo de um padre sobre a união homoafetiva. Um tal de Gerson Schmidt, que, além disso, é jornalista.

Para a minha não surpresa, e conforme eu já havia explanado, foi o JC que rendeu, no entanto. Ainda mais o seu sempre valoroso editorial. De ontem, quarta feira, onze de maio: “Quem diria, Cuba está mudando rumo ao modelo de economia de mercado (…) como na China, onde deu certo”. Daqui a pouco os cubanos estarão sofrendo com controle de natalidade. O autor do texto escreve como se fosse a maior autoridade dentre os cubanos. Ignora a porra do bloqueio econômico ao citar a economia cubana como “profundo atoleiro”, além de, principalmente, colocar-se no lugar de um jovem cubano sedento por vida, liberdade, libertinagem e consumo. O prostíbulo que antes era Cuba, e a admiração desse povo para com os líderes da revolução sequer são assuntos mencionados.

“(…) Fidel foi endeusado pelos jovens da época, que se identificavam com os barbudos da Sierra Maestra. No Entanto, conforme se tornavam adultos, desejavam consumir, ter moradia e automóvel próprios, o encanto se dissipava e Cuba virou apenas uma curiosidade”, escreveu o editor. A profecia também dá conta que Che Guevara não morreu e mora escondido numa mansão em Cuba, com quatro prostitutas importadas dos Estados Unidos ao seu dispor. Tudo com o dinheiro dos herdeiros do Stálin. E assim tem-se início o romance mais esperado de 2011, a ser lançado pela Integrare Editora lá por novembro.

“Cuba mudará, como a China. ‘Cuba libre’, nos anos 1960, era uma frase e uma bebida da juventude brasileira. Hoje, é apenas o sonho dos jovens cubanos”. E o meu sonho é ter o dom da adivinhação.

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