Ditadura: militar diz que arrancava dedos, dentes e vísceras de preso morto
Mário Magalhães
21/03/2014 09:55
( O blog está no Facebook e no Twitter )
Em um dos mais importantes e verossímeis depoimentos já prestados por agentes da ditadura (1964-85), o coronel reformado Paulo Malhães afirmou que ele e seus parceiros cortavam os dedos das mãos, arrancavam a arcada dentária e extirpavam as vísceras de presos políticos mortos sob tortura antes de jogar os corpos em rio onde jamais viriam a ser encontrados.
O relato histórico do oficial do Exército foi feito à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e revelado nesta sexta-feira pelo repórter Chico Otávio.
Malhães se referia a presos políticos assassinados na chamada Casa da Morte, um imóvel clandestino na região serrana fluminense onde servidores do Centro de Informações do Exército detinham, torturavam e matavam opositores da ditadura. De acordo com o coronel, os cadáveres eram ensacados junto com pedras. Dedos e dentes eram retirados para impedir a identificação, na eventualidade de os restos mortais serem encontrados. As vísceras, para o corpo não boiar.
Veterano da repressão mais truculenta do passado, Malhães figura em listas de torturadores elaboradas por presos. É ele quem assumiu ter desenterrado em 1973 a ossada do desaparecido político Rubens Paiva (post aqui).
Seu testemunho, sem vestígios de arrependimento, contrasta com o de aparente mitômano surgido em anos recentes. Malhães não é um semi-anônimo,mas personagem marcante para seus pares em orgãos repressivos e para presos políticos.
Dois trechos do seu depoimento à comissão, conforme reprodução de “O Globo'' (a reportagem pode ser lida na íntegra clicando aqui):
1) “Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora. Se jogar no rio, por exemplo, corre. Como ali, saindo de Petrópolis, onde tem uma porção de pontes, perto de Itaipava. Não (jogar) com muita pedra. O peso (do saco) tem que ser proporcional ao peso do adversário, para que ele não afunde, nem suba. Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.”
2) “É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, quando morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro.”
Com a frieza de quem conta ter ido à padaria, Malhães afirmou, referindo-se ao local onde vive, a Baixada Fluminense: “Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui''.
( O blog está no Facebook e no Twitter )
Em um dos mais importantes e verossímeis depoimentos já prestados por agentes da ditadura (1964-85), o coronel reformado Paulo Malhães afirmou que ele e seus parceiros cortavam os dedos das mãos, arrancavam a arcada dentária e extirpavam as vísceras de presos políticos mortos sob tortura antes de jogar os corpos em rio onde jamais viriam a ser encontrados.
O relato histórico do oficial do Exército foi feito à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e revelado nesta sexta-feira pelo repórter Chico Otávio.
Malhães se referia a presos políticos assassinados na chamada Casa da Morte, um imóvel clandestino na região serrana fluminense onde servidores do Centro de Informações do Exército detinham, torturavam e matavam opositores da ditadura. De acordo com o coronel, os cadáveres eram ensacados junto com pedras. Dedos e dentes eram retirados para impedir a identificação, na eventualidade de os restos mortais serem encontrados. As vísceras, para o corpo não boiar.
Veterano da repressão mais truculenta do passado, Malhães figura em listas de torturadores elaboradas por presos. É ele quem assumiu ter desenterrado em 1973 a ossada do desaparecido político Rubens Paiva (post aqui).
Seu testemunho, sem vestígios de arrependimento, contrasta com o de aparente mitômano surgido em anos recentes. Malhães não é um semi-anônimo,mas personagem marcante para seus pares em orgãos repressivos e para presos políticos.
Dois trechos do seu depoimento à comissão, conforme reprodução de “O Globo'' (a reportagem pode ser lida na íntegra clicando aqui):
1) “Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora. Se jogar no rio, por exemplo, corre. Como ali, saindo de Petrópolis, onde tem uma porção de pontes, perto de Itaipava. Não (jogar) com muita pedra. O peso (do saco) tem que ser proporcional ao peso do adversário, para que ele não afunde, nem suba. Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.”
2) “É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, quando morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro.”
Com a frieza de quem conta ter ido à padaria, Malhães afirmou, referindo-se ao local onde vive, a Baixada Fluminense: “Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui''.
____________________
Paulo Malhães, o nome do coronel que comandou o sumiço do corpo de Rubens Paiva
21 mar 2014
Blog do Zé Dirceu
Desvendado um dos últimos mistérios que envolviam o destino final do corpo do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura: o coronel do Exército, Paulo Malhães (reformado), hoje com 76 anos, foi o comandante da operação para dar sumiço de vez aos restos mortais do ex-deputado.
Malhães havia dado entrevista ao O Globo há poucos dias, detalhando toda a operação, mas em off, exigindo que seu nome não aparecesse na reportagem. Em nova entrevista, esta publicada ontem pelo jornal O Dia – também do Rio -, o coronel autorizou a publicação de seu nome e assume ter comandado a “missão” para o desaparecimento do corpo de Paiva.
Malhães foi um dos mais ativos oficiais do Centro de Informações do Exército (CIE), nos chamados anos de chumbo, os mais tenebrosos da ditadura na década de 70. Ao O Dia, o coronel repete que comandou a operação secreta para ocultar os restos mortais do ex-deputado. Torna-se, assim, o primeiro militar a assumir participação no desaparecimento do corpo de Paiva, uma das mais conhecidas e emblemáticas vítimas da ditadura.
O coronel repete ter recebido, em 1973, uma ordem do Ministério do Exército – o ministro era o general Orlando Geisel, irmão do presidente general Ernesto Geisel – para desenterrar e sumir com os restos mortais do parlamentar morto dois anos antes sob tortura, no DOI-CODI-Rio. A confirmação dada ao O Dia e mais a permissão para que seu nome fosse divulgado levaram a Comissão Nacional da Verdade a convocá-lo para depor nos próximos dias.
Um cadáver que assustava os militares
Malhães conta que Paiva foi enterrado primeiro no Alto da Boa Vista, no Rio. Depois, por causa da construção de uma avenida no local e do temor dos militares de que o corpo fosse descoberto, foi exumado e enterrado novamente na praia do Recreio, também na capital fluminense. “Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo. Procuramos até que se achou (o corpo). Foi um sufoco para achar. Aí seguiu o destino normal”, diz ele ao O Dia.
Mas, ao contrário do que disse na entrevista ao O Globo, que o corpo de Paiva foi jogado em alto mar, ao O Dia o coronel não dá o destino final dos restos mortais.”Pode ser que tenha ido para o mar. Pode ser que tenha ido para o rio”, limita-se a dizer. Rubens Paiva foi preso e levado de sua casa no dia 20 de janeiro de 1971, por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronátutica (CISA). Também sua mulher, eunice, e uma filha de 13 anos, foram levadas e mantidas presas no DOI-CODI.
Ex-presos políticos e militares então na ativa e hoje na reserva contam em entrevistas e depoimentos que ele foi torturado na Base Aérea da Aeronáutica, no aeroporto Santos Dumont e na sede do DOI-CODI-Rio, onde não resistiu ao massacre e morreu. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) acusa dois militares de serem responsáveis diretos pela morte: o general José Antonio Nogueira Belham (ainda vivo) e o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho, falecido no ano passado.
Belham contesta a acusação e tenta sustentar que estava em férias quando Paiva morreu no DOI-CODI sob seu comando, mas as investigações já concluíram que ele suspendeu as férias, voltou ao local que comandava para cumprir uma “missão” e até recebeu diárias.
Desvendado um dos últimos mistérios que envolviam o destino final do corpo do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura: o coronel do Exército, Paulo Malhães (reformado), hoje com 76 anos, foi o comandante da operação para dar sumiço de vez aos restos mortais do ex-deputado.
Malhães havia dado entrevista ao O Globo há poucos dias, detalhando toda a operação, mas em off, exigindo que seu nome não aparecesse na reportagem. Em nova entrevista, esta publicada ontem pelo jornal O Dia – também do Rio -, o coronel autorizou a publicação de seu nome e assume ter comandado a “missão” para o desaparecimento do corpo de Paiva.
Malhães foi um dos mais ativos oficiais do Centro de Informações do Exército (CIE), nos chamados anos de chumbo, os mais tenebrosos da ditadura na década de 70. Ao O Dia, o coronel repete que comandou a operação secreta para ocultar os restos mortais do ex-deputado. Torna-se, assim, o primeiro militar a assumir participação no desaparecimento do corpo de Paiva, uma das mais conhecidas e emblemáticas vítimas da ditadura.
O coronel repete ter recebido, em 1973, uma ordem do Ministério do Exército – o ministro era o general Orlando Geisel, irmão do presidente general Ernesto Geisel – para desenterrar e sumir com os restos mortais do parlamentar morto dois anos antes sob tortura, no DOI-CODI-Rio. A confirmação dada ao O Dia e mais a permissão para que seu nome fosse divulgado levaram a Comissão Nacional da Verdade a convocá-lo para depor nos próximos dias.
Um cadáver que assustava os militares
Malhães conta que Paiva foi enterrado primeiro no Alto da Boa Vista, no Rio. Depois, por causa da construção de uma avenida no local e do temor dos militares de que o corpo fosse descoberto, foi exumado e enterrado novamente na praia do Recreio, também na capital fluminense. “Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo. Procuramos até que se achou (o corpo). Foi um sufoco para achar. Aí seguiu o destino normal”, diz ele ao O Dia.
Mas, ao contrário do que disse na entrevista ao O Globo, que o corpo de Paiva foi jogado em alto mar, ao O Dia o coronel não dá o destino final dos restos mortais.”Pode ser que tenha ido para o mar. Pode ser que tenha ido para o rio”, limita-se a dizer. Rubens Paiva foi preso e levado de sua casa no dia 20 de janeiro de 1971, por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronátutica (CISA). Também sua mulher, eunice, e uma filha de 13 anos, foram levadas e mantidas presas no DOI-CODI.
Ex-presos políticos e militares então na ativa e hoje na reserva contam em entrevistas e depoimentos que ele foi torturado na Base Aérea da Aeronáutica, no aeroporto Santos Dumont e na sede do DOI-CODI-Rio, onde não resistiu ao massacre e morreu. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) acusa dois militares de serem responsáveis diretos pela morte: o general José Antonio Nogueira Belham (ainda vivo) e o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho, falecido no ano passado.
Belham contesta a acusação e tenta sustentar que estava em férias quando Paiva morreu no DOI-CODI sob seu comando, mas as investigações já concluíram que ele suspendeu as férias, voltou ao local que comandava para cumprir uma “missão” e até recebeu diárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário