América Latina
Houtart: Governos progressistas formam consenso frágil e correm perigo
publicada segunda-feira, 17/02/2014 às 11:31 e atualizada segunda-feira, 17/02/2014 às 12:27
Escrevinhador
Houtart: Governos progressistas formam consenso frágil e correm perigo
publicada segunda-feira, 17/02/2014 às 11:31 e atualizada segunda-feira, 17/02/2014 às 12:27
Escrevinhador
Por Alan Tygel, Leonardo Ferreira e José Coutinho Júnior, pata a Página do MST
O filósofo marxista François Houtart, da Bélgica, em entrevista exclusiva à Página do MST, analisa os motivos da crise global, o impacto das recentes mobilizações de massa na sociedade e a importância da integração latino-americana para o continente. François esteve presente no 6º Congresso do movimento. Confira a entrevista:
Você afirma que as diversas crises que vivemos estão interligadas. O que conecta essas crises?
O que liga as crises é a lógica do sistema capitalista, que privilegia o valor de troca, dizendo que tudo deve ser mercadoria para contribuir na ganância e acumulação do capital. Essa lógica se aplica a todos os âmbitos da vida humana, influindo nas políticas agrárias, industriais, na relação com a natureza e submetendo tudo à lógica de reprodução do capital.
Estamos numa crise global, não só geograficamente, mas uma crise de sistemas, na relação com a natureza, do sistema alimentar, energético, climático etc.
A crise não é somente financeira ou econômica, é geral. Uma das coisas novas é a crise dos ecossistemas e do clima. O capitalismo desregula o equilíbrio entre a natureza e seres humanos. O ritmo de reprodução do capital é completamente diferente do ritmo da natureza, e como o capital impõe seu ritmo sobre a natureza, isso gera catástrofes naturais.
Os países socialistas também destruíram a natureza como no capitalismo. Porque o socialismo real também tinha essa visão de um progresso infinito e uma terra inesgotável. Por isso, nos últimos anos se desenvolveu o ecossosialismo em países da Europa, da América Latina, Venezuela em particular, com várias experiências de um modelo que respeite a natureza.
É um problema mundial. O capitalismo monopolístico está hegemonizando grande parte da economia latino-americana, e a concepção de desenvolvimento dos líderes políticos, mesmo nos governos ditos progressistas, não mudou.
Qual é esta concepção?
Há alguns anos moro no Equador. Rafael Correa, que é meu amigo e foi meu aluno, tem como concepção de desenvolvimento a modernização do Estado. Muito bem, modernizar a economia em essência é bom. Mas o que significa isso para ele? Significa investir em agrocombustíveis, monocultivos, transgênicos.
No Equador também há mais mineração, exploração do petróleo, grandes vias. Essa é a visão de desenvolvimento, que não pensa na realidade do país, no camponês, nos povos indígenas ou como construir pouco a pouco um desenvolvimento mais respeitoso da natureza e dos povos.
Esses fatores vão criar mais e mais conflitos, por alguns motivos. Primeiro, por parte do povo, que não compartilha dessa concepção de desenvolvimento, mas não tem força política. Segundo, o esgotamento deste modelo. Já se vê aqui no Brasil, na Argentina, que o modelo se esgotou, não é sustentável.
Além disso, os novos regimes latino-americanos se baseiam em um consenso popular. Houve um melhoramento real da situação dos mais pobres, mas dentro de uma concepção relativamente assistencialista de programas de combate à pobreza, programas que são bem organizados, mas que não fazem do povo um ator, e sim um cliente.
Assim, o consenso é muito frágil, pois se as condições da economia mundial mudam, se o preço das matérias primas ou das commodities baixam, isso afeta a possibilidade dos governos de ter políticas sociais, o que põe o consenso em perigo.
Como as recentes manifestações de jovens pelo mundo se inserem nesse cenário?
Essas mobilizações massivas são fruto das contradições do capitalismo. Claro que o Occupy é diferente dos indignados ou das manifestações no Brasil. Mas apesar de serem originadas da condição estrutural fundamental do capitalismo, a consciência desses manifestantes ainda é bastante superficial, não vai às causas do problema.
São reações justas, mas superficiais, pelo fato também que os protestos são uma reação mais de classe média ou média baixa urbana, não indo à raiz do problema. Por essa razão, não exercem um tipo de ação eficaz contra o sistema.
Esses protestos têm uma concepção anarquista, individual, e com pouca visão da necessidade de organização e ação política. Isso pode mudar, mas até agora, por exemplo na Europa, é muito claro que não houve nenhum impacto político concreto, a não ser reforçar a direita, o que não era a intenção.
É um sintoma importante, mas que não dá realmente uma resposta. As respostas vêm com análises mais claras das raízes do problema, uma formação e uma organização, senão é relativamente fácil de marginalizar esse tipo de protestos.
A não ser que a repressão a essas manifestações seja muito violenta para comover a sociedade, geralmente elas são reprimidas e não afetam a ordem.
É preciso que esses movimentos espontâneos se formem teoricamente, analisem as coisas mais a fundo e tenham juízo político mais adequado. Isso pode ajudar a uma transformação futura.
Qual deveria ser o papel das organizações de esquerda e movimentos sociais nessas mobilizações?
Há uma certa distância dos movimentos sociais com essas expressões de protesto novas. Me parece que é um pouco difícil dos movimentos sociais entenderem as manifestações, e os manifestantes não querem essa aproximação com medo de “serem dominados ou se perder”.
E como é um movimento urbano, é difícil para muitas entidades intervirem. Os sindicatos perderam muito de seu caráter revolucionário, e não vão poder trabalhar com estes jovens, pois isso é uma coisa nova.
Acho que talvez elementos jovens de um movimento mais radical, como o MST, possam ter um certo encontro com esses jovens, para ajudar a entender melhor a situação social que nos encontramos, e também fazer com que esses jovens entendam a situação do campo.
As organizações devem pensar em novas formas de luta e atuação?
Sim. Pensar nisso é uma reação contra a burocratização dos movimentos sociais. Esses protestos são uma chance para as organizações se autocriticarem frente ao problema de organização. É necessário para entender esses novos fenômenos que ocorrem agora.
É um processo que pode ajudar a uma transformação interna dos movimentos organizados, pois esses jovens chegam com novas ideias e valores que não devem ser condenados.
Você é um grande defensor da integração latino-americana. É possível hoje realizar essa integração, e como ela poderia alterar essa conjuntura de crises?
Devemos ser realistas. A Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac) é um milagre de Chávez, por conseguir reunir países com ideias tão opostas como México, Chile e Bolívia.
Devemos conhecer os limites dessas organizações latino-americanas que existem, mas é possível tomar várias medidas importantes. Por exemplo, seria possível fazer regras em conjunto no setor da mineração.
Não vamos impedir as transnacionais e a China de explorar minas, pelo menos por ora, mas podemos colocar regras. No Equador, as mineradoras canadenses se retiraram. Foram para o Peru porque há menos regras. Se existisse um acordo latino-americano de regras frentes as transnacionais de mineração, isso seria considerado uma força. O Equador sozinho não é nada.
Organismos como a Celac não têm muito poder. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) são mais expressivos. A Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) seria o ideal, pois é a única organização com um pensamento pós-capitalistas.
As outras organizações são pós neoliberais. A Alba tem princípios diferentes, mas é muito marginal. Tem 10 países, e 5 são do Caribe. A Alba não tem poder grande, e sua tendência, com Equador, Nicarágua, Bolívia, é ser menos anticapitalista.
Esses governos são pós neoliberais, mas não pós capitalistas. Ao mesmo tempo, penso que devemos insistir sobre a importância da integração e dos organismos, não sobrevalorizando ou deslegitimando seu papel.
Como você avalia a decisão da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) de considerar 2014 o ano da agricultura familiar?
Como todo organismo dentro das Nações Unidas, a FAO não vai ser revolucionária. A influência das forças econômicas e políticas nesse órgão é tal que a relação de forças não é a favor das ideias mais avançadas.
Mas devemos sempre aproveitar. É muito bom que uma parte da FAO apoie iniciativas de agricultura campesina. Em outubro fizemos uma reunião de agricultura camponesa na Bolívia, que contou com 40 especialistas e apoio dos movimentos camponeses e indígenas. O representante da FAO esteve presente e foi muito positivo.
O Papa Francisco também tem declarado apoio aos camponeses e à luta pela terra…
Todo novo Papa é uma mudança séria. Mas não podemos esperar que um grupo de cardeais muito conservadores pudesse eleger um papa revolucionário, era impossível. Mas elegeu o melhor entre os piores (risos).
Ele não vai pregar a Teologia da Libertação, mas é pastor, quer uma proximidade afetiva com os movimentos e os pobres. Isso é uma grande mudança. A adoção do nome de Francisco para um jesuíta é um passo forte.
É um sinal positivo. Podemos esperar que ele abra espaços, como essa reunião dos movimentos sociais e dos mais pobres em Roma. É positivo, mas não podemos esperar uma mudança revolucionária. Há sinais que demonstram o contrário, como eleger o cardeal de Honduras [Oscar Rodríguez Madariaga] como homem chave da reforma da igreja.
Por que?
O cardeal tomou posição a favor do golpe militar e é odiado pelos movimentos sociais. Ele é um homem da oligarquia tradicional, apesar de um discurso muito progressista e anticapitalista, suas práticas internas são problemáticas. Ele ser o eixo fundamental da reforma da igreja é um problema.
Alguns sinais desse tipo mostram uma ambiguidade, especialmente política. Os discursos do papa são anticapitalistas, mas contra o capitalismo selvagem, o que significa que há um capitalismo civilizado.
É típico da doutrina social da Igreja, mas não da Teologia da Libertação, que analisa a sociedade em termos de classes sociais. A doutrina da Igreja prega a união e colaboração de todos para chegar a um bem comum, sem ver a oposição estrutural das classes sociais.
Condena o capitalismo mais pelos seus efeitos do que pela sua lógica. Mas não devemos ser pessimistas, devemos estar felizes de que há mudanças e estar presentes nos espaços que se abrem, porque às vezes esses espaços podem ser mais importantes do que eles pensam.
Fotos: Pilar Oliva
Leia outros textos de Geral, Plenos Poderes
O filósofo marxista François Houtart, da Bélgica, em entrevista exclusiva à Página do MST, analisa os motivos da crise global, o impacto das recentes mobilizações de massa na sociedade e a importância da integração latino-americana para o continente. François esteve presente no 6º Congresso do movimento. Confira a entrevista:
Você afirma que as diversas crises que vivemos estão interligadas. O que conecta essas crises?
O que liga as crises é a lógica do sistema capitalista, que privilegia o valor de troca, dizendo que tudo deve ser mercadoria para contribuir na ganância e acumulação do capital. Essa lógica se aplica a todos os âmbitos da vida humana, influindo nas políticas agrárias, industriais, na relação com a natureza e submetendo tudo à lógica de reprodução do capital.
Estamos numa crise global, não só geograficamente, mas uma crise de sistemas, na relação com a natureza, do sistema alimentar, energético, climático etc.
A crise não é somente financeira ou econômica, é geral. Uma das coisas novas é a crise dos ecossistemas e do clima. O capitalismo desregula o equilíbrio entre a natureza e seres humanos. O ritmo de reprodução do capital é completamente diferente do ritmo da natureza, e como o capital impõe seu ritmo sobre a natureza, isso gera catástrofes naturais.
Os países socialistas também destruíram a natureza como no capitalismo. Porque o socialismo real também tinha essa visão de um progresso infinito e uma terra inesgotável. Por isso, nos últimos anos se desenvolveu o ecossosialismo em países da Europa, da América Latina, Venezuela em particular, com várias experiências de um modelo que respeite a natureza.
É um problema mundial. O capitalismo monopolístico está hegemonizando grande parte da economia latino-americana, e a concepção de desenvolvimento dos líderes políticos, mesmo nos governos ditos progressistas, não mudou.
Qual é esta concepção?
Há alguns anos moro no Equador. Rafael Correa, que é meu amigo e foi meu aluno, tem como concepção de desenvolvimento a modernização do Estado. Muito bem, modernizar a economia em essência é bom. Mas o que significa isso para ele? Significa investir em agrocombustíveis, monocultivos, transgênicos.
No Equador também há mais mineração, exploração do petróleo, grandes vias. Essa é a visão de desenvolvimento, que não pensa na realidade do país, no camponês, nos povos indígenas ou como construir pouco a pouco um desenvolvimento mais respeitoso da natureza e dos povos.
Esses fatores vão criar mais e mais conflitos, por alguns motivos. Primeiro, por parte do povo, que não compartilha dessa concepção de desenvolvimento, mas não tem força política. Segundo, o esgotamento deste modelo. Já se vê aqui no Brasil, na Argentina, que o modelo se esgotou, não é sustentável.
Além disso, os novos regimes latino-americanos se baseiam em um consenso popular. Houve um melhoramento real da situação dos mais pobres, mas dentro de uma concepção relativamente assistencialista de programas de combate à pobreza, programas que são bem organizados, mas que não fazem do povo um ator, e sim um cliente.
Assim, o consenso é muito frágil, pois se as condições da economia mundial mudam, se o preço das matérias primas ou das commodities baixam, isso afeta a possibilidade dos governos de ter políticas sociais, o que põe o consenso em perigo.
Como as recentes manifestações de jovens pelo mundo se inserem nesse cenário?
Essas mobilizações massivas são fruto das contradições do capitalismo. Claro que o Occupy é diferente dos indignados ou das manifestações no Brasil. Mas apesar de serem originadas da condição estrutural fundamental do capitalismo, a consciência desses manifestantes ainda é bastante superficial, não vai às causas do problema.
São reações justas, mas superficiais, pelo fato também que os protestos são uma reação mais de classe média ou média baixa urbana, não indo à raiz do problema. Por essa razão, não exercem um tipo de ação eficaz contra o sistema.
Esses protestos têm uma concepção anarquista, individual, e com pouca visão da necessidade de organização e ação política. Isso pode mudar, mas até agora, por exemplo na Europa, é muito claro que não houve nenhum impacto político concreto, a não ser reforçar a direita, o que não era a intenção.
É um sintoma importante, mas que não dá realmente uma resposta. As respostas vêm com análises mais claras das raízes do problema, uma formação e uma organização, senão é relativamente fácil de marginalizar esse tipo de protestos.
A não ser que a repressão a essas manifestações seja muito violenta para comover a sociedade, geralmente elas são reprimidas e não afetam a ordem.
É preciso que esses movimentos espontâneos se formem teoricamente, analisem as coisas mais a fundo e tenham juízo político mais adequado. Isso pode ajudar a uma transformação futura.
Qual deveria ser o papel das organizações de esquerda e movimentos sociais nessas mobilizações?
Há uma certa distância dos movimentos sociais com essas expressões de protesto novas. Me parece que é um pouco difícil dos movimentos sociais entenderem as manifestações, e os manifestantes não querem essa aproximação com medo de “serem dominados ou se perder”.
E como é um movimento urbano, é difícil para muitas entidades intervirem. Os sindicatos perderam muito de seu caráter revolucionário, e não vão poder trabalhar com estes jovens, pois isso é uma coisa nova.
Acho que talvez elementos jovens de um movimento mais radical, como o MST, possam ter um certo encontro com esses jovens, para ajudar a entender melhor a situação social que nos encontramos, e também fazer com que esses jovens entendam a situação do campo.
As organizações devem pensar em novas formas de luta e atuação?
Sim. Pensar nisso é uma reação contra a burocratização dos movimentos sociais. Esses protestos são uma chance para as organizações se autocriticarem frente ao problema de organização. É necessário para entender esses novos fenômenos que ocorrem agora.
É um processo que pode ajudar a uma transformação interna dos movimentos organizados, pois esses jovens chegam com novas ideias e valores que não devem ser condenados.
Você é um grande defensor da integração latino-americana. É possível hoje realizar essa integração, e como ela poderia alterar essa conjuntura de crises?
Devemos ser realistas. A Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac) é um milagre de Chávez, por conseguir reunir países com ideias tão opostas como México, Chile e Bolívia.
Devemos conhecer os limites dessas organizações latino-americanas que existem, mas é possível tomar várias medidas importantes. Por exemplo, seria possível fazer regras em conjunto no setor da mineração.
Não vamos impedir as transnacionais e a China de explorar minas, pelo menos por ora, mas podemos colocar regras. No Equador, as mineradoras canadenses se retiraram. Foram para o Peru porque há menos regras. Se existisse um acordo latino-americano de regras frentes as transnacionais de mineração, isso seria considerado uma força. O Equador sozinho não é nada.
Organismos como a Celac não têm muito poder. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) são mais expressivos. A Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) seria o ideal, pois é a única organização com um pensamento pós-capitalistas.
As outras organizações são pós neoliberais. A Alba tem princípios diferentes, mas é muito marginal. Tem 10 países, e 5 são do Caribe. A Alba não tem poder grande, e sua tendência, com Equador, Nicarágua, Bolívia, é ser menos anticapitalista.
Esses governos são pós neoliberais, mas não pós capitalistas. Ao mesmo tempo, penso que devemos insistir sobre a importância da integração e dos organismos, não sobrevalorizando ou deslegitimando seu papel.
Como você avalia a decisão da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) de considerar 2014 o ano da agricultura familiar?
Como todo organismo dentro das Nações Unidas, a FAO não vai ser revolucionária. A influência das forças econômicas e políticas nesse órgão é tal que a relação de forças não é a favor das ideias mais avançadas.
Mas devemos sempre aproveitar. É muito bom que uma parte da FAO apoie iniciativas de agricultura campesina. Em outubro fizemos uma reunião de agricultura camponesa na Bolívia, que contou com 40 especialistas e apoio dos movimentos camponeses e indígenas. O representante da FAO esteve presente e foi muito positivo.
O Papa Francisco também tem declarado apoio aos camponeses e à luta pela terra…
Todo novo Papa é uma mudança séria. Mas não podemos esperar que um grupo de cardeais muito conservadores pudesse eleger um papa revolucionário, era impossível. Mas elegeu o melhor entre os piores (risos).
Ele não vai pregar a Teologia da Libertação, mas é pastor, quer uma proximidade afetiva com os movimentos e os pobres. Isso é uma grande mudança. A adoção do nome de Francisco para um jesuíta é um passo forte.
É um sinal positivo. Podemos esperar que ele abra espaços, como essa reunião dos movimentos sociais e dos mais pobres em Roma. É positivo, mas não podemos esperar uma mudança revolucionária. Há sinais que demonstram o contrário, como eleger o cardeal de Honduras [Oscar Rodríguez Madariaga] como homem chave da reforma da igreja.
Por que?
O cardeal tomou posição a favor do golpe militar e é odiado pelos movimentos sociais. Ele é um homem da oligarquia tradicional, apesar de um discurso muito progressista e anticapitalista, suas práticas internas são problemáticas. Ele ser o eixo fundamental da reforma da igreja é um problema.
Alguns sinais desse tipo mostram uma ambiguidade, especialmente política. Os discursos do papa são anticapitalistas, mas contra o capitalismo selvagem, o que significa que há um capitalismo civilizado.
É típico da doutrina social da Igreja, mas não da Teologia da Libertação, que analisa a sociedade em termos de classes sociais. A doutrina da Igreja prega a união e colaboração de todos para chegar a um bem comum, sem ver a oposição estrutural das classes sociais.
Condena o capitalismo mais pelos seus efeitos do que pela sua lógica. Mas não devemos ser pessimistas, devemos estar felizes de que há mudanças e estar presentes nos espaços que se abrem, porque às vezes esses espaços podem ser mais importantes do que eles pensam.
Fotos: Pilar Oliva
Leia outros textos de Geral, Plenos Poderes
Nenhum comentário:
Postar um comentário